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Sócrates e Santos Silva: "A amizade não é crime"

As movimentações de dinheiros entre Carlos Santos Silva e José Sócrates eram apenas e tão-somente resultado da amizade que unia os dois. A defesa vai sempre por aí. O Ministério Público não acredita. A Sábado divulga esta quinta-feira os dados recolhidos pela investigação.

Negócios 05 de Março de 2015 às 12:18
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A lista é extensa e inclui de tudo um pouco, desde o pagamento do condomínio, viagens, férias, roupas e até prendas de Natal. Carlos Santos Silva, amigo de infância de José Sócrates, com o qual este terá começado a construir desde 2002 uma relação de "estranha cumplicidade", fez inúmeras transferências para o ex-primeiro-ministro. Segundo o próprio diz lembrar-se, entre o segundo semestre de 2011 e Novembro de 2014 terão sido mais de meio milhão de euros.

 

Na sua edição desta quinta-feira, a revista Sábado publica um longo e exaustivo trabalho em que revela os factos constantes dos despachos do juiz Carlos Alexandre e das várias peças processuais de Rosário Teixeira – o procurador que conduz a investigação – e dos advogados de defesa, estes últimos no âmbito dos recursos das medidas de coacção, que se encontram em apreciação no Tribunal da Relação.

 

A tese é que não é uma simples relação de amizade que justifica as transacções realizadas, ao contrário do que afirmam os advogados dos dois principais arguidos da Operação Marquês. Paula Lourenço, em defesa de Carlos Santos Silva sublinha, repetidamente que não só "a amizade não é crime", como "ajudar os amigos, com mais ou menos generosidade, não é contrário à lei e é um acto aprovado pela moral", refere a Sábado.

 

Essa amizade ter-se-á revelado das mais variadíssimas formas. Uma delas, a mais conhecida, tem a ver com a casa de Paris, adquirida pelo empresário e na qual Sócrates viveu. Foi uma "cedência para habitação temporária", sublinha Paula Lourenço no recurso.

 

Outra forma foram os repetidos empréstimos, muitos dos quais realizados com passagem prévia pela conta bancária de João Perna, o motorista, ou então em dinheiro vivo.  Os montantes assim passados a Sócrates, escreve a revista Sábado, eram muito variáveis e raramente se situavam abaixo dos cinco mil euros. Frequentemente ultrapassavam os 15 mil e houve mesmo casos de 50 mil euros. O ritmo seria "alucinante" e há um mês, em 2013, em que, refere a Sábado, Sócrates terá recebido entre os 90 e os 175 mil euros.

 

Nas conversas telefónicas escutadas pela investigação não se falava em dinheiro, mas sim em "livros" e em "fotocópias". Sócrates, diz o MP, não pedia, ordenava. Mais uma razão para os investigadores acreditarem que o dinheiro era, na realidade, seu, e que Carlos Santos Silva era apenas um testa de ferro.

 

A advogada contrapõe que, amigos como eram, não se justificavam cerimónias entre eles. E que a ideia sempre foi que mantivessem a discrição, já que Sócrates queria evitar especulações de que era o amigo que o ajudava a manter o seu estilo de vida. Em suma, eram apenas empréstimos.

 

Amigos compraram livros

 

Uma outra demonstração de amizade ao ex-primeiro-ministro terá sido protagonizada por um grupo que adquiriu, um pouco por todo o País, exemplares do seu livro "A Confiança no Mundo", através do qual publicou a sua tese de doutoramento. No despacho de pronúncia, Carlos Alexandre escreve, diz a Sábado, que Sócrates montou um esquema em que participou um grupo de amigos. E a revista cita nomes: André Figueiredo, Renato Sampaio, João Perna, Gonçalo Ferreira, Carlos Martins, Inês Rosário, Rui Mão de Ferro e Maria Lígia Correia. Haveria, depois, ramificações em diferentes pontos do País.

 

Carlos Santos Silva terá desembolsado 170 mil euros para a compra de cerca de 10 mil exemplares. O livro subiu para os tops de vendas e os amigos começaram a comprar em lojas com pontos de pagamento automático, como os hipermercados, para não levantarem suspeitas.

 

O arguido admite o seu envolvimento no esquema, mas, mais uma vez, deixa no ar a pergunta: é verdade que quis promover o seu amigo, mas isso é crime? É censurável? Talvez, mas crime não.

 

Prisão preventiva é pressão para Santos Silva falar, diz a defesa

 

Segundo a Sábado, a advogada de Carlos Santos Silva argumenta que o seu cliente está preso, não porque existam elementos que justifiquem a prisão preventiva, mas porque essa foi uma forma que o MP encontrou para o pressionar e o levar a falar. Uma espécie de tortura moderna, que talvez se alterasse caso o empresário renegasse o amigo, escreve Paula Lourenço, dando como exemplo o que aconteceu a João Perna, que passou da prisão preventiva à prisão domiciliária.

 

Rosário Teixeira contrapõe que nunca usaria tais métodos, a que apelida de bolorentos. E insiste que o problema é que tanto Sócrates como Santos Silva têm meios e amigos no estrangeiro que facilmente lhes permitiriam fugir a todo o momento, caso fossem libertados. 

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