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Portugueses valorizam mais o ambiente e mudaram de hábitos devido à crise

Os portugueses passaram a valorizar mais o ambiente, principalmente a natureza, mudando de hábitos devido à crise económica, e 60% estão mesmo dispostos a reduzir os padrões de consumo em defesa do planeta, conclui um inquérito. 

06 de Setembro de 2016 às 00:33
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As pessoas com filhos pequenos, com idades entre os 24 e 44 anos, estão mais ligadas às questões ambientais e sensíveis à sustentabilidade porque "sentiram que, com a crise, quanto melhor ambiente, mais podem usufruir dele", disse hoje à agência Lusa a coordenadora do trabalho.

 

"Isso é uma coisa nova, não se valorizava tanto o ambiente, urbano ou natural, de uso gratuito, e as pessoas sentiram esta necessidade porque já não têm dinheiro para gastar em certo tipo de coisas", defendeu Luísa Schmidt.

 

Assim, concluiu, "valorizam mais aspectos que garantam a boa qualidade do ambiente até porque diminuíram as férias fora de casa e aproveitam os espaços naturais, as paisagens, e o ambiente funciona como compensação para a crise que retirou de certo modo [as pessoas] do consumismo".

 

O "Primeiro Grande Inquérito Sustentabilidade em Portugal", realizado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa para a Missão Sorriso, concluiu que, com a crise económica, "as pessoas foram obrigadas a parar e mudar os seus hábitos de consumo" e dividiram-se em dois grupos.

 

Um deles reúne os interessados em conhecer os processos de produção e a respeitar os direitos ambientais e sociais, que "ainda é um nicho", embora a opção por produtos biológicos "esteja a aumentar exponencialmente no país", explicou a investigadora.

 

"Alguns acabaram por melhorar a alimentação, comprando diferente, por exemplo, menos, mas de melhorar qualidade, são as pessoas com filhos, mais letradas, que não vivem com rendimentos muito difíceis, e que acabaram por seguir uma forma de vida mais sustentável", salientou. Mas, acrescentou a especialista, "há um grupo de 15% que tiveram uma grande desqualificação em termos alimentares, que vivem de uma forma muito aflitiva, com constrangimentos económicos e têm menos literacia".

 

Mais de 23% dos inquiridos respondeu que, com a crise, a sua alimentação se tornou mais saudável, embora sejam 64% aqueles que ficaram "sensivelmente na mesma".

 

Juntam-se os efeitos positivos e negativos da crise e, enquanto a transferência para produtos saudáveis foi apontada por 18,4% dos inquiridos, a redução do poder de compra é referida por 16%, e somente 1,3% diz que compra menos produtos supérfluos ou tem menos tempo para uma alimentação saudável.

 

No lazer, por causa da crise, deixou de fazer-se muita coisa e "a ida aos restaurantes é uma loucura", embora os portugueses já estejam a voltar, mas também foram afectadas as actividades culturais e idas ao ginásio, por exemplo, relata Luísa Schmidt.

 

Cerca de um terço dos inquiridos (31%) diz que passou a ir menos aos restaurantes, 14% refere que passou a levar as refeições para o trabalho e 11% passou a cultivar legumes, frutas ou ervas aromáticas.

 

No entanto, há ainda um terço que refere não ter alterado os seus hábitos de consumo, percentagem semelhante àquela dos que "não sabem" se estão disponíveis para reduzir os padrões de consumo, atendendo a que, se todas as pessoas do mundo consumissem assim, seriam necessários dois planetas. Cerca de 59% aceita mudar.

 

À pergunta sobre a que destinaria um aumento do orçamento familiar, a resposta mais frequente é poupança (46%) e férias (43%).

 

Luísa Schmidt também apontou que a luta contra o desperdício se tornou "uma evidência" entre os portugueses e "não estragar tanto é um grande mote na sociedade portuguesa, o que remete para práticas antigas, mas agora é uma visão moderna ligada à economia circular".

 

O inquérito presencial foi realizado de 7 de Abril a 7 de Maio, a 1.500 residentes em Portugal, com mais de 18 anos, numa amostragem aleatória atendendo a região, género, idade e escolaridade, com um intervalo de confiança de 95%.

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