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Raul Vaz raulvaz@negocios.pt 26 de Outubro de 2017 às 23:00

Chocados? Habituem-se!  

Marcelo sabe mais de intriga e estratégia política que todos nós. Não há inocentes neste bate-boca. O que Marcelo faz, desarmando o outro lado, é colocar as questões de uma forma até simplista, mas clarificadora, porque centra o essencial: de um lado, a trica e a política de gabinete; do outro, as pessoas, as vítimas, aquilo que interessa.

A transparência do processo é cristalina. Depois de muitos dias a desempenhar desconfortavelmente o solitário papel de mau da fita, o Governo finalmente virou-se a Marcelo. Um artigo do Público dá voz ao sentir do Executivo, que ficou "chocado" com o duríssimo discurso de Marcelo que precedeu a demissão da ministra da Administração Interna.

 

Isto porque, segundo o mesmo artigo, o Presidente esteve sempre informado de tudo: do calendário de saída da ministra fragilizada e até das medidas que o Conselho de Ministros extraordinário sobre as florestas iria aprovar. Desfaz-se assim a narrativa simples de que a ministra só saiu depois do ataque mortal de Marcelo, e até de que o Governo deu corda aos sapatos depois do muito público puxão de orelhas do mesmo.

 

A reacção de Marcelo foi à Marcelo. "Entendo que há duas maneiras de ver a realidade. Uma é o diz-que-disse especulativo de quem ficou mais chocado com quem. Se A com B, se B com A. Outra é dizer que chocado ficou o país com a tragédia vivida. Eu entendo que a forma correcta é a segunda." Limpinho, limpinho.

 

Marcelo sabe mais de intriga e estratégia política que todos nós. Não há inocentes neste bate-boca. O que Marcelo faz, desarmando o outro lado, é colocar as questões de uma forma até simplista, mas clarificadora, porque centra o essencial: de um lado, a trica e a política de gabinete; do outro, as pessoas, as vítimas, aquilo que interessa.

 

A palavra choque tem uma enorme força e vários significados. O choque é sempre doloroso, ou não seria choque. Depois pode é ser gratuito ou justificado, e pode ser vácuo ou profícuo. Na melhor das hipóteses, é o choque que nos faz reagir, é ele que nos faz mexer, é ele que nos faz responder e seguir em frente. Esse é o choque que constrói, e no qual acredito.

Voltando a Marcelo, e ao essencial, as pessoas. É para elas que os titulares de cargos públicos trabalham. É para elas que trabalham os gestores, as empresas, até os jornais. Para uma comunidade que engloba quem serve e os que são servidos, numa sintonia de valores que, idealmente, dilui as fronteiras entre uns e outros.

 

Não há estratégia que viva sem as pessoas, e muito menos uma estratégia que substitua as pessoas. Que o choque seja fecundo e nos faça, a todos, ser melhores.

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