Notícia
Renzi confirma demissão mas rejeita viabilizar governo anti-sistema
O secretário-geral do PD anunciou a demissão depois da enorme derrota na última noite eleitoral. Mas o ex-primeiro-ministro garante que o PD vai assumir a responsabilidade de fazer oposição, rejeitando abrir a porta a qualquer tipo de governo extremista e anti-sistema.
A derrota de ontem "impõe a abertura de uma página nova no seio do PD. É óbvio que, em consequência deste resultado, eu deixe a liderança do PD", declarou Renzi numa conferência de imprensa que começou com perto de hora e meia de atraso. A expectativa de demissão havia sido noticiada logo pela manhã, mas a garantia de um porta-voz de Renzi de que o antigo primeiro-ministro não se iria demitir gerou alguma confusão.
Mas como é que, apesar de anunciar a demissão do cargo de secretário-geral do PD, o ex-primeiro-ministro pretende determinar o posicionamento do partido nas negociações para a formação de governo? Renzi quer sair, mas apenas depois do início da legislatura e de um novo governo ter tomado posse.
O antigo chefe de governo deixou avisos às forças que pretendem liderar o próximo governo (5 Estrelas e Liga): "na campanha dissemos não a um governo com extremistas e não a um governo de extremistas. Não mudámos de ideias", atirou, numa garantia de que o PD recusa aliar-se a estes partidos, seja para liderar um governo, seja para apoiar uma solução liderada por outra força.
Matteo Renzi enunciou depois "três elementos" que afastam o PD de qualquer acordo com o 5 Estrelas de Luigi Di Maio ou com a Liga de Matteo Salvini: o anti-europeísmo, a anti-política e a utilização do ódio verbal. "O PD não vai abrir a porta a um governo anti-sistema. Fala-se muito em ser responsável e a nossa responsabilidade é ficarmos na oposição", acrescentou.
"Se somos mafiosos, corruptos e temos as mãos sujas de sangue, então sabem que mais? Formem governo sem nós", prosseguiu, defendendo que o lugar do PD nesta legislatura será "na oposição".
Renzi não fez "mea culpa" face ao resultado do referendo constitucional de Dezembro de 2016 que acabou por contribuir para a actual situação de incerteza política. Mas assumiu que foi esse referendo o causador desta situação. "Hoje Itália tem uma situação política em que quem venceu a eleição não tem número para governar. Este problema nasce da questão do referendo de há um ano", afirmou, lamentando de seguida que se tenha criticado a "personalização referendária" mas não se tenha discutido o papel "dos que se opuseram ao referendo".
Há pouco mais de um ano, Renzi ligou o seu futuro político ao resultado do referendo constitucional com que tentava promover uma reforma do sistema bicameral, mais favorável à criação de maiorias de um só partido, e assim conferir maior estabilidade política ao país. Esta aposta levou a oposição a juntar-se numa lógica de "todos contra Renzi". Renzi perdeu e demitiu-se.
Renzi sinalizou, em jeito de conclusão, que estas eleições ficam marcadas pela "evidência de um vento extremista".
Renzi não esclareceu liminarmente se pretende ou não fazer parte da "nova página" que urge abrir dentro do partido. Seja como for, Renzi antecipa que será difícil evitar um "confronto dentro do PD" e pede um "secretário-geral" eleito pelas bases e não pelos barões do partido.
(Notícia actualizada às 18:15)