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Itália com parlamento embrulhado. 5 Estrelas decisivo para formar governo
O 5 Estrelas é o partido mais votado e a coligação de centro-direita a aliança mais votada, mas ninguém consegue a maioria absoluta. Derrota do PD e resultado aquém das expectativas do FI de Berlusconi inviabilizam bloco central. 5 Estrelas surge incontornável para qualquer solução governativa.
Muitas dúvidas e poucas certezas. Os votos já contabilizados confirmam a tendência apontada pelas projecções à boca das urnas, com o Movimento 5 Estrelas a vencer, a coligação de centro-direita como a força mais votada e o PD como o grande derrotado.
Nenhum partido ou coligação pré-eleitoral (centro-esquerda e centro-direita) consegue a maioria absoluta. Nem mesmo uma aliança pós-eleitoral entre o PD de Matteo Renzi e o Força Itália de Silvio Berlusconi permitiria alcançar a maioria. O 5 Estrelas de Luigi Di Maio afirma-se incontornável para qualquer solução de governo. Ou seja, dificilmente poderá haver um governo com suporte maioritário sem a participação do partido fundado por Beppe Grillo.
Isso mesmo foi já defendido por Di Maio ao notar que "nós somos o pivot". "O 5 Estrelas é o primeiro partido, somos o centro em torno do qual todos devem rodar", acrescentou o grande vencedor da última noite eleitoral que conseguiu superar o já positivo resultado alcançado por Grillo em 2013.
Fundado em 2009 com o objectivo de reabilitar o sistema político transalpino, o 5 Estrelas sempre recusou qualquer tipo de diálogo ou aliança com os "velhos" partidos. Mas agora as coisas poderão estar a mudar. Mas depois de no final da campanha se ter reunido com o presidente Sergio Mattarella para lhe demonstrar disponibilidade para negociar acordos pós-eleitorais, Di Maio afirmou esta noite que o novo mote dos "grillini" "será estabilidade". Ver-se-á se o pragmatismo de Di Maio poderá prevalecer porque Grillo já veio instar os seus correlegionários a manterem-se "firmes" e a não mudarem de posição.
Contrários à intenção do 5 Estrelas assumir um papel central está o Força Itália, cujos membros já defenderam na manhã desta segunda-feira que será a força com mais assentos (5 Estrelas ou coligação de centro-direita) a deter a responsabilidade de se apresentar perante o presidente Sergio Mattarella.
Renzi demite-se e Salvini supera Berlusconi
Pouco mais de um ano após ter feito depender o seu futuro como primeiro-ministro do resultado no referendo constitucional e de ter perdido, Matteo Renzi voltou a sofrer uma pesada derrota. O PD fica abaixo dos 20% e a aliança de centro-esquerda liderada por Renzi deverá ficar em torno dos 23%, resultados piores do que os conseguidos em 2013 por Pier Luigi Bersani.
A imprensa transalpina escreve que Renzi já decidiu demitir-se da liderança do PD, um anúncio que poderá ser feito ainda esta tarde. Gentiloni conseguiu um bom resultado na circunscrição de Roma e continua com níveis de popularidade em alta, perfilando-se como possível líder de transição do PD.
Já a Liga de Matteo Salvini (ex-Liga Norte, extrema-direita) deverá ficar perto dos 18%, confirmando um até há poucas semanas imprevisível "sorpasso" ao Força Itália do ex-primeiro-ministro Berlusconi.
No acordo de coligação pré-eleitoral alcançado entre estes partidos – a que se juntam também as forças radicais de direita Irmão de Itália e Nós com Itália – ficou decidido que a força mais votada indicará o candidato a primeiro-ministro.
Se o FI fosse a força da direita mais votada, Berlusconi – impedido de ocupar cargos públicos até 2019 por condenação judicial – tinha já anunciado o nome de Antonio Tajani (presidente do Parlamento Europeu) para ser candidato a primeiro-ministro. Mas se a Liga ficar à frente do FI, tentará apresentar o nome de Salvini ao presidente Mattarella.
E agora?
Uma vez contabilizados os votos, será ocasião para começar a montar o puzzle. E as peças são muitas. Em termos aritméticos nenhuma força ou coligação terá maioria, nem mesmo o centro-direita. Isto apesar de esta manhã Salvini já ter vindo defender que cabe à aliança de centro-direita governar.
"O governo cabe a nós do centro-direita. A Liga venceu no centro-direita e continuará a liderar o centro-direita. É uma coligação que venceu e pode governar", sustentou o líder da extrema-direita citado pelo La Repubblica. Salvini reiterou assim a intenção de liderar um governo com apoio do FI de Berlusconi.
Todavia, o centro-direita não depende de si próprio para formar governo, até porque dificilmente o PD ou o 5 Estrelas apoiariam uma solução encabeçada pel direita xenófoba. Uma vez que a possibilidade de o PD e o FI reeditarem o Pacto de Nazareno parece afastada dado o escasso número de votos destas forças, restaria a hipótese de um acordo entre o partido de Renzi e o 5 Estrelas.
Só que ainda na noite eleitoral de ontem vários altos dirigentes do PD, entre os quais Ettore Rosato, defenderam que o mau resultado do partido o coloca na liderança da oposição. Por outro lado, para já o PD rejeita participar em qualquer governo de coligação com o 5 Estrelas, uma fórmula tentada em 2013 (embora com posições hierárquicas invertidas) mas rejeitada por Beppe Grillo.
Aconteça o que acontecer tudo indica que o 5 Estrelas assumirá um papel determinante no futuro da próxima solução governativa. Os dados poderão ficar mais claros quando, em 23 de Março, os novos deputados e senadores eleitos forem chamados a escolher os líderes de cada uma das câmaras, dos Deputados e Senado. Nessa altura, escreve o La Stampa, poderá perceber-se melhor a estratégia do 5 Estrelas, se vai privilegiar uma aproximação à esquerda ou à direita.
Porque tendo em conta que os partidos não são obrigados a manter as coligações pré-eleitorais, a Liga e o 5 Estrelas poderão aliar-se. E sabe-se que nos últimos dois anos os partidos de Salvini e Di Maio já chegaram a manter reuniões de trabalho. Membros do 5 Estrelas disseram aos jornais italianos que o partido vai, antes de 23 de Março e de falar com Mattarella, auscultar as intenções dos outros partidos. A saída de Renzi e a concretização da mudança de hierarquia à direita, com a Liga a superar o FI, podem trazer nuances às conversações. Desta forma, o partido de Di Maio mantém todas as portas abertas.
A indefinição atirou a bolsa italiana para terreno negativo, tendo a praça de Milão chegado a recuar mais de 2% no início da sessão.