Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

FMI: Abrandamento nas reformas custa meio ponto de crescimento

Portugal permanece "atrasado face à maioria dos seus pares e concorrentes" e o menor empenho reformista do Governo pagar-se-á em menos crescimento e desemprego mais elevado. Desequilíbrio externo resolvido à custa de desequilíbrio interno.

Miguel Baltazar/Negócios
18 de Maio de 2015 às 16:31
  • 7
  • ...

A economia portuguesa deverá crescer 1,6% este ano e 1,5% no próximo ano, beneficiando taxas de juro baixas, euro fraco e baixos preços do petróleo, mas estes bons ventos deverão desaparecer. Daí para a frente as condições estruturais da economia voltarão a ditar o crescimento e o abrandamento das reformas estruturais pagar-se-á em novo abrandamento económico, com a taxa de crescimento do PIB a estabilizar em 1,2% ao ano de 2019 em diante.

 

O diagnóstico do FMI já tinha sido avançado pelo chefe de missão do Fundo para Portugal na conclusão dos trabalhos da vista ao país ao abrigo do artigo IV, e é reafirmado no relatório publicado segunda-feira, dia 18 de Maio. Numa conferência telefónica Subir Lall defende que "reviram os impactos das reformas" e do crescimento potencial da economia portuguesa e que defendeu "Portugal precisa de aproveitar a oportunidade [de taxas de juro baixas, petróleo barato e euro fraco] para aumentar o potencial de crescimento da economia".

 

"Durante o programa, o staff tinha a posição que a implementação sustentada de reformas estruturais iria reverter o declínio do crescimento da produtividade observado no último meio século, resultando num crescimento de médio prazo de 1,75%. Com progressos mais limitados nas reformas estruturais, no entanto, o staff projecta agora crescimento em torno de 1,25% no médio prazo, cerca de 0,25 pontos abaixo da média da Zona Euro", lê-se no relatório.

 

O relatório reconhece um esforço significativo de ajustamento nos últimos anos, mas diz que "muitas das reformas estruturais implementadas em 2011 ainda precisam de ser totalmente implementadas" e que "é preciso revisitar ou acelerar muitas das reformas estruturais, especialmente nas áreas do sector público e financeiro". Isto porque, continuam os técnicos do FMI: "Portugal continua a atrasado face à maioria dos seus pares e concorrentes no comércio internacional, incluindo na Europa de Leste, no que diz respeito a reformas do mercado de trabalho e emprego".

 

Desequilíbrio externo corrigido à custa de desequilíbrio interno

 

Perante o diagnóstico, a equipa do FMI avalia que a situação é difícil no País. É certo que Portugal fez um esforço de reforma e ajustamento significativo, mas os níveis de endividamento continuam elevados, um desafio agravado pelo facto da correcção dos desequilíbrios externo e orçamental terem sido conseguidos à custa um desequilíbrio interne traduzido num nível de desemprego muito elevado.  

 

"Após uma década de défices da balança corrente elevados, Portugal conseguiu uma posição equilibrada durante [o programa] 2011-2014, mas à custa de uma grande perda de dinamismo interno", a qual se manifesta hoje, por exemplo, "num desaproveitamento do mercado de trabalho, com uma taxa de desemprego alargada [taxa de desemprego considerando os desempregados desencorajados e ajustamento aos 'part-time' involuntários] que ainda ronda os 20%", lê-se no documento, que recorda que a recuperação já tem quase dois anos sem que consiga "ser forte o suficiente para trazer o PIB e o emprego para níveis anteriores à crise".

 

É para combater este elevado nível de desemprego e gerar mais crescimento sem deteriorar as contas externas – "a mais importante prioridade de política" – que o FMI defende a urgência de mais reformas na economia, de forma a suportar uma estratégia de crescimento alicerçada no investimento e não tanto no consumo, defendeu também Subir Lall, na mesma intervenção telefónica. 

 

No relatório por si liderado, lê-se que "para absorver o excesso de desemprego através da criação de empregos, a economia necessita de aumentar o investimento, enquanto melhora a competitividade externa de forma a evitar gerar desequilíbrios externos. Para um membro de uma união monetária com espaço orçamental limitado isto só pode ser conseguido através de reformas estruturais".

Ver comentários
Saber mais FMI reformas estruturais crescimento Subir Lall
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio