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Raul Vaz raulvaz@negocios.pt 05 de Outubro de 2017 às 23:00

Disciplina e tautau

Quando a notícia é um jantar algures nos arredores de Lisboa que junta Manuela Ferreira Leite, Ângelo Correia e Nuno Morais Sarmento para decidirem o futuro do PSD, parece que, pelo contrário, voltámos ao passado.

Sejamos generosos, acreditando que estes ilustres membros do partido e da política portuguesa nos últimos 40 anos estão verdadeiramente preocupados com o país. E estão, certamente, porque cada um por si e todos em conjunto têm mais do que fazer na vida.

Parece, então, que todos e mais alguns que desenham há dois anos em "think tanks" paroquiais uma solução para o partido encontram em Rui Rio o homem providencial. E desta vez, ele desce à capital para moldar um país diferente, moderno, direitinho como uma direita gosta de o sentir. E vai ganhar o partido antes de conquistar o país. Boas notícias para o PSD e, admitamos, também para o PPD/PSD.

Rui Rio é um homem sério, austero, bom aluno da escola alemã. No actual contexto europeu, são características que se revelam qualidades que nenhuma comunidade deve desprezar. Pelo contrário, quem tem um homem assim à mão de semear deve regá-lo com carinho e devoção.

Acontece que Rui Rio nada fez de extraordinário na sua vida política. Sim, ganhou o Porto a Fernando Gomes quando ninguém previa, foi financeiro de Marcelo no partido, avançou e recuou quando era preciso coragem. De resto, conspirou, enquanto alardeava o seu desprezo pela conspiração.

Acontece que este país espera pela genialidade de Rio há demasiado tempo. E, entretanto, mudou. Não é mais o país de cartas conspirativas de Eurico de Melo e Cavaco Silva na imprensa semanal, não é o partido dos jantares ou almoços de felizes coincidências. Rio é Cavaco num paradigma perdido no tempo.

Claro que o perfil austero e severo tem admiradores. E seguidores que podem garantir uma vitória. Dirão mesmo, numa maioria silenciosa, que é disso que o partido está a precisar. Disciplina e tautau. Daí para o país será um pulo e poderá render votos, numa sociedade em que o respeitinho ainda conta alguma coisa.

É neste paradoxo que devem surgir alternativas além da influência secular de Manuela Ferreira Leite ou de Ângelo Correia. E, para bem de um partido que está longe de acabar, há mais. Desde os SMS de apelo a Pedro Santana Lopes às cabeças privilegiadas de Paulo Rangel e Nuno Morais Sarmento.

A encruzilhada em que o partido está é tão triste que basta alguém levantar o braço para indicar um rumo, e tem boas hipóteses de ser seguido. Mas é esta tristeza de um partido com pouco a perder que deveria, também, abrir a discussão. Permitir-lhe ser ousado, ser criativo, ser livre, ser original, ter a tranquilidade de até poder errar.

Da diversidade pode nascer o tal rumo, que os militantes escolherão. Além das tácticas partidárias, o PSD e o país só têm a ganhar com uma disputa clara, participada, empolgada e arejada, mais do que uma escolha simplesmente por "default", que até menosprezaria o próprio líder escolhido. Há mundo, além da disciplina e tautau. 

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