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Conservadores optimistas sobre acordo. SPD mais dividido sobre "GroKo"

Os aliados conservadores da chanceler Merkel acreditam que será possível alcançar um acordo para renovar a grande coligação até ao final do próximo domingo. Porém, mesmo depois de aprovada no Bundestag a reunificação familiar dos refugiados, o SPD, em queda nas sondagens, está cada vez mais dividido sobre uma nova aliança com os democratas-cristãos.

Reuters
David Santiago dsantiago@negocios.pt 01 de Fevereiro de 2018 às 16:11

Ainda sem um acordo de governo, da Alemanha chegam sinais contraditórios quanto à possibilidade de reedição da grande coligação entre o bloco conservador da chanceler Angela Merkel (CDU/CSU) e o SPD de Martin Schulz.

 

Esta quinta-feira, 1 de Fevereiro, o líder da CSU (partido-irmão bávaro da CDU de Merkel), Horst Seehofer, afirmou, citado pela Reuters, estar convicto de que será possível alcançar um acordo final para renovar a grande coligação (CDU/CSU-SPD) "até domingo". Foi com esta solução de governo, apelidada na Alemanha de "GroKo", que Merkel governou em dois dos três mandatos como chanceler.

 

Outro sinal favorável à reedição da "GroKo" foi dado esta manhã no Bundestag (câmara-baixa do parlamento germânico), com a aprovação da nova lei sobre imigração (apresentada pelos três partidos que negoceiam uma solução de governo que ponha fim a quatro meses de indefinição política).

 

Esta nova lei retira a suspensão, imposta em Março de 2016, à reunificação familiar, por um período de dois anos, dos refugiados com o chamado estatuto "subsidiário". Permitindo que a partir de 1 de Agosto possam estabelecer-se na Alemanha mil migrantes por mês.

 

Esta medida resulta da ponte construída entre o bloco conservador de Merkel, que defendia medidas migratórias mais restritivas, designadamente a CSU que chegou a culpar a política de abertura aos refugiados de Merkel pelo mau resultado nas últimas eleições, e o SPD, que defende políticas de migração mais solidárias. Aparentemente houve maior cedência da parte dos democratas-cristãos, que se aproximaram das pretensões do SPD, partido que ganhou força negocial depois de falhadas as negociações de Merkel com Verdes e liberais.

 

A questão em torno dos refugiados era um dos temas que mais distanciava Merkel e Schulz de um acordo final de governo. Superado este obstáculo persistem, porém, outros temas difíceis na agenda. Esta quinta-feira, as equipas negociais dos três partidos retomam conversações com o objectivo de, até ao próximo domingo, alcançar um acordo final de governo.

 

A dividir as partes estão temas como a reforma do sistema de saúde alemão (o SPD quer criar um sistema único de saúde com contribuições públicas e privadas), alterações ao regime laboral (os sociais-democratas querem dificultar os contratos de curto prazo) ou ainda a política europeia, sendo a criação de uma espécie de Estados Unidos da Europa uma das principais bandeiras de Martin Schulz. Seja como for, Merkel e Schulz estão de acordo sobre a necessidade de maior integração e mais investimento na Zona Euro. 

 

Ala jovem mais à esquerda do SPD põe "GroKo" em causa 

 

Apesar de uma convenção extraordinária do SPD ter, em 21 de Janeiro, dado luz verde à direcção do partido para prosseguir para conversações formais para encontrar uma solução de governo com o bloco conservador, apenas 56,4% dos militantes votaram a favor dessa via.

 

A escassa diferença entre militantes a favor e contra uma nova "GroKo" mostra um SPD fortemente dividido, em especial porque se acredita que os sociais-democratas poderão continuar a perder eleitorado após, nas eleições federais de Setembro, já terem registado o pior resultado desde a Segunda Guerra.

 

Por outro lado, o SPD continua em queda nas sondagens, estando já abaixo dos 20% alcançados em Setembro. Pior, a sondagem do INSA para o jornal Bild, conhecida esta semana, coloca o SPD (17,5%) pouco à frente da extrema-direita do AfD (14%), que no último acto eleitoral garantiu entrada no Bundestag pela primeira vez no pós-Guerra.

 

Em paralelo a esta conjuntura, a ala jovem do SPD (Jusos, com posições mais à esquerda do que a direcção do partido) está a promover um combate à reedição da grande coligação. Os líderes da Jusos apelaram a todos quantos se opõem a esta solução governativa para se inscreverem no SPD a fim de impedir a concretização dessa via.

 

Nesse sentido, tem-se assistido a um aumento incomum no número de adesões ao partido, que é agora composto por cerca de 440 militantes. A relevância desta movimentação prende-se com o facto de o SPD ainda ter de referendar um eventual acordo final que venha a ser alcançado entre Merkel e Schulz.

 

Todos os novos militantes inscritos até 6 de Fevereiro poderão votar – a votação faz-se por voto postal - no referendo que ainda não tem data marcada, mas que deverá ocorrer já nas próximas semanas. Entre o referendo e a divulgação dos resultados deverão decorrer vários dias, o que contribuirá certamente para o reforço da incerteza política na Alemanha.


Se as bases do SPD chumbarem uma nova grande coligação, Merkel poderá sempre tentar retomar negociações para a inédita aliança Jamaica (CDU/CSU-Verdes-FDP), cenário improvável depois do fracasso provocado pela inflexibilidade demonstrada pelos liberais do FDP.

 

Desta forma, o cenário mais provável passaria pela realização de eleições antecipadas, com os politólogos a defenderam que, neste caso, o eleitorado alemão tenderá a penalizar o(s) partido(s) considerados responsáveis pelo(s) fracasso(s) nas negociações para a formação de um governo com apoio maioritário no Bundestag. 

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