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Sócrates: Os imóveis que serviram para disfarçar transferências
Foram pelo menos nove os imóveis transaccionados por Carlos Santos Silva e que, de acordo com o Ministério Público, serviam para disfarçar a transferência de dinheiros para José Sócrates. Em Paris, Lisboa, na Beloura ou no Alentejo. A Sábado conta hoje os pormenores.
Cinco casas e um terreno pertencentes à mãe de José Sócrates e uma casa que era de Sofia Fava foram vendidos a Carlos Santos Silva, em alguns casos por valores acima dos praticados pelo mercado, e cujos valores acabaram, na maioria dos casos, por ir parar aos bolsos do ex-primeiro-ministro. Além disso, foi o empresário que financiou a compra do monte alentejano da ex-mulher de Sócrates e foi também ele que comprou a casa de Paris onde este viveu.
Na sua edição desta sexta-feira, com informação recolhida nas peças processuais da Operação Marquês, a revista Sábado sistematiza e revela pormenores dos vários negócios detectados pela Investigação e que esta usa como provas contra o ex-primeiro-ministro e o seu amigo de Juventude, Carlos Santos Silva, ambos em prisão preventiva.
A casa de Paris, para onde Sócrates foi viver depois de perder as eleições e onde se dedicou a estudar filosofia, foi o imóvel mais caro e foi pago em duas tranches pelo empresário, num total de quase três milhões de euros. Mais tarde foram gastos mais 480.240 euros em obras, as quais terão sido acompanhadas de perto por Sócrates. Assistiu à assinatura do contrato com o gabinete de arquitectura, escolheu materiais e terá tomado decisões sobre as alterações a realizar, com a ajuda da sua ex-mulher, Sofia Fava, que à data também residia na capital francesa.
Paula Lourenço, advogada de defesa de Santos Silva, garante que se tratou apenas da cedência para habitação temporária de um amigo. E que a compra da casa foi um negócio como outro qualquer, encontrando-se actualmente à venda por 3,9 milhões de euros, acima dos cerca de 3,5 milhões gastos.
Por cá, outros imóveis foram também transaccionados, para a transmissão de fundos entre um e outro, acredita o Ministério Público. Ou seja, não terão passado de simulações de vendas. Dois apartamentos no Cacém com os quais não fez nada (não os chegou a arrendar, por exemplo), uma casa em Lisboa, na Rua Braamcamp, um andar na Soeiro Pereira Gomes, outro na Rua Manuel da Fonseca, um terreno para construção na Quinta da Beloura. Terão sido pretensas aquisições de imóveis à mãe de Sócrates, Maria Adelaide Monteiro, assim se justificando aí a entrada de fundos, os quais eram depois, quase de imediato, transferidos para as contas do filho.
Outro caso terá sido o de um apartamento em Lisboa vendido por Sofia Fava a uma sociedade chamada Gigabeira participada por uma outra da qual Carlos Santos Silva é accionista. Diz o Ministério Público que o preço pago, 400 mil euros, foi muito superior ao preço praticado em outras fracções do mesmo imóvel.
E foi Carlos Santos Silva quem serviu de fiador a Sofia Fava quando esta comprou, por 760 mil euros um monte no Alentejo. A compra foi financiada pelo BES e o empresário passou a pagar mensalmente uma avença de 4.650 euros a Sofia Fava. Fê-lo até Junho de 2014, sendo que, a partir daí, já com as investigações a ser reveladas na imprensa - também pela Sábado -, o valor passou a entrar na conta da ex-mulher de Sócrates através da do seu actual companheiro. Este, por sua vez, acredita o MP, estaria a ser financiado pelo empresário, que lhe passou um cheque no valor de 250 mil euros. Em avenças, Sofia Fava terá recebido cerca de 132 mil euros.
Tudo isto, sustenta o MP, com dinheiro que, na realidade, era de José Sócrates, que seria quem tomava todas as decisões sobre investimentos imobiliários. Um outro exemplo dado pela Sábado é a intenção do ex-primeiro-ministro de comprar uma casa em Tavira. Chegou a escolher uma e a oferecer, em seu nome e no de Carlos Santos Silva, um valor de 900 mil euros, que poderiam ser pagos de imediato. Aparentemente este negócio nunca se concretizou.