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Protestos na capital da Venezuela acabam em confrontos

Caracas voltou a ser palco de violência na tarde desta quarta-feira. De um lado opositores ao regime "chavista" de Maduro e do outro as forças de segurança incumbidas de travar os protestos. A situação no país é cada vez mais delicada.

18 de Maio de 2016 às 18:14
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O prolongamento do "estado de excepção e emergência económica" na Venezuela, bem como a garantia de vários governantes de que nenhum referendo popular revogatório da presidência de Nicolás Maduro será realizado, levaram milhares de manifestantes para as ruas de Caracas esta quarta-feira, 18 de Maio. Estes opositores ao regime "chavista" liderado por Maduro depararam-se, porém, com as forças de segurança que o Governo destacou com o objectivo de impedir protestos anti-regime.

 

O resultado foi o esperado: confrontos entre populares e as forças policiais, que já lançaram gás lacrimogéneo contra os manifestantes. Para evitar os protestos convocados pelas forças de oposição ao presidente Maduro, as forças de segurança cortaram mesmo o acesso a algumas das principais artérias do centro da capital venezuelana. 

A motivar estes protestos está a exigência, por parte da oposição, de que as autoridades aceitem agendar um referendo popular tendo em vista a revogação do mandato presidencial de Nicolás Maduro, que deu esta quarta-feira ordens expressas para que a Guarda Nacional Bolivariana impedisse que os manifestantes se aproximassem da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), sediada na Praça da Venezuela. A CNE é composta por elemento próximos do "chavismo". 

Contudo, o clima de grande tensão não se vive apenas em Caracas, mas um pouco por todo o país. A Venezuela atravessa uma grave crise económica e social decorrente, em especial, da forte quebra do preço do petróleo, a principal fonte de receitas do país (que representa cerca de 40% das receitas governamentais).

A Venezuela vive em estado de emergência desde o início de 2016, crise agravada pela forte seca dos últimos meses e que provocou uma importante escassez energética. Resultado? Por ordem governamental os relógios foram adiantados meia hora, para melhor aproveitamento da luz solar, a semana de trabalho foi reduzida para apenas dois dias de labuta e as donas de casa aconselhadas a não utilizar secadores de cabelo a fim de poupar energia. Todos os dias a energia é cortada, por períodos de tempo variáveis, na maior parte do país. Caracas, para já, tem sido uma excepção. 

Escassez alimentar, assaltos nas ruas e a todo o tipo de estabelecimentos comerciais, principalmente supermercados, inflação galopante, que se estima poder ultrapassar os 700% em 2016, são outros indicadores do actual estado da arte na Venezuela. 

Regresso dos confrontos 

O ambiente que se vive na Venezuela traz à memória os confrontos que em 2014 provocaram a morte de mais de 40 pessoas devido a manifestações que então também se multiplicaram um pouco por todo o país. Há assim medo de que a violência tome conta das ruas, até porque a cisão entre forças de oposição e o regime de Maduro nunca foi tão grande. Depois de nas eleições de Dezembro a Mesa de Unidade Democrática (MUD) ter conquistado a maioria no Parlamento venezuelano, a MUD tem vindo a acusar o "chavismo" de sabotar o regime político do país. 

O ex-candidato presidencial, Henrique Capriles, que é hoje o principal rosto da oposição a Maduro, não considerando os vários presos políticos, disse esta quarta-feira que estes protestos de Caracas mostram "o medo de Maduro em relação ao [referendo] revogatório". A MUD já garantiu que haverá mais protestos nos próximos dias, com o objectivo de forçar Maduro e a CNE a verificar a validade das assinaturas tendo em vista o pedido de realização do referendo revogatório. Uma verificação que está em risco pela pouca vontade das autoridades em realizá-la e a ser dificultada pelo actual curto período de trabalho semanal da função pública.

A oposição pretende forçar a CNE a convocar o referendo antes de 7 de Janeiro de forma a que os defensores do afastamento de Maduro possam garantir o agendamento de eleições presidenciais antecipadas. Para além das 1,8 milhões de assinaturas recolhidas - em processo de verificação pela CNE - é também necessário um mínimo de 200 mil signatários apoiantes do referendo revogatório com vista à validação do longo processo que só poderá ter sucesso se forem ainda recolhidas em torno de quatro milhões de assinaturas - cerca de 20% do eleitorado - favoráveis ao dito referendo.  

Na manhã desta quarta-feira a oposição, que detém maioria no Parlamento, rejeitou o prolongamento do estado de emergência, considerado um expediente de Maduro para reforçar os seus próprios poderes presidenciais. É que a oposição teme que Maduro aproveite o estado de excepção para restringir direitos cívicos e políticos, dificultando ainda mais o papel dos opositores do "madurismo". 

As manifestações de contestação a Maduro decorreram esta quarta-feira um pouco por toda a Europa. Em Lisboa também houve uma pequena concentração à frente da Assembleia da República. Um dos presentes em Lisboa foi Leopoldo López Gil, pai de Leopoldo López Mendoza, antigo candidato presidencial pelo Partido Voluntad Popular e que se encontra preso por motivos políticos desde 2014.  Leopoldo López Gil, que hoje apresentou o livro "Preso, mas livre", da autoria do seu filho, considera que "é uma questão de tempo até à queda de Maduro".

 
(Notícia actualizada às 19:00)

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