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Espanha: Sánchez cada vez mais apertado entre a espada e a parede

A menos de 24 horas do debate sobre a investidura do líder socialista, são cada vez menos as certezas sobre os apoios que Pedro Sánchez conseguirá assegurar. A incerteza é cada vez maior e nenhum cenário está colocado de parte.

Reuters
29 de Fevereiro de 2016 às 20:32
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Praticamente um mês depois de ter sido encarregado pelo rei Felipe VI de tentar ser investido como primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, terá oportunidade, esta terça-feira, 1 de Março, de explicar ao que vai perante o Congresso espanhol(equivalente à Assembleia da República).

 

Assim, esta terça-feira a partir das 16:30 (15:30 em Lisboa), Pedro Sánchez apresentará o programa político do Governo que o próprio pretende formar e liderar. E solicitará a confiança (mais concretamente, o apoio) dos restantes deputados à sua investidura. E aqui é que começam os problemas.

 

Desde já porque neste momento é ainda absolutamente impossível antecipar qual o partido ou partidos que vão apoiar a investidura do líder socialista. Depois de no passado sábado mais de 70% dos militantes socialistas terem ratificado o acordo alcançado entre o PSOE e o Cidadãos tendo em vista um "acordo de legislatura", seria expectável que Pedro Sánchez obtivesse o apoio dos deputados do partido liderado por Albert Rivera. Contudo, já esta segunda-feira, 29 de Fevereiro, o Cidadãos avisou que reavaliará o apoio à investidura de Sánchez se houver alguma modificação ao compromisso alcançado entre Rivera e o líder do PSOE na semana passada. 


"O nosso compromisso é com este acordo. Se agora o PSOE e o Podemos querem fazer uma modificação a este acordo, teremos que estudar de que modificações se trata e, em função dessa análise, tomaremos a nossa decisão", explicou Miguel Gutiérrez, secretário-geral do grupo parlamentar do Cidadãos.

 

O problema é que Sánchez precisa de mais apoios. Mesmo juntos, PSOE e Cidadãos (130 deputados) continuam distantes da maioria simples dos deputados que é necessária para garantir a tomada de posse como primeiro-ministro do secretário-geral socialista à segunda votação. Votação essa que poderá entretanto ser antecipada do próximo sábado para sexta-feira ao final da noite. Mas esta é uma questão que divide a mesa do Congresso e, possivelmente, só esta terça ou quarta-feira haverá uma confirmação.


Podemos mantém estratégia de afastamento
 

Como tal, Sánchez tem passado os últimos dias a tentar aproximar-se dos partidos à sua esquerda, com o Podemos e as confluências apoiadas por este partido nas regiões da Galiza, Valência e Catalunha à cabeça. Facto visto com desagrado, quer por importantes figuras do PSOE quer pelo Cidadãos.

 

No entanto, também o Podemos se opõe fortemente ao acordo PSOE-Cidadãos, tendo mesmo interrompido as conversações com os socialistas logo depois de Sánchez e Rivera terem firmado o compromisso para um "Governo progressista". E já esta segunda-feira ao final da tarde o secretário-geral do Podemos, Pablo Iglesias, avisou, através da rede Twitter, que este partido de extrema-esquerda nem sequer vai analisar a última proposta apresentada pelo PSOE.

 

"O PSOE enviou vários documentos que são ‘corta e cola’ do pacto com o Cidadãos, escondendo as medidas mais vergonhosas. Isto não é sério", acusou Pablo Iglesias. E como em Espanha a política é cada vez mais feita via Twitter, Pedro Sánchez respondeu: Depende de vocês [Podemos] que estas medidas proporcionem um Governo de mudança. Não é serio que siga [Mariano] Rajoy".

 

Mudança tem sido uma palavra-chave nos últimos meses. Durante a campanha foi vezes sem conta repetida por três dos quatro partidos mais votados – PSOE, Podemos e Cidadãos – sendo que o mais votado, o PP, defendeu a aposta na continuidade. Contudo, esta mudança não parece ter condições para se consubstanciar, passando do papel das propostas e acordos para um efectivo suporte parlamentar a um Governo.

 

Assim sendo, a menos que nos próximos dias Pedro Sánchez consiga um volte-face que neste momento ninguém se arrisca antecipar, é bem possível que o rei Felipe VI volte a retomar o processo de auscultação aos partidos com assento parlamentar. Então poderá ser a vez de Mariano Rajoy, presidente do PP e primeiro-ministro ainda em funções, receber, e desta feita aceitar, isto depois de já ter rejeitado assumir essa responsabilidade por falta de apoios, a incumbência de formar Governo.

Depois das críticas de Sánchez a Rajoy, que acusa de irresponsabilidade por ter deixado o país num clima de incerteza ao não aceitar tentar formar Governo, é agora a vez de o PP se estar já a preparar para ripostar. Na mesma moeda. Segundo o El País, na próxima quarta-feira, quando tiver oportunidade para interpelar Sánchez, Rajoy acusa-lo-á do "bloqueio" política em que Espanha se encontra.

Uma coisa é certa, o Cidadãos já esclareceu que não recusará negociar com Rajoy, e já nem sequer coloca de parte vir a fazer parte de um Governo que permita a Espanha ultrapassar o actual impasse político. Mas há também outra certeza. Os deputados do PP e do Cidadãos também não asseguram a investidura de Rajoy sem, pelo menos, a abstenção dos socialistas.

 

À entrada para uma semana decisiva, é tudo possível em Espanha. Novas eleições continuam na cabeça de muitos, desde logo do Podemos, que acredita poder reforçar o resultado alcançado em Dezembro último e ultrapassar finalmente, e a exemplo do que sucedeu na Grécia, onde o Syriza substituiu o Pasok, os socialistas como principal força da esquerda espanhola. 

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