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Contradições deixam Schulz sem chão e com futuro em aberto

No espaço de um ano, o ainda líder do SPD passou do céu ao inferno. Da popularidade conquistada quando assumiu a liderança dos sociais-democratas ao pior resultado eleitoral do partido no pós-Guerra, passando pela intenção de ser ministro, Schulz corre o risco de ficar apeado na estrada para a renovação da grande coligação.

Reuters
12 de Fevereiro de 2018 às 13:19
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Em política, como no futebol, não há estado de graça que dure para sempre. Por vezes é mesmo apenas passageiro e Martin Schulz está aí para confirmar esta premissa. Líder do SPD desde Março do ano passado, Schulz chegou ao leme dos sociais-democratas alemães com a popularidade em alta, tendo as sondagens chegado mesmo a sinalizar uma hipotética vitória sobre a chanceler Angela Merkel nas eleições federais de Setembro do ano passado.

 

Volvido menos de um ano tudo mudou, levando por arrasto a paisagem política germânica. Progressivamente em queda nas sondagens desde o Verão de 2017, o SPD acabou por obter o pior resultado em eleições gerais desde a Segunda Guerra. O bloco conservador (CDU/CSU) de Merkel também teve um dos piores resultados do pós-Guerra. Se após as eleições de 2013 em conjunto estes partidos valiam 67,2%, agora representam 53,4%.

 

Foi com esta erosão eleitoral que começou o caminho de contradições de Martin Schulz. Se antes das eleições de 24 de Setembro garantira que nunca seria ministro num governo chefiado por Merkel, o mau resultado eleitoral levou-o a colocar o SPD de fora das cogitações quanto a uma possível renovação da grande coligação com os democratas-cristãos, conhecida na Alemanha pelo acrónimo "GroKo".

 

Com esta posição, o SPD assumiria a liderança da oposição no Bundestag, impedindo que esse papel fosse desempenhado pela força xenófoba de extrema-direita AfD, acabada de entrar na câmara baixa do parlamento germânico. Em simultâneo, com esta recusa Merkel ficava obrigada a negociar uma inédita e nunca testada coligação com liberais (FDP) e Verdes.

 

Fracassadas as negociações para a coligação Jamaica (CDU/CSU-FDP-Verdes), foi-se intensificando a pressão para que Martin Schulz abdicasse da sua recusa e aceitasse sentar-se à mesa com Merkel. O também social-democrata presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, teve um papel determinante na pressão exercida sobre o antigo presidente do Parlamento Europeu.

 

Face à pressão e perante o receio de ser considerado responsável por deixar o país numa incomum situação de instabilidade política, Schulz cedeu e aceitou negociar com a chanceler a reedição da grande coligação com que Merkel governou em oito dos 12 anos na chancelaria. Apesar do mau resultado eleitoral, o SPD aparecia numa posição reforçada face a uma Merkel fragilizada pela incapacidade de gerar um entendimento com liberais e ambientalistas.

 

Outro dito por não dito

 

Tendo em conta a divisão interna do SPD quanto à repetição daquela solução governativa, a direcção social-democrata comprometeu-se pôr a decisão nas mãos dos militantes do partido. Primeiro, ainda em Janeiro, os membros do SPD deram luz verde, numa convenção extraordinária, ao início de conversações formais com os democratas-cristãos.

 

No entanto, a votação confirmou um partido praticamente dividido a meio entre apoiantes e opositores de uma nova grande coligação. Divisão que ficou ainda mais clara depois de a ala jovem do SPD ter iniciado um movimento contra a repetição de um executivo chefiado por Merkel com o beneplácito social-democrata. 

 

A ferida ficou destapada depois de Schulz ter voltado novamente atrás com a palavra. É que se havia dito que nunca seria ministro de Merkel, quando na quarta-feira foi anunciado um acordo de governo para revalidar a "GroKo", Martin Schulz revelou que pretendia ser o próximo ministro dos Negócios Estrangeiros tendo por mote "reformar a União Europeia".

 

Todavia, Schulz ter-se-ia comprometido com o ex-líder do SPD e ainda ministro alemão dos Estrangeiros, Sigmar Gabriel, garantindo-lhe que este continuaria a chefiar a diplomacia germânica. Schulz apontou mesmo o nome do seu substituto na liderança do SPD, a actual líder parlamentar Andrea Nahles.

 

Gabriel criticou Schulz por ter faltado à palavra. À voz do membro do SPD que detém melhores níveis de aceitação juntaram-se outros nomes relevantes do partido exigindo que o antigo livreiro renunciasse ao posto de ministro. Schulz cedeu e ainda na sexta-feira anunciou que renunciava por forma a acabar com as discussões internas sobre "pessoas".

De pouco valeu a Schulz ter acordado com Merkel uma distribuição equitativa de ministérios entre o SPD e a CDU, assegurando para o partido a determinante tutela das Finanças. Ou sequer ter firmado um acordo que dá seguimento a algumas das principais bandeiras dos sociais-demcratas tais como o reforço da integração europeia.

 

O perigo dos referendos


O legado político de Martin Schulz enquanto líder do SPD continua por definir. Também porque a fórmula encontrada para legitimar a grande coligação passa pela realização de um referendo interno, que decorre através de voto postal entre os dias 20 de Fevereiro e 2 de Março, e cujo resultado é incerto.

 

É que além da escassa margem com que foi aprovada a passagem de conversas exploratórias para negociações formais, desde o início de 2018 o SPD conta com mais de 24 mil novos militantes – num universo total de 464 mil militantes -, a maior parte recrutados pela ala mais jovem do partido (Jusos) que, por sua vez, se opõe à reedição da "GroKo", modelo que consideram responsável pela indiferenciação face à CDU e pelas derrotas eleitorais sucessivas.

 

Se um referendo tem um carácter forte de imprevisibilidade, a adesão de uma nova massa de membros ao SPD faz perigar a solução governativa acordada entre Schulz e Merkel, tornando ainda mais incerto o futuro político do ex-presidente do Parlamento Europeu.

 

Para já, certo parece ser que Schulz deixará de liderar o SPD e também não será ministro num eventual novo governo de coligação. Pouco mais de um ano depois de sair do Parlamento Europeu com uma cotação política elevada, Schulz foi apanhado no turbilhão que ameaça tornar o SPD numa força política de média dimensão – nas sondagens surge já bem abaixo dos 20% conseguidos em Setembro, empatado com a extrema-direta – e que deixa o seu futuro em aberto. A Alemanha e a União Europeia permanecem em suspenso daquilo que vier a ser decidido pelas bases do SPD.


Negócios explica acordo na Alemanha
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O acordo de governo entre Schulz e Merkel atribui um papel mais relevante aos sociais-democratas, que defendem maior integração política e económica na Europa. O jornalista David Santiago explica o que está em causa com o compromisso firmado na Alemanha entre conservadores e sociais-democratas.

 

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