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16 de Outubro de 2017 às 23:00

Seja proactiva, vá de férias

Sessenta e quatro, mais 36 (até à hora de fecho deste texto). Não é um número, são pessoas.

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Morreram nos incêndios e já não há nada a fazer, a não ser enterrar os mortos e cuidar dos vivos. E para se cuidar dos vivos é preciso desprendimento. Precisamente aquilo que parece não estar ao alcance da ministra Constança Urbano de Sousa.

A pergunta é escolar. Afirmação de uma ministra: "O fácil para mim seria a demissão. Seria fácil. Acha que o problema estava resolvido?" Não, não achamos que o problema se limite ao autocentrismo da ministra. O problema é outro e simples: a ministra não o consegue resolver. Provavelmente, nem Constança nem outra ministra ou ministro que venha. Mas há, nesta história trágica, um pormenor fundamental: os portugueses já não confiam em Constança Urbano de Sousa. Tudo o que acontecer de mau vai ter o seu rosto - provavelmente servindo de escudo a quem, meses antes da época de fogos, desmantelou a estrutura de comando da Protecção Civil. O próprio primeiro-ministro.

No domingo - "o pior dia do ano" -, ninguém se apercebeu verdadeiramente da dimensão da tragédia. Ninguém, desde bombeiros, autarcas, cadeia de comando, políticos, curiosos e, quem sabe!?, pirómanos, deu expressão ao que poderia ser a consequência humana do pior dia do ano. Quase parece que entrámos numa normalidade sinistra, ao aderirmos, sem consciência, ao modismo das "fake news". Seja o que for…

O que não pode ser aceite como natural e tranquilizador é a tradução verbal da resignação do chefe do Governo: ele não tem uma "solução mágica" e "o país tem de estar consciente de que a situação que estamos a viver vai seguramente prolongar-se para os próximos anos". Ou seja, habituem-se!

Aceitemos como vertical e honesta a declaração de António Costa. Quer dizer que este ano morrem 100, para o ano morrem uns quantos, mais ou menos ninguém pode garantir, e assim por diante como se o fim do mundo estivesse a chegar às aldeias e florestas do país. Não é assim que se tranquiliza uma comunidade - e essa é uma responsabilidade primeira de todo o chefe político, por muito que o problema pareça irresolúvel. Não é prometer irresponsavelmente que não voltará a acontecer; mas é recusar-se à resignação de que irá voltar a acontecer.

Claro que não é nada que não tenha solução. Mas teremos sempre de começar, por muito que custe não ser o melhor de uma solução, por matar o mal. E o mal está, também, na pirâmide de responsabilidade política. Não é aceitável que um secretário de Estado, por muito esforçado que seja e é, se zangue com as comunidades que, no seu entender, devem ser proactivas e não ficar "à espera que apareçam os bombeiros". Jorge Gomes está manifestamente esgotado. Viu muito, também sofreu muito, e deixou de conseguir pensar.

Tal como na evolução hierárquica, a ministra que rejeita sair. Porquê? Porque, de facto, o problema não ficaria resolvido. É verdade o que diz Constança: "Ia-me embora, ia ter as férias que não tive." Não passa pela cabeça da ministra que há muitos portugueses que não têm um euro para férias. Muitos não foram porque ficaram a reconstruir as suas propriedades, e outros que nem sequer tiveram tempo: morreram. Porque não foram proactivos contra as chamas.

António Costa não pode continuar a aceitar estes comportamentos políticos. E Marcelo não pode esperar eternamente uma "rápida estabilização dos fogos" para dizer ao país o que pensa - e vai fazer - desta tragédia.

Onde quer que vá, a ministra é tema de conversa pelas piores razões, pela incredulidade de todos quanto à sua permanência. É um zombie político. E é impossível liderar - ainda para mais forças como as que tutela - se não for respeitada. Senhora ministra, vá ter as suas férias. O país, que duvida da sua competência, não duvida do seu empenho. Mas não chegou, infelizmente, e agora é tarde. n
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