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A poluição plástica pode ser reduzida em 80% até 2040 se os países e as empresas fizerem mudanças profundas nas políticas e no mercado usando as tecnologias existentes, revela um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O documento foi divulgado antes da segunda ronda de negociações em Paris sobre um acordo global para combater a poluição plástica e descreve a magnitude e a natureza das mudanças necessárias para acabar com a poluição por plástico e criar uma economia circular.
Na altura em que se assinala o Dia Internacional da Reciclagem, a 17 de maio, o relatório "Fechar a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular" foca-se em soluções e analisa práticas concretas, mudanças de mercado e políticas públicas para impulsionar decisões governamentais e ação empresarial.
"A maneira como produzimos, usamos e descartamos os plásticos está a poluir os ecossistemas, criando riscos para a saúde humana e desestabilizando o clima", refere Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA. "Este relatório apresenta um roteiro para reduzir drasticamente esses riscos através da adoção de uma abordagem circular que mantém os plásticos fora dos ecossistemas e dos nossos corpos e dentro da economia. Se seguirmos esse roteiro, inclusive nas negociações sobre o acordo de poluição plástica, poderemos obter grandes ganhos económicos, sociais e ambientais", acrescentou.
Para reduzir a poluição plástica em 80% em todo o mundo até 2040, o PNUMA diz que é preciso fazer uma mudança no mercado, eliminado os plásticos problemáticos e desnecessários e apostando na reutilização e reciclagem.
Com a reutilização, incluindo garrafas reabastecíveis, dispensadores a granel, programas de caução, planos de devolução de embalagens etc., pode reduzir-se em 30% a poluição por plástico até 2040.
Acresce a redução de mais 20% até 2040 se a reciclagem se tornar mais estável e lucrativa, refere o PNUMA. A remoção dos subsídios aos combustíveis fósseis, a aplicação de diretrizes de design para melhorar a reciclagem e outras medidas podem aumentar a parcela de plásticos economicamente recicláveis de 21% para 50%.
Já a substituição de produtos feitos de materiais alternativos (como papel ou materiais compostáveis) pode proporcionar uma redução adicional de 17% na poluição plástica.
Mesmo com as medidas acima, 100 milhões de toneladas de plásticos vindos de produtos de vida curta e uso único ainda precisarão de ser geridas anualmente e com segurança até 2040 - juntamente com um legado significativo da poluição plástica existente no meio ambiente. Para isso, são necessárias ações como a definição de padrões de design e segurança para o descarte de resíduos plásticos não recicláveis, bem como a sua implementação, e a responsabilização dos fabricantes por produtos que libertem microplásticos.
No geral, a mudança para uma economia circular resultaria numa poupança de 1,27 bilião de dólares, considerando custos e receitas de reciclagem. Outros 3,25 biliões de dólares seriam economizados com externalidades evitadas, como saúde, clima, poluição do ar, degradação do ecossistema marinho e custos relacionados com litígios.
Essa mudança também pode resultar num aumento líquido de 700 mil empregos até 2040.
Os custos de investimento para a mudança recomendada são significativos, mas menores do que os gastos sem essa mudança sistémica: 65 mil milhões de dólares versus 113 mil milhões de dólares por ano, conclui o relatório.
O relatório recomenda que uma estrutura fiscal global seja incluída nas políticas internacionais para viabilizar a concorrência em igualdade de condições dos materiais reciclados com os materiais virgens, criando uma economia de escala para soluções e estabelecendo sistemas de monitorização e mecanismos de financiamento.
A União Europeia (UE) também acaba de divulgar o quadro revisto de monitorização da economia circular da Comissão Europeia, onde indica que são necessários progressos mais rápidos para se atingirem as metas de eficiência sustentável na utilização dos recursos.
Os dados mostram que, embora a produção da UE se tenha tornado mais eficiente em termos de recursos, o consumo de materiais na UE continua a ser muito elevado e precisa de diminuir. Em 2020, cada europeu foi responsável por 35kg de resíduos de embalagens de plástico, o que representa um aumento de 25% em relação a 2010.
A UE está a gerir os resíduos de forma mais sustentável, mas subsistem grandes diferenças entre os estados-membros e são necessários esforços consideráveis para melhorar a gestão de alguns fluxos de resíduos, em especial os plásticos, indica o documento.
"O quadro de acompanhamento revisto salienta a necessidade de acelerar a transição para uma economia circular, que tem vindo a expandir-se em termos de investimentos, valor acrescentado, emprego e inovação na UE. A circularidade torna o nosso modelo de crescimento mais sustentável, competitivo e resiliente aos desafios atuais e futuros em matéria de energia e segurança do aprovisionamento", defende o comissário responsável pelo Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevicius.