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Dívida da dona da Visão fixada em 32,2 milhões. Estado perde 17 milhões se a empresa falir
Afinal, a Trust in News deve 8,1 milhões de euros ao Fisco, contra os menos de sete milhões que tinha indicado em sede de PER, de acordo com a lista de credores elaborada pelo administrador judicial. Salvar ou mandar a empresa para liquidação, a decisão cabe ao Estado.
Aquando da adesão ao Processo Especial de Revitalização (PER), a Trust in News (TIN), dona de 16 órgãos de comunicação social - entre os quais a Visão, a Exame, a Caras e a Courrier International – indicou uma dívida de 29,9 milhões de euros, dos quais 8,9 milhões à Segurança Social e quase sete milhões ao Fisco.
Entretanto, de acordo com a lista provisória de credores elaborada pelo administrador judicial provisório nomeado pelo tribunal, que foi publicada no Citius esta sexta-feira, 5 de julho, a dívida total da TIN é de 32,252 milhões de euros.
Feitas as contas, regista-se um aumento de 2,4 milhões de euros entre os créditos indicados pela TIN e os que foram reconhecidos pelo gestor judicial, que se deve, grosso modo, ao aumento da dívida ao Fisco, para 8,125 milhões de euros, e ao incremento de créditos sob condição.
Trust in News "não é proprietária de quaisquer bens móveis ou imóveis"
Ora, tendo a haver 17 milhões de euros, o Estado detém mais de metade (53%) dos créditos reconhecidos em sede de PER da TIN, pelo que o plano de recuperação proposto pela empresa só poderá ser aprovado com o voto favorável das entidades estatais.
E se o Estado decidir chumbar o plano de recuperação, enviando a TIN para liquidação? Nesse caso, apesar de ser o primeiro a receber do que vier a ser apurado com a venda dos ativos da empresa, após o pagamento de dívidas da massa insolvente, deverá recuperar pouco ou mesmo nada.
É que, como a TIN reconhece, a empresa "não é proprietária de quaisquer bens móveis ou imóveis, laborando em Lisboa e Porto por via de contrato de prestação de serviços, sendo ainda outorgante de contrato de aluguer de impressoras e contrato de aluguer de veículos automóveis".
Ou seja, se não for assegurada a continuidade da Trust in News, que emprega atualmente 171 pessoas, a massa falida da empresa terá praticamente apenas as marcas para, em processo de liquidação de ativos, tentar recuperar algum dinheiro.
Pagar metade da dívida aos bancos e fornecedores daqui a 15 anos
A proposta de reestruturação da dívida da TIN, vertida no plano de recuperação da empresa em sede de PER, aponta para o pagamento das dívidas à Segurança Social e ao Fisco em 150 prestações mensais e sucessivas. Já aos bancos e restantes credores, propõe-se pagar, após 24 meses de carência, 55% do capital em prestações mensais entre o 25.º e o 179.º mês, liquidando os remanescentes 45% na 180.ª prestação. "Pormaior": Nos caso dos fornecedores, é pedido "perdão total de juros de mora vencidos e vincendos".
Com dívidas a 180 credores, depois da Segurança Social e do Fisco, o terceiro maior credor da TIN é a Impresa, a dona da SIC e do Expresso, à qual a empresa unipessoal de Luís Delgado – com um capital social de apenas 10 mil euros – adquiriu aquelas publicações, há meia dúzia de anos, por 10,2 milhões de euros, dos quais reconhece que falta ainda pagar cerca de 4,4 milhões.
O quarto maior da lista de credores da unipessoal de Luís Delgado – antigo jornalista, ex-administrador da Lusa e comentador de política – é o Novo Banco, que tem a haver 3,5 milhões de euros.
A propósito, a TIN queixa-se que "o cancelamento da linha de factoring que a empresa tinha contratada junto do Novo Banco com a [distribuidora] Vasp, cancelamento este feito por iniciativa do Novo Banco em meados de 2019 e que contribuiu para o início das dificuldades financeiras da empresa, asfixiando de imediato a tesouraria de curto prazo da sociedade".
Perdeu mais de um terço da faturação em quatro anos para 11 milhões de euros
A TIN perdeu 37% das suas receitas em quatro anos, "passando de 17,5 milhões de euros em 2019 para um valor estimado em 2023 de cerca de 11 milhões de euros", reporta a empresa no PER.
No rol de credores da TIN estão também entidades como os CTT (dois milhões de euros), BCP (717 mil euros), Lusa (33.553 euros), APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (22.647 euros), ANJE (4.346 euros), Misericórdia do Porto (4.071 euros) e até o Sport Lisboa e Benfica (9.941 euros).
O administrador judicial provisório da TIN, que foi proposto e nomeado pelo tribunal, é Bruno Costa Pereira, um dos mais conceituados administradores de insolvência do país, que já lidou com alguns dos maiores processos de recuperação dos últimos anos, como foram os casos da Sousacamp (cognominado "rei dos cogumelos"), da Acuinova ou da Groudforce.
Decorre agora até à próxima sexta-feira, 12 de julho, o prazo para qualquer interessado poder impugnar a lista de credores da TIN. As negociações com os credores, tendo como base o plano de recuperação apresentado pela empresa, deverão arrancar a 15 de julho, tendo como prazo-limite 15 de setembro, podendo ser prorrogado até 15 de outubro.
(Notícia atualizada às 14:48)