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FMI não acredita nas previsões de consumo do Governo

O Governo espera que o consumo cresça 2,4% em 2016 mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) é da opinião que irá avançar apenas 1,5%. Qual o motivo deste cepticismo? O chefe de missão para Portugal, Subir Lall, explica ao Negócios.

17 de Fevereiro de 2016 às 16:53
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A Comissão Europeia também está mais pessimista do que o Executivo de António Costa sobre a evolução do consumo, mas não tanto como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Enquanto Bruxelas antecipa uma variação de 1,9% para este ano, o FMI antecipa um crescimento de apenas 1,5%. Porquê?

 

"Existem vários factores que suportam a nossa previsão para o consumo privado [para 2016]", explica Subir Lall, chefe de missão do fundo para Portugal, em resposta ao Negócios. "O forte crescimento do consumo privado estimado para 2015 vem de um posicionamento orçamental já expansionista no ano passado, do ambiente externo favorável e, não menos relevante, da recuperação pós-crise (consumo que tinha sido adiado durante a crise, como a compra de carros."

 

Ou seja, o consumo das famílias disparou 2,6% em 2015 devido a alguns factores que já não existem em 2016. O ambiente externo, "embora ainda favorável", tornou-se "muito mais incerto", o que leva o FMI a prever uma "moderação" da recuperação do consumo das famílias.

 

Por último, Subir Lall aponta que o aumento dos gastos das famílias foi financiado pela poupança, que atingiu mínimos históricos nos últimos meses. Poderá cair ainda mais? O FMI acha que não. "Uma parte significativa da recuperação do consumo pós-crise foi financiada por menos poupanças das famílias. Dado que a taxa de poupança dos agregados familiares já é a mais baixa que vimos em muito tempo, é difícil ver esta tendência continuar e seria, de qualquer forma, indesejável."

 

Em entrevista ao Negócios, publicada a 5 de Fevereiro, o representante do FMI já tinha dito que mesmo o pouco crescimento que espera deverá ser dirigido para as importações, pelo que o impacto no crescimento económico "será mínimo". Por outro lado, o Governo antecipa que um orçamento que coloque mais dinheiro nos bolsos das famílias - principalmente as de menores rendimentos, com propensões mais elevadas para o consumo - levará o consumo a continuar a ter um crescimento robusto. 

cotacao Dado que a taxa de poupança dos agregados familiares já é o mais baixo que vimos em muito tempo, é difícil ver esta tendência continuar e seria, de qualquer forma, indesejável. Subir Lall Chefe de missão do FMI


 

O que dizem os economistas

Com a apresentação de novas medidas de austeridade, o Governo reviu em baixa a sua previsão de crescimento do consumo privado, de 2,6% para 2,4%. Ainda assim, está muito longe dos 1,5% do FMI. Os economistas acham que ambas são exageradas.

 

"A nossa projecção para o crescimento do consumo privado em 2016 é 2,2%, embora com muita incerteza adicional devido à aparente mudança de orientação de política orçamental", explicava há duas semanas o Núcleo de Estudos de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica. Embora também espere um abrandamento do consumo privado face a 2015, o NECEP está mais próximo do Governo do que das instituições internacionais. "Faz sentido que o crescimento do consumo privado seja um pouco superior ao do PIB, tendo em conta a informação disponível, e incluindo o debate em curso sobre a orientação da política orçamental."

 

"Nós também esperamos que o ritmo de crescimento do consumo seja mais moderado em 2016 do que em 2015, o que em grande parte reflectirá um crescimento mais moderado do consumo de bens duradouros, que no primeiro semestre de 2015 registou ritmos de crescimento muito fortes", nota Teresa Gil Pinheiro, economista do BPI. "Adicionalmente, a recuperação do mercado de trabalho será mais lenta e, num ambiente de maior incerteza, é possível que as famílias adoptem, comportamentos mais cautelosos, optando por canalizar o aumento de rendimento para poupança."

 

Por outro lado, o PS faz questão de sublinhar que a UTAO tem admitido que a previsão de consumo do Governo pode ser conservadora. Mesmo quando o Executivo esperava uma variação de 2,6%, o organismo que dá apoio aos deputados dizia que "o crescimento do PIB em 2016 poderá ser pressionado por um maior aumento do consumo privado, tendo em conta os eventuais efeitos positivos sobre a economia da recuperação prevista para os salários dos funcionários públicos".

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