Opinião
Se o Diabo vier, vão perceber
O sintoma ainda é ténue, mas o estado de graça do Presidente da República já não é o que era. Comentadores começam a criticar, apoiantes começam a estrebuchar, barões da direita não gostam de o ver "com o Costa ao colo". Acusam-no de se armar em primeiro-ministro, acham-no excessivamente exposto e facilitista.
Marcelo é Marcelo. Professor de Direito Constitucional, não o apanharão em contramão por usar poderes que não tem; político endémico, não lhe darão lições de estratégia; e genuíno como poucos nos contactos interpessoais, não o conseguirão travar na magistratura de afectos que, com sucesso, pôs a correr para não parar. Exagera? Exagera! Cansa? Talvez. Corre riscos? Corre. Mas o que Marcelo Rebelo de Sousa está a fazer em primeiríssimo lugar é a segurar o país com pinças. Porque sabe que a pátria está fraquinha, que a maioria que a governa é instável, que o mundo está muito perigoso e que os mercados são selvagens.
Iludir a realidade é um erro e é disso que muitos começam a acusar o Presidente. Mas não é isso que Marcelo tem feito. Ao lado de António Costa, tem metido o pé na porta para ajudar a evitar o pior. Exigindo reformas, concordando com as instâncias internacionais que nos pedem reformas estruturais e pedindo que se faça "mais e melhor". Mas puxando sempre pelos resultados, poucochinhos, mas positivos, que o país tem para apresentar no exterior.
Marcelo sabe que não é com o Bloco e o Partido Comunista que se fazem as reformas económicas de que o país precisa. E por isso não se cansa de pedir uma alternativa forte e clara ao Governo das esquerdas. Mas também sabe que é preciso travar a fundo uma crise política. Antes de ver o Governo consolidar o sistema financeiro e tirar Portugal dos procedimentos por défice excessivo, o Presidente segura as pontas e faz frente a relatórios desta vida, lembrando que dizem o que costumam dizer – "sem alterações significativas" –, e instituições internacionais que não tiram os olhos da banca portuguesa – "se há coisa que lamentamos é que a troika não tenha descoberto isso há mais tempo".
Mais vale tarde do que nunca, de facto. E Marcelo enumera os passos: aumento de capital do BCP, clarificação no BPI, fim do impasse na Caixa, venda do Novo Banco "a dois passos", o malparado com solução (qual?) pré-anunciada pelo ministro das Finanças. Chegados à Primavera, se a banca tiver saído da zona de risco e Portugal tiver saído da lista negra dos défices, Marcelo respira fundo. E vira a página para onde lhe interessa: pedir reformas, pedir estratégia, pedir uma agenda, pedir mais e melhor.
Para já, o que o Presidente da República está a fazer é muito mais do que parece. Se o Diabo vier, vão perceber.
Iludir a realidade é um erro e é disso que muitos começam a acusar o Presidente. Mas não é isso que Marcelo tem feito. Ao lado de António Costa, tem metido o pé na porta para ajudar a evitar o pior. Exigindo reformas, concordando com as instâncias internacionais que nos pedem reformas estruturais e pedindo que se faça "mais e melhor". Mas puxando sempre pelos resultados, poucochinhos, mas positivos, que o país tem para apresentar no exterior.
Mais vale tarde do que nunca, de facto. E Marcelo enumera os passos: aumento de capital do BCP, clarificação no BPI, fim do impasse na Caixa, venda do Novo Banco "a dois passos", o malparado com solução (qual?) pré-anunciada pelo ministro das Finanças. Chegados à Primavera, se a banca tiver saído da zona de risco e Portugal tiver saído da lista negra dos défices, Marcelo respira fundo. E vira a página para onde lhe interessa: pedir reformas, pedir estratégia, pedir uma agenda, pedir mais e melhor.
Para já, o que o Presidente da República está a fazer é muito mais do que parece. Se o Diabo vier, vão perceber.
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