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Itália entre eleições em Julho ou novo impulso a governo 5 Estrelas-Liga

A incerteza que por esta altura se vive na Itália dificulta a percepção daquilo que se passa verdadeiramente. Depois de pedir eleições já em Julho, o chefe político do 5 Estrelas, Di Maio, mostra-se disponível para colaborar com o presidente Mattarella, a quem queria destituir. Perfila-se nova tentativa de formar um governo anti-sistema 5 Estrelas-Liga.

Reuters
29 de Maio de 2018 às 22:12
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No mesmo dia em que o primeiro-ministro indigitado Carlo Cottarelli se reuniu com o presidente italiano Sergio Mattarella para falar da composição de um "governo neutro", e em que se avolumou a possibilidade de eleições antecipadas já em Julho, renasceu também a hipótese de Movimento 5 Estrelas e Liga se juntarem para um "governo de mudança".

Haver uma crise política pós-eleitoral em Itália é um cenário habitual na República saída da Segunda Guerra. Porém, considerar que o momento actual representa a maior crise política da República está cada vez mais longe de ser uma hipérbole.

Por partes. Esta terça-feira, Cottarelli esteve no Quirinal durante cerca de 30 minutos para apresentar a composição de um governo pró-europeu a Sergio Mattarella. Findo o encontro, foi anunciada uma nova reunião para a manhã desta quarta-feira.

Há duas leituras possíveis: Mattarella e Cottarelli não chegaram ainda a um consenso sobre o futuro elenco governativo; ou o presidente quis tempo para avaliar as possibilidades de um executivo chefiado pelo ex-director do Fundo Monetário Internacional (FMI) passar no Parlamento transalpino, um cenário que é altamente improvável.

Fontes do presidente garantiram que Mattarella estava somente a avaliar algumas questões relacionadas com a lista de nomes proposta por Cottarelli, mas tanto imprensa como analistas dividiram-se sobre as reais razões.

A dificultar ainda mais uma percepção apurada das reais circunstâncias estão as últimas afirmações do líder do anti-sistema, 5 Estrelas. Citado pelo La Repubblica, Luigi Di Maio lembrou que os italianos não querem um novo "governo técnico" e lembrou que no parlamento "existe uma maioria".

"Se se quer resolver esta crise e acalmar os mercados faça-se partir um governo que tem já um programa claro", atirou Di Maio num comício em Nápoles, reabrindo assim a porta à formação de um executivo de coligação com a Liga de Matteo Salvini. O "grillino" disse mesmo estar pronto para "colaborar com Mattarella". Antes destas declarações, Di Maio havia pedido a destituição do presidente Mattarella – intenção que ao final da tarde deixou cair – e apelava ao regresso às urnas.

 

Governo técnico não passa no Parlamento

No domingo, Giuseppe Conte abdicou da incumbência de formar governo ante a rejeição de Mattarella ao nome escolhido para ministro da Economia e Finanças – Paolo Savona. Di Maio e Matteo Salvini criticaram a intransigência do presidente apesar das cedências feitas a nível programático, em especial o abdicar da criação de mecanismos preparatórios da saída da moeda única.  

 

Savona é um académico com posições eurocépticas mas que não defende a saída da Itália da Zona Euro. Sugere sim que qualquer país deve ter preparado um plano B para o caso de a união económica e monetária falhar. A rejeição de Mattarella é vista pelo 5 Estrelas e pela Liga como uma cedência inaceitável aos ditames de Bruxelas.

Perante a posição inflexível de Mattarella, 5 Estrelas e Liga – que dispõem de maioria absoluta no parlamento – votarão seguramente contra qualquer governo de iniciativa presidencial que venha a ser apresentado. Cottarelli tinha-se proposto formar governo para aprovar um Orçamento para 2019 e depois abrir caminho a eleições no início do próximo ano.

Mas, sem aprovação do parlamento, Cottarelli chefiaria um executivo em funções, ficaria limitado à gestão corrente e seria incapaz de aprovar um Orçamento. Desta forma, o principal objectivo de Mattarella não ficaria salvaguardado.

Este conjunto de indefinições contribuiu para que os mercados entrassem em pânico, em vez de se acalmarem como pretendido no Quirinal. Os juros da dívida pública transalpina de curto prazo (dois anos) caíram para máximos de seis anos e a bolsa de Milão chegou a perder 3,7% na sessão.  

"Não há nenhuma justificação para aquilo a que assistimos nos mercados", disse o governador do Banco de Itália, Ignazio Visco. Mas, para Matteo Salvini, há explicação e há culpado: Mattarella. "Por mim, teríamos um governo em funções, mas preferiram acalmar os mercados e não me parece que o estejam a conseguir", explicou o líder da Liga pedindo aos jornalistas para exigirem explicações ao presidente da República.

Uma eventual nova campanha eleitoral será um combate sem tréguas entre soberanistas anti-UE e as forças pró-europeias com Mattarella como alvo a abater por parte do bloco anti-sistema. As declarações do comissário europeu para o Orçamento, Günther Oettinger, afirmando que "os mercados vão ensinar Itália a votar correctamente", são mais achas para a fogueira. O alemão veio entretanto retratar-se mas o efeito mediático, com horas a abrir os sites italianos, já não tinha volta. 


Esta conjuntura fez com que em vez de se falar em eleições antecipadas para Setembro ou Outubro, ganhasse força um cenário de ida às urnas já no próximo dia 29 de Julho. Nesta altura, as sondagens dão uma ligeira queda ao 5 Estrelas para a casa dos 29,5% e reforçam a Liga com 27,5%, o que daria ainda mais representação a este bloco anti-sistema e eurocéptico.

Ou seja, os estudos de opinião mostram que o sistema político transalpino poderia ser arrasado, vendo substituído o tradicional bipolarismo entre centro-esquerda (PD) e centro-direita (Força Itália) pela supremacia de duas forças populistas: 5 Estrelas e Liga.

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