Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Podemos ameaça implodir bipartidarismo fragilizado pela corrupção

O recém-constituído partido Podemos já lidera as intenções de voto e ameaça tornar real a iminente implosão do bipartidarismo espanhol. A corrupção mina a confiança dos espanhóis nos partidos do sistema, ao mesmo tempo que o Podemos reformula as propostas sobre a dívida.

03 de Novembro de 2014 às 13:43
  • 16
  • ...

A chegada do Podemos ao panorama político espanhol foi de rompante, sem aviso. Quando no passado dia 25 de Maio o Podemos, ainda apenas um movimento político, alcançou quase 10% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu (PE), surgiram os primeiros sinais de preocupação por parte dos partidos do "establishment", ou seja, do bipartidarismo que governa Espanha há mais de 30 anos.

 

Este fim-de-semana, quando foi conhecida a sondagem da Metroscopia para o El País, que dá a liderança ao Podemos com 27,7% das intenções de voto, soaram as sirenes em Madrid. Afinal o Podemos, não ficou em segundo lugar nas intenções de voto, como vinha sendo avançado pelos media espanhóis, alcançando mesmo a preferência da maioria dos eleitores.

 

Pablo Iglesias (na foto), figura carismática do Podemos, que assenta muita da sua intervenção na capacidade de transmitir via televisão mensagens fortes e simples, que o aproximem do cidadão comum, acabou por também ele recolher a preferência dos espanhóis quando questionados sobre o líder político que melhor os representaria. 

  

Há uma clara tendência de crescimento para o Podemos, que apenas em Outubro se oficializou enquanto partido após a assembleia fundadora do movimento no fim-de-semana de 18 e 19 de Outubro. Essa tendência foi entretanto justificada pelo PP e pelo PSOE com as notícias que envolvem membros destes partidos em casos de corrupção, algo que beneficia o Podemos e a sua índole anti-sistema.

 

Os desenvolvimentos mais recentes relacionados com a mega-operação anti-corrupção que levou à detenção, na passada segunda-feira, de 51 pessoas, entre as quais se contavam elementos do PP, terá contribuído para a queda a pique do partido do actual primeiro-ministro Mariano Rajoy. Nem o pedido de desculpas do primeiro-ministro a todos os espanóis parece ter atenuado queda da sua taxa de aprovação.

 

Naturalmente, o partido de Iglesias beneficia dos casos de corrupção que afectam o "centrão" espanhol, designadamente o PP, aproveitando estas notícias para, com um discurso anti-sistema e anti-corrupção, capitalizar nas intenções de voto. Mas a tendência de subida deste partido nas intenções de voto é uma constante e mantém-se apesar de a cada dia que passa este movimento estar cada vez mais solidamente a enraizar-se no sistema político de Espanha. 

 

Na sondagem para o El País de Outubro o Podemos teve 13,8%, contra os actuais 27,7%. Em Agosto tinha apenas 10,7%. Já o PP desceu de 30,2% para 20,7% e o PSOE de 30,9% para 26,2%. Outro dado que confirma o descontentamento dos espanhóis face ao sistema político são as intenções de voto consubstanciadas em votos em branco e pequenos partidos que atinge uma cifra de 18,2%.

 

O Podemos tem tentado mostrar aos espanhóis que não irá mudar se tiver o poder. Isso mesmo é o que o partido tem tentado demonstrar com a sua actuação no Parlamento Europeu, onde tem sistematicamente veiculado a sua oposição face aos principais partidos europeus. Além disso, algumas posições excessivamente conotadas com a extrema-esquerda, e que poderiam afastar alguns dos eleitores mais moderados do centro político espanhol, estão a ser revistas e actualizadas.

 

Possibilidade de governar leva Podemos a posição mais conservadora sobre a dívida

 

Se Pablo Iglesias se afirmou enquanto activista anti-sistema e admirador do "bolivarianismo", agora as posições do professor de Ciência Política da Universidade Complutense e actualmente eurodeputado, parecem ser mais conservadoras.

 

Aquando da campanha para Bruxelas, Iglesias defendia que Espanha devia "declarar o não pagamento" das parcelas da dívida pública e privada que viessem a ser considerada ilegítimas após a execução de uma auditoria independente às contas oficiais do Estado.

 

Entretanto, talvez por acreditar que a possibilidade de vitória em legislativas também depende da capacidade para garantir parcela importante dos eleitores mais moderados, os estatutos aprovados pelo Podemos em Outubro passado denotam uma meia volta no que diz respeito à solução para a dívida espanhola.

 

Numa das resoluções que foram votadas por perto de 40 mil simpatizantes, o Podemos defende agora a reestruturação da dívida. O documento aprovado assegura que "o objectivo não é não pagar a dívida", mas "promover na Europa, especialmente nos países periféricos, um processo de reestruturação ordenada da dívida". 

 

(Correcção: No décimo parágrafo, onde se lia República deve ler-se Estado)

Ver comentários
Saber mais Espanha Pablo Iglesias PP PSOE Mariano Rajoy Podemos
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio