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Di Maio abdica de eurocéptico nas Finanças para haver governo político em Itália
O líder político do 5 Estrelas está disposto a abdicar de Paolo Savona nas Finanças para viabilizar cenário de governo político em Itália. O presidente Mattarella avalia possibilidade. Porém, o líder da Liga não parece ceder e insiste que Savona é o homem indicado para gerir as contas públicas.
Volte-face. Depois de Sergio Mattarella ter chumbado o "governo político" liderado por Giuseppe Conte para depois dar andamento a um "governo neutro" que morreu antes ainda de nascer, ganha novamente força a possibilidade de Movimento 5 Estrelas e Liga forjarem uma solução governativa.
No dia seguinte ao pânico instalado nos mercados devido ao receio de que a crise política transalpina pudesse estar para durar, com eleições antecipadas e um Orçamento para 2019 sem margem para ser aprovado, a acalmia regressou a Itália, com os juros a aliviar e a bolsa a recuperar.
Porém, no campo político esta quarta-feira não foi um dia menos agitado do que os anteriores. Inesperadamente, o líder político do 5 Estrelas, Luigi Di Maio, revelou estar disposto a não colocar o académico eurocéptico Paolo Savona como ministro da Economia e Finanças.
Di Maio disse que seria possível encontrar alguém de qualidade idêntica a Savona que, ainda assim, figuraria no governo 5 Estrelas-Liga, embora noutra pasta.
Esta mensagem foi bem recebida pelo presidente Mattarella. Fontes do Quirinal citadas pela imprensa italiana garantem que sem Savona nas Finanças, o presidente poderá viabilizar o governo que lhe foi proposto pelo então primeiro-ministro indigitado Giuseppe Conte.
As reservas de Mattarella estariam somente relacionadas com aquele Ministério, não havendo reservas quanto à restante equipa que lhe foi apresentada. Depois de esta manhã o actual primeiro-ministro indigitado Carlo Cottarelli se ter reunido com Mattarella, à tarde foi a vez de Di Maio ser recebido pelo presidente para uma não anunciada conversa que durou 30 minutos e da qual pouco ou nada se sabe.
O Corriere della Sera escreve, contudo, que foi depois de se reunir com o presidente que Di Maio deu um passo atrás numa tentativa de reiniciar um processo de formação de um "governo de mudança" em aliança com a Liga de Matteo Salvini.
Já Salvini, em crescendo nas sondagens, que agora lhe dão 27% dos votos, fechou a porta a recuos: "não estamos no mercado, eleições quanto antes". O líder da Liga voltou ainda a criticar a pressão exercida por Bruxelas e mercados e a posterior cedência do presidente. E quanto à colocação de Paolo Savona noutro lugar do governo, Salvini sustentou que "um avançado centro deve jogar a avançado centro e não noutra posição".
Governo político ou eleições
Durante a manhã Cottarelli e Mattarella fecharam o elenco do governo de iniciativa presidencial que o chefe de Estado transalpino promoveu enquanto alternativa a um executivo 5 Estrelas-Liga cujo programa, apesar de depurado das propostas mais eurocépticas, não deixava de conter medidas desconfortáveis para Bruxelas.
No entanto, o ex-director do Fundo Monetário Internacional e Mattarella concordaram que, antes de apresentarem o governo a votos no parlamento, darão margem de tempo para avaliar se Di Maio e Salvini têm condições para acordar um governo político. Assim, Mattarella fará um compasso de espera na expectativa de que Di Maio e Salvini cedam quanto ao nome para as Finanças por forma a constituir o primeiro govenro anti-sistema na história da República.
Esta espera resulta da mais do que certa reprovação de um executivo chefiado por Cottarelli, ou de qualquer governo promovido por Mattarella passar no parlamento. Já esta quarta-feira, o chefe político do 5 Estrelas exclui qualquer hipótese de se abster ou dar confiança técnica a um executivo de perfil tecnocrata. "Ou governo político ou ida às urnas", disse.
A confiança técnica seria um expediente para garantir que o governo Cottarelli tomasse posse em plenitude de funções de forma a preparar o Orçamento para o próximo ano. É que, se for chumbado pelo parlamento, Cottarelli chefiará um governo em gestão corrente e sem autoridade, logo incapaz de governar. Nesse cenário, haveria eleções depois do Verão, provavelmente em Setembro ou Outubro, isto porque o cenário de eleições em 29 de Julho que foi ontem avançado foi liminarmente rejeitado por Salvini.
Depois de as legislativas de 4 de Março terem dado uma robusta vitória ao 5 Estrelas e colocado a Liga como principal força da direita, acabando com o bipolarismo entre centro-esquerda (PD) e centro-direita (Força Itália), o xadrez político italiano tenderá a confirmar a mudança se houver eleições antecipadas.
Nesta altura é cada vez maior a cisão entre as forças europeístas e os partidos soberanistas, o que transformaria a realização de novas eleições numa espécie de referendo à União Europeia e ao euro.