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SPD em queda nas sondagens e dividido sobre novo governo com Merkel
Com 18,5% das intenções de votos na última sondagem publicada pelo Bild, os sociais-democratas nunca haviam atingido um patamar tão baixo. Isto numa altura em que, apesar do acordo preliminar alcançado com Merkel, o SPD continua muito dividido quanto à reedição da grande coligação.
O compromisso inicial obtido entre o bloco conservador democrata-cristão (CDU/CSU) liderado por Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz não passa, para já, disso mesmo, de um acordo preliminar. Tendo a última palavra sobre um acordo final de governo, os militantes sociais-democratas, assim como várias figuras relevantes do partido, mostram-se reticentes quanto à reedição da grande coligação, facto agravado pela quebra do SPD nas sondagens.
A sondagem do INSA para o jornal alemão Bild, publicada esta segunda-feira, 15 de Janeiro, com base em entrevistas realizadas entre os dias 12 (dia em que foi anunciado um acordo preliminar entre CDU/CSU e o SPD) e 15, coloca os sociais-democratas com 18,5% das intenções de voto, o patamar mais baixo (em estudos do INSA) alguma vez alcançado pelo partido que, nas eleições federais de Setembro, já registou o pior resultado (20,5%) no pós-Guerra.
Já o bloco conservador de Merkel consegue 31,5%, que compara com os quase 33% registados em Setembro, enquanto o xenófobo de extrema-direita AfD mantém a terceira posição com 14%, uma subida de quase meio ponto percentual face às últimas eleições. Seguem-se a extrema-esquerda (Die Linke, com 11,5%), Verdes (10%), e liberais (FDP, com 9,5%).
O SPD é o partido que mais cai, o que tendo em conta que a sondagem foi conduzida já depois de alcançado o acordo que permitiu passar à fase de negociações formais com vista à formação de governo, indicia que o eleitorado alemão, designdamente o de centro-esquerda, parece não ver com bons olhos a participação dos sociais-democratas num novo executivo chefiado pela chanceler Merkel.
Certo é que parte da base do SPD não vê com bons olhos uma nova grande coligação, como mostram as sondagens conhecidas nas últimas semanas. O que atribui incerteza ao desfecho final das negociações, uma vez que no dia 21 de Janeiro o SPD reúne-se em congresso extraordinário para votar uma decisão final. No final de uma convenção regional do SPD, em Hesse, foram exigidos mais avanços no acordo e uma convenção do partido no Estado-federal de Saxony-Anhalt chumbou o compromisso.
As reticências abrangem também nomes importantes, como o de Michael Müller, presidente do Bundesrat (câmara alta do parlamento germânico), que em declarações ao Tagesspiegel am Sonntag, citadas pelo Financial Times, se mostra crítico em relação ao acordo, especialmente em áreas como a saúde, imigração e integração.
Para já a grande vitória de Schulz prende-se com o enfoque conseguido na necessidade de maior integração da União Europeia e da Zona Euro, logo o primeiro dos 28 pontos do acordo preliminar. Contudo, o SPD pretende maximizar a vantagem negocial decorrente do facto de nunca como agora Merkel ter estado tão fragilizada, o que leva os sociais-democratas a querer para si o importante cargo de ministro das Finanças.
Se o congresso de 21 de Janeiro não der luz verde a uma nova grande coligação – a terceira desde 2005 -, tudo aponta para que sejam realizadas eleições federais antecipadas, para o que contribui também a rejeição de Merkel à possibilidade de liderar um governo minoritário.
Foi precisamente a progressiva erosão eleitoral do SPD que levou Schulz, na sequência do mau resultado de Setembro, a pôr de parte a hipótese de o partido negociar uma nova solução de governo com Merkel, com o ex-presidente do Parlamento Europeu a priorizar colocar os sociais-democratas na posição de maior partido da oposição no Bundestag, o que permitiria reposicionar e diferenciar programaticamente o partido sem o ónus da governação.
No entanto, o fracasso das conversações para a nunca testada aliança alargada conhecida por Jamaica (CDU/CSU-Verdes-FDP) elevou a pressão sobre Schulz, com diversos quadrantes políticos - incluindo o presidente da Alemanha, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier - a exigirem que este não colocasse em primeiro lugar os interesses partidários em detrimento do interesse nacional. Desta forma, Schulz entrou nas negociações com uma posição reforçada, o que ficou já claro em alguns dos pontos do acordo preliminar conhecido no final da semana passada.