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Itália com parlamento embrulhado. 5 Estrelas decisivo para formar governo

O 5 Estrelas é o partido mais votado e a coligação de centro-direita a aliança mais votada, mas ninguém consegue a maioria absoluta. Derrota do PD e resultado aquém das expectativas do FI de Berlusconi inviabilizam bloco central. 5 Estrelas surge incontornável para qualquer solução governativa.

EPA
05 de Março de 2018 às 11:21
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Muitas dúvidas e poucas certezas. Os votos já contabilizados confirmam a tendência apontada pelas projecções à boca das urnas, com o Movimento 5 Estrelas a vencer, a coligação de centro-direita como a força mais votada e o PD como o grande derrotado.


Nenhum partido ou coligação pré-eleitoral (centro-esquerda e centro-direita) consegue a maioria absoluta. Nem mesmo uma aliança pós-eleitoral entre o PD de Matteo Renzi e o Força Itália de Silvio Berlusconi permitiria alcançar a maioria. O 5 Estrelas de Luigi Di Maio afirma-se incontornável para qualquer solução de governo. Ou seja, dificilmente poderá haver um governo com suporte maioritário sem a participação do partido fundado por Beppe Grillo.

Isso mesmo foi já defendido por Di Maio ao notar que "nós somos o pivot". "O 5 Estrelas é o primeiro partido, somos o centro em torno do qual todos devem rodar", acrescentou o grande vencedor da última noite eleitoral que conseguiu superar o já positivo resultado alcançado por Grillo em 2013.

Fundado em 2009 com o objectivo de reabilitar o sistema político transalpino, o 5 Estrelas sempre recusou qualquer tipo de diálogo ou aliança com os "velhos" partidos. Mas agora as coisas poderão estar a mudar. Mas depois de no final da campanha se ter reunido com o presidente Sergio Mattarella para lhe demonstrar disponibilidade para negociar acordos pós-eleitorais, Di Maio afirmou esta noite que o novo mote dos "grillini" "será estabilidade". Ver-se-á se o pragmatismo de Di Maio poderá prevalecer porque Grillo já veio instar os seus correlegionários a manterem-se "firmes" e a não mudarem de posição.

Contrários à intenção do 5 Estrelas assumir um papel central está o Força Itália, cujos membros já defenderam na manhã desta segunda-feira que será a força com mais assentos (5 Estrelas ou coligação de centro-direita) a deter a responsabilidade de se apresentar perante o presidente Sergio Mattarella.

 

Renzi demite-se e Salvini supera Berlusconi

Pouco mais de um ano após ter feito depender o seu futuro como primeiro-ministro do resultado no referendo constitucional e de ter perdido, Matteo Renzi voltou a sofrer uma pesada derrota. O PD fica abaixo dos 20% e a aliança de centro-esquerda liderada por Renzi deverá ficar em torno dos 23%, resultados piores do que os conseguidos em 2013 por Pier Luigi Bersani. 

A imprensa transalpina escreve que Renzi já decidiu demitir-se da liderança do PD, um anúncio que poderá ser feito ainda esta tarde. Gentiloni conseguiu um bom resultado na circunscrição de Roma e continua com níveis de popularidade em alta, perfilando-se como possível líder de transição do PD. 

Já a Liga de Matteo Salvini (ex-Liga Norte, extrema-direita) deverá ficar perto dos 18%, confirmando um até há poucas semanas imprevisível "sorpasso" ao Força Itália do ex-primeiro-ministro Berlusconi.

No acordo de coligação pré-eleitoral alcançado entre estes partidos – a que se juntam também as forças radicais de direita Irmão de Itália e Nós com Itália – ficou decidido que a força mais votada indicará o candidato a primeiro-ministro.

Se o FI fosse a força da direita mais votada, Berlusconi – impedido de ocupar cargos públicos até 2019 por condenação judicial – tinha já anunciado o nome de Antonio Tajani (presidente do Parlamento Europeu) para ser candidato a primeiro-ministro. Mas se a Liga ficar à frente do FI, tentará apresentar o nome de Salvini ao presidente Mattarella.

E agora?

Uma vez contabilizados os votos, será ocasião para começar a montar o puzzle. E as peças são muitas. Em termos aritméticos nenhuma força ou coligação terá maioria, nem mesmo o centro-direita. Isto apesar de esta manhã Salvini já ter vindo defender que cabe à aliança de centro-direita governar.

"O governo cabe a nós do centro-direita. A Liga venceu no centro-direita e continuará a liderar o centro-direita. É uma coligação que venceu e pode governar", sustentou o líder da extrema-direita citado pelo La Repubblica. Salvini reiterou assim a intenção de liderar um governo com apoio do FI de Berlusconi. 

Todavia, o centro-direita não depende de si próprio para formar governo, até porque dificilmente o PD ou o 5 Estrelas apoiariam uma solução encabeçada pel direita xenófoba. Uma vez que a possibilidade de o PD e o FI reeditarem o Pacto de Nazareno parece afastada dado o escasso número de votos destas forças, restaria a hipótese de um acordo entre o partido de Renzi e o 5 Estrelas. 
 
Só que ainda na noite eleitoral de ontem vários altos dirigentes do PD, entre os quais Ettore Rosato, defenderam que o mau resultado do partido o coloca na liderança da oposição. Por outro lado, para já o PD rejeita participar em qualquer governo de coligação com o 5 Estrelas, uma fórmula tentada em 2013 (embora com posições hierárquicas invertidas) mas rejeitada por Beppe Grillo. 

Aconteça o que acontecer tudo indica que o 5 Estrelas assumirá um papel determinante no futuro da próxima solução governativa. Os dados poderão ficar mais claros quando, em 23 de Março, os novos deputados e senadores eleitos forem chamados a escolher os líderes de cada uma das câmaras, dos Deputados e Senado. Nessa altura, escreve o La Stampa, poderá perceber-se melhor a estratégia do 5 Estrelas, se vai privilegiar uma aproximação à esquerda ou à direita.

Porque tendo em conta que os partidos não são obrigados a manter as coligações pré-eleitorais, a Liga e o 5 Estrelas poderão aliar-se. E sabe-se que nos últimos dois anos os partidos de Salvini e Di Maio já chegaram a manter reuniões de trabalho. Membros do 5 Estrelas disseram aos jornais italianos que o partido vai, antes de 23 de Março e de falar com Mattarella, auscultar as intenções dos outros partidos. A saída de Renzi e a concretização da mudança de hierarquia à direita, com a Liga a superar o FI, podem trazer nuances às conversações. Desta forma, o partido de Di Maio mantém todas as portas abertas. 

Até essa data o presidente Mattarella terá oportunidade de realizar as primeiras consultas aos partidos com assento parlamentar. Numa altura em que se fala novamente em Itália na possibilidade de uma espécie de governo de unidade nacional que integre todas as forças do parlamento, Sergio Mattarella terá sempre esta possibilidade de recurso que tenderia a ser chefiada por um nome independente ou de perfil mais tecnocrático. 

A indefinição atirou a bolsa italiana para terreno negativo, tendo a praça de Milão chegado a recuar mais de 2% no início da sessão.

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