Notícia
Tarifas de Trump afundam Wall Street. S&P com pior dia em quase cinco anos
Acompanhe aqui, minuto a minuto, o desempenho dos mercados desta quinta-feira.
Meloni quer tarifas norte-americanas abolidas e não multiplicadas
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, defendeu hoje que as taxas alfandegárias impostas por Washington devem ser abolidas e não multiplicadas.
"Precisamos de iniciar uma discussão franca sobre a substância com os norte-americanos, com o objetivo, na minha opinião, de abolir os direitos aduaneiros, não de os multiplicar", argumentou a italiana, numa breve entrevista à emissora pública Rai1, referindo-se a uma possível retaliação por parte da União Europeia.
Depois de ter lamentado a "má medida" na quarta-feira, a governante cancelou hoje a sua agenda para se concentrar na introdução das novas tarifas decididas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, tendo convocado uma reunião com os seus principais ministros.
"Temos obviamente um problema, mas não é certamente a catástrofe de que algumas pessoas estão a falar", comentou esta noite Meloni, que fará "um estudo do impacto real setor a setor" relativamente a Itália.
Também informou que se reunirá com representantes dos vários setores "na próxima semana" para "procurar as melhores soluções".
A nível europeu, "temos obviamente de partilhar as nossas propostas com os parceiros europeus", anunciou a italiana, para quem não é a melhor solução "responder a direitos aduaneiros com outros direitos aduaneiros".
Denunciando "os direitos aduaneiros que a União Europeia se impôs a si própria", apelou a que se repensem as "regras ideológicas" do Pacto Verde - o ambicioso plano climático da UE que visa a neutralidade carbónica até 2050 - citando os prejuízos sofridos pela indústria automóvel, atingida por direitos aduaneiros de 25% dos EUA.
"Talvez seja necessário rever o Pacto de Estabilidade nesta fase", sugeriu.
Tarifas de Trump afundam Wall Street. S&P com pior dia em quase cinco anos
No primeiro dia de negociação após o anúncio das tarifas recíprocas da Administração Trump, a resposta de Wall Street foi extremamente penalizadora, com as ações a afundarem e os investidores a procurarem ativos de refúgio.
O abrangente índice S&P 500 tombou 4,75% para 5.401,77 pontos, registando o pior dia de negociação em quase cinco anos e perdendo cerca de 2 biliões de dólares em capitalização de mercado. O industrial Dow Jones recuou 3,98% para 40.545,93 pontos e o Nasdaq afundou 5,97% para 16.550.61 pontos – as maiores quedas desde setembro de 2022 e março de 2020, respetivamente.
O S&P entrou ainda em terreno de correção, descendo para o nível mais baixo desde que Trump foi eleito, em novembro. O índice caiu cerca de 12% face ao recorde atingido em fevereiro.
Entre os principais movimentos de mercado, a Apple, que fabrica grande parte dos iPhones na China, afundou 9,25%, enquanto o restante setor tecnológico não escapou ao sentimento negativo: a Tesla perdeu 5,52% e Nvidia recuou 7,82%.
O mercado reagiu negativamente ao anúncio de tarifas pela administração Trump, na quarta-feira, sobre dezenas de países, que podem ir de uma taxa básica de 10% até valores mais elevados, como de 20% para a UE e de 34% para a China (a que se somam os 20% já aplicados sobre bens chineses).
O objetivo é eliminar as práticas comerciais que a administração Trump considera injustas e compensar as barreiras à entrada dos produtos dos EUA, arrecadando ao mesmo receitas fiscais e fomentando a reindustrialização do país.
Contudo, os analistas alertam para as consequências, como uma possível aceleração da inflação e uma entrada em recessão. "Este é o pior cenário para as tarifas", refere Mary Ann Bartels, da Sanctuary Wealth, à Bloomberg. "Se estas tarifas continuarem, a economia vai abrandar. Se vai ser uma recessão ou não, é claro que a economia encaminha-se para uma recessão nos EUA e por todo o mundo", refere.
Os mercados estão atentos agora ao relatório do emprego dos EUA e a um discurso do presidente da Reserva Federal (Fed), Jerome Powell, sobre o "outlook" económico, agendados para sexta-feira, que poderão dar mais pistas de negociação aos investidores depois da derrocada das ações desta quinta-feira.
Fabricantes de smartphones apanhados pelas tarifas
As tarifas de Donald Trump estão a apanhar as empresas de tecnologia numa "tempestade", principalmente as fabricantes de smartphones e de hardware.
O movimento do presidente dos Estados Unidos da América (EUA) promete um aumento dos custos, uma redução na procura por parte dos consumidores e uma tensão na cadeia de fornecimento a nível mundial.
E o impacto destas tarifas já se está a sentir nos mercados. A Apple está a recuar 9,30% para 203,06 dólares, a Broadcom perde 9,08% para 156,48 dólares, a Amazon cai 8,01% para 180,30 dólares, a Dell Technologies afunda 17,60% para 78,54 dólares e a Intel desliza 4,89% para 20,91 dólares. Também a Nvidia, uma das principais empresas de semicondutores, cai 7,26% para 102,42 dólares.
Com estas empresas a terem grandes centros de produção na China, um dos parceiros comerciais mais afetados pelas tarifas do "Dia da Libertação", o impacto é notório e a proposta é mudarem a produção para os EUA ou para outros parceiros na Ásia.
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Trump sobre reação dos mercados às tarifas: "Está a correr muito bem"
Apesar da queda da generalidade das bolsas a nível mundial após a apresentação das tarifas "recíprocas", o Presidente dos EUA mantém-se confiante. Questionado sobre a reação dos mercados, Donald Trump afirmou "está a correr muito bem", citado pela Bloomberg. "Os mercados vão explodir", acrescentou.
"Foi uma operação, é como quando um paciente é operado. É algo muito importante. Sempre disse que seria assim. Vamos ter seis ou sete biliões de dólares a entrar no nosso país. Nunca vimos nada assim. Os mercados vão explodir, as ações vão explodir, o país vai explodir. E o resto do mundo vai querer chegar a acordo", disse Trump à saída da Casa Branca. "Vai ser incrível."
Os investidores e analistas de Wall Street parecem ter outra opinião, com o mercado acionista a perder cerca de 3 biliões de dólares em valor de mercado, de acordo com as contas da Bloomberg. Na Europa, registou-se a pior sessão em bolsa desde agosto.
Na quarta-feira, Trump anunciou uma série de tarifas recíprocas sobre dezenas de países para contrariar o que diz serem práticas comerciais injustas, impondo, por exemplo, taxas de 20% sobre a União Europeia e 34% sobre a China.
Ações europeias têm pior dia desde agosto. Wall Street já perde 3 biliões
As ações europeias sofreram o pior dia em oito meses do anúncio de novas tarifas globais pelo Presidente Donald Trump, incluindo uma taxa de 20% sobre a União Europeia. O Stoxx 600 perdeu 2,6% e a generalidade das praças fechou no vermelho: o francês CAC 40 perdeu 3,3%, o alemão DAX recuou 3% e o britânico FTSE 100 cedeu 1,55%. O dinamarquês OMXC25 não só perdeu 2,4% como entrou em "bear market".
Os bancos europeus — que lideram a subida este ano até agora — estiveram entre os setores mais afetados, ao caírem 5,5%. Os fabricantes de automóveis também foram afetados, alargando as perdas acumuladas no ano para 7,2%, já que as tarifas de Trump sobre as importações de automóveis dos EUA entraram em vigor pouco depois da meia-noite em Washington.
Johanna Kyrklund, diretora de investimentos do grupo Schroders explica que o anúncio acabou de ser de tarifas mais elevadas do que o esperado pelo que "as nossas previsões económicas estão a ser ajustadas em baixa, com uma expectativa de crescimento do PIB dos EUA de cerca de 1% para 2025", indicou. "Isto leva-nos a reduzir o nosso peso em ações, e vemos valor nas obrigações soberanas como uma proteção contra o risco de recessão pela primeira vez neste ciclo. Continuamos a gostar do ouro, uma vez que beneficia tanto do crescimento mais fraco como do risco mais estrutural representado pelo aumento dos níveis de endividamento".
A perspetiva parece ter sido partilhada pelos investidores que fugiram das ações mundiais, tendo procurado refúgio. Nos Estados Unidos, os receios estão a causar perdas de 4,5% no S&P 500 e de 5% ao Nasdaq 100. Em conjunto, o mercado acionista já perde cerca de 3 biliões de dólares em valor de mercado, de acordo com as contas da Bloomberg.
Lisboa acabou por ser uma exceção a nível global, com o principal índice nacional a encerrar a sessão desta quarta-feira em alta ligeira. Os fortes ganhos da EDP permitiram que o PSI avançasse 0,13% para 6.967,03 pontos, com 11 cotadas em queda e quatro em alta.
Ouro cede após recorde com retirada de mais-valias
Depois de ter atingido um novo máximo histórico esta manhã, o ouro segue em queda, com os "traders" a aproveitarem para retirar mais-valias, depois de o metal amarelo ter subido para os 3.167,57 dólares por onça.
O ouro desvaloriza a esta hora 0,87%, para os 3.108,070 dólares por onça.
Apesar da queda registada, é expectável que o ouro continue a registar ganhos durante os próximos tempos. As tarifas "recíprocas", que geram incerteza e preocupação quanto ao crescimento económico e o desenho das trocas comerciais a nível global, poderão impulsionar o metal amarelo, que é visto como sendo um ativo refúgio em tempos de incerteza geopolítica.
Nesta linha, Gregor Hirt, diretor de investimento global em multiativos da Allianz Global Investors, e Martin Hochstein, economista sénior da mesma empresa, dizem, numa nota a que o Negócios teve acesso, que o ouro continua a ser a principal escolha dos especialistas enquanto ativo refúgio.
"O ouro continua a ser a nossa opção de maior convicção, impulsionado por uma dinâmica robusta e pelo seu papel de proteção contra os riscos geopolíticos. É também tranquilizador o facto de o ouro em barra ter sido um dos artigos isentos das tarifas dos EUA, apoiando a sua negociabilidade. Na nossa opinião, o metal amarelo é um diversificador útil nas carteiras de ativos múltiplos", referem os especialistas na mesma nota. "Os preços do ouro atingiram novos máximos e pensamos que os bancos centrais dos mercados emergentes e os investidores de retalho irão aumentar ainda mais o seu valor", acrescentam.
O sentimento negativo espalhou-se pelo mercado, o que levou os investidores a uma corrida para os ativos-refúgio, como os metais. Aliás, o ouro e outros minerais, como acima explicado, escaparam à lista de barreiras ao comércio do Presidente dos EUA.
Juro da dívida dos EUA cai abaixo dos 4%. Yields europeias também aliviam
O juro das Treasuries norte-americanas a 10 anos caiu abaixo dos 4% pela primeira vez desde outubro, quando Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos, à medida que Wall Street mostra receios que a economia dos Estados Unidos acabe por sair prejudicada pela guerra comercial. A "yield" de referência do país chegou a recuar até 13 pontos-base para 3,997%. A esta hora, recua 7,8 pontos-base para 4,053%.
A tendência de queda das "yields" está a ser transversal a todas as maturidades, uma vez que os mercados monetários estão a incorporar uma possibilidade de 50% de a Reserva Federal (Fed) norte-americana efetuar quatro reduções de taxas de um quarto de ponto este ano, um cenário que não era sequer tido em consideração na quarta-feira. O primeiro corte está agora previsto para junho. No entanto, os riscos de inflação dos EUA decorrentes das tarifas levaram os economistas do Morgan Stanley a adiar a sua previsão para o próximo corte das taxas da Fed de junho para o início de 2026. Prevêem uma taxa terminal de 2,50% a 2,75%.
"As taxas de juro das obrigações estão a cair globalmente e de forma uniforme em toda a curva. O mercado está a interpretar as tarifas como tendo um impacto predominantemente no crescimento, ao qual os bancos centrais terão de reagir", explica Brij Khurana, gestor de portefólio de obrigações da Wellington Management. "Não tenho tanta certeza quanto a isso", admite.
"O mercado assume que a Fed irá analisar o impacto único das tarifas sobre os preços de forma semelhante à sua abordagem em 2018. No entanto, a inflação era muito mais baixa em 2018 do que é atualmente e as expectativas estavam muito mais bem ancoradas. Com a inflação ainda acima da meta, a Fed vai querer ser paciente para ver se as tarifas mais extremas farão com que as medidas de inflação aumentem. Uma Fed em espera num futuro previsível poderá significar que quaisquer preocupações com o crescimento se refletirão em rendimentos de longo prazo mais baixos em comparação com a parte frontal da curva de obrigações", indica.
Tal como no caso da Fed, os investidores aumentaram também as apostas na flexibilização monetária por parte do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco de Inglaterra, reforçando as hipóteses de ambos levarem a cabo mais três cortes este ano. Com este ajustamento de expectativas e a preocupação de que o aumento mais acentuado num século das tarifas dos EUA venha a travar o crescimento económico, o forte movimento de compra nos mercados obrigacionistas mundiais está a levar os rendimentos das obrigações europeias e britânicas a caírem também.
Pela Europa, os juros das dívidas soberanas aliviaram em toda a linha. A "yield" das Gilts britânicas a 10 anos afundou 12,5 pontos-base para 4,518%, enquanto o juro das Bunds alemãs (referência para a Zona Euro) caiu 7 pontos-base para 2,649%. Entre os restantes países da região, a evolução foi menos acentuada. Em França, a "yield" recuou 5 pontos-base para 3,375%, em Itália desceu 4,3 pontos para 3,771%, em Espanha caiu 4,1 pontos para 3,302% e em Portugal recuou 4 pontos-base, para 3,184%.
Turismo teme que política “antiglobalização” suba preços e “afaste as pessoas”
"O que está a acontecer não é bom". A Confederação do Turismo (CTP) ainda não sentiu "qualquer impacto no curto prazo", mas teme que a inflação provocada pelas tarifas anunciadas por Trump acabe por "afastar as pessoas" comprometendo por exemplo os mercados americano e canadiano.
"No caso do turismo ainda não sentimos qualquer impacto no curto prazo mas é evidente que a longo prazo o aumento vai haver de todos os preços isto é claramente uma política antiglobalização", disse Francisco Calheiros, presidente da CTP, no final de uma reunião de concertação social. "A antiglobalização afasta as pessoas. A indústria do turismo é exatamente o contrário, é uma indústria que tenta aproximar as pessoas."
"E portanto temo que isto venha a ter consequências para o turismo a médio prazo", tendo também em conta que os mercados americano e canadiano têm sido "dos que mais têm crescido em Portugal". "É uma questão que me preocupa", disse.
Ainda assim, a CTP espera que "haja bom senso mundial que estas questões venham a ser dirimidas de outra forma" e que haja estabilidade também a nacional e político.
AIP: Tarifas dos EUA vão penalizar exportações, mas retaliar "seria contraproducente"
O presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, reconhece que as tarifas impostas pelos Estados Unidos à União Europeia vão ter "inevitáveis consequências" nas exportações portuguesas, mas contrapõe que uma retaliação por parte de Bruxelas "seria contraproducente".
"O aumento das taxas sobre os produtos exportados da União Europeia tem graves consequências no comércio transatlântico que representam até ao momento, 30% do comércio mundial de mercadorias e serviços" e "vão ser inevitáveis as consequências nos principais produtos de exportação portugueses para os Estados Unidos", aponta José Eduardo Carvalho, recordando que o mercado norte-americano figura como o quarto maior e o primeiro extracomunitário para Portugal.
Com efeito, há pelo menos uma grande categoria que escapa, pelo menos por enquanto, dado que os produtos farmacêuticos ficam isentos das tarifas anunciadas esta quarta-feira pelo Presidente dos Estados Unidos. Ora, os medicamentos são os produtos mais vendidos por Portugal aos Estados Unidos, segundo dados fornecidos recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), ao Negócios, seguindo-se os combustíveis minerais e a borracha.
Embora sublinhe que "a guerra comercial anunciada desacelera e compromete a globalização e os benefícios que dela resultaram" e que "todos os setores de bens transacionáveis ficarão penalizados", o dirigente da AIP considera que retaliar não será benéfico: "Portugal tem de alinhar e concertar as suas posições com as decisões dos estados-membros da UE. Normalmente é um processo de decisão lenta e morosa, mas em situações de emergência tem respondido bem. Espera-se que não haja retaliação, o que seria contraproducente".
No entanto, complementa, "a haver alguma resposta, deveria centrar-se nos serviços porque os EUA não apresentam déficit comercial com a UE".
Face ao atual panorama, José Eduardo Carvalho considera que "o reforço das exportações das empresas portuguesas para outros mercados será inevitável".
"Canadá, Austrália, Mercosul, Asean, Magrebe são mercados incontornáveis que irão concentrar o esforço das empresas e da política pública. Acho que terá de haver ajustamentos na estratégia da AICEP face à atual conjuntura económica internacional, no que diz respeito ao modelo de política pública a implementar", defende, em declarações ao Negócios.
Já no que toca ao mercado chinês recomenda "alguma prudência": A China está há 25 anos na OMC e não cumpre as regras da concorrência, nomeadamente nas ajudas do Estado em setores que podem comprometer a economia europeia".
Apesar do contexto, o presidente da AIP está confiante de que "as empresas portuguesas saberão encontrar meios para enfrentar mais este desafio". "Irão dar muita atenção ao conhecimento dos diversos mercados, incluindo a componente de proteção pautal e não pautal".
Não obstante, aponta, "da mesma forma que se exige que a UE consiga implementar medidas preconizadas no relatório Draghi, também em Portugal seria importante reforma no Estado e Administração Pública e na área fiscal e laboral".
Relatvamente ao impacto na economia como um todo, José Eduardo Carvalho sinaliza que "repercutir-se-á na desestabilização do comércio internacional, nas pressões inflacionistas", antecipando "provavelmente um novo choque de oferta e no atraso no ajustamento das cadeias de valor, cujo equilíbrio ainda não foi encontrado desde a Covid".
"Ninguém ganha com esta guerra comercial", alerta a CCP
Donald Trump prometeu, agora cumpriu. Vai avançar com tarifas "recíprocas" que, no caso da União Europeia, serão de 20%, sendo que Ursula Von der Leyen já prometeu uma resposta à altura. É uma verdadeira guerra comercial que terá impactos negativos para todos, diz o presidente da CCP. E, alerta, Portugal será penalizado pelos dois movimentos.
"Está instalado um clima de confusão", começa por dizer, em resposta ao Negócios sobre os impactos das tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA. Há "anúncios e contra-anúncios", com taxas de Trump e "respostas dos visados descoordenadas e demasiado emotivas de retaliação sem avaliação de impactos". "O clima gerado não é bom para as economias e ninguém ganha com esta guerra comercial", refere João Vieira Lopes.
Trump disparou tarifas para praticamente todos os países a nível global, com uma base de 10% que aumenta em função das que os visados praticam para os bens dos EUA. No caso de Portugal, por estar na UE, haverá uma taxa geral sobre as importações de 20% que "não será obviamente positiva para Portugal".
Presidente da CCP
Mas se as de Trump serão negativas para a economia nacional, o presidente da CCP diz também o "serão as anunciadas retaliações da UE que, em muitos casos, atingem componentes das cadeias de valor e não produtos finais". Isto, alerta, "terá o efeito de aumentar os preços e prejudicar a competitividade dos produtos europeus".
Portugal tem nos EUA um mercado importante. "Os EUA são o país com o qual Portugal tem o maior saldo positivo nas suas trocas comerciais de bens e serviços (as exportações são quase três vezes o valor das importações), sendo o nosso quarto mercado exportador, com cerca de 7% de peso nas exportações".
Portugal "é quase irrelevante, pois apenas contribui com 0,2% para o enorme défice da balança comercial dos EUA", mas nem por isso deixa de ser visado pelas tarifas que vão, obviamente, afetar principalmente os setores que "têm maior peso nas exportações para os EUA ou que, no caso das medidas de retaliação europeias, tenham maior volume de componentes importados dos EUA", remata.
CIP pede à UE resposta “sem tibieza” às tarifas de Trump
Não há "manual de economia que ajude a prever" o impacto das tarifas anunciadas por Donald Trump, que o presidente da CIP reconhece que afeta "de forma muito significativa" a economia.
"O que se está aqui a discutir é uma posição de força para conseguir concessões numa outra área, na área diplomática, na área de várias outras naturezas" e não um mero problema comercial, disse Armindo Monteiro aos jornalistas, à entrada para uma reunião de concertação social, em Lisboa.
"Ninguém acredita que as tarifas sejam para ficar como estão", sob pena de uma "crise global". Nesse sentido, "o que sobretudo se procura é uma posição negocial".
Nesse sentido, a resposta da União Europeia "tem que ser sem tibieza"."Se nós respondermos de forma frágil ou fragilizada, naturalmente que numa posição de força, como é esta que os Estados Unidos estão a assumir, vamos sair enfraquecidos".
Embora admita que "neste momento é preciso mostrar que também, se quisermos, podemos ameaçar com tarifas", Armindo Monteiro afirma depois que o mais importante é construir uma posição estratégica" e "sem taticismos".
O Ministro da Economia, Pedro Reis, convocou uma série da associações setoriais e confederações patronais para discutir o assunto na próxima semana.
Apple e outros gigantes tremem com tarifas de Trump
Parece ter valido de pouco a Tim Cook, CEO da Apple, marcar presença na cerimónia de investidura de Donald Trump, a 20 de janeiro deste ano. A tecnológica norte-americana, afinal, será uma das mais penalizadas pelas tarifas recíprocas que o Presidente dos EUA anunciou, com estrondo, esta quarta-feira, 2 de abril.
E porquê? A produção da Apple está fortemente dependente de países aos quais os EUA vão aplicar tarifas. Por exemplo, os iPhones são equipados com "chips" produzidos em Taiwan, território a que vai ser aplicada uma taxa recíproca de 32%.
A Apple tem produção na China, país para o qual foi fixada uma tarifa de 34% que soma a outra de 20% já em vigor e também no Vietname e Índia, que ficarão sujeitas a tarifas de 46% e 26%, respetivamente.
Anualmente são enviados para os Estados Unidos 50 milhões de iPhones, a maioria fabricados na China.
Neste cenário, é expectável que os preços subam o que se se traduzirá numa diminuição na procura.
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Tarifas de Trump: Patrões do Norte alertam para “impactos muito negativos”
"É muito provável que as empresas portuguesas sejam fortemente afetadas pelo aumento das tarifas anunciadas por Trump. Por um lado, por via direta, porque as exportações de bens ficarão mais caras para o mercado americano, o nosso quarto principal cliente e o primeiro não europeu, com um peso de cerca de 7% no valor global das exportações portuguesas de bens", começar por analisar Luís Miguel Ribeiro, presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), em declarações ao Negócios.
Para este dirigente associativo, os efeitos sentir-se-ão, também, por via indireta, "sobretudo pelo impacto que os nossos principais parceiros comerciais possam sofrer e que se repercutirá na dinâmica da procura externa dirigida à economia portuguesa".
Naturalmente, os setores com relacionamento comercial com os Estados Unidos, sobretudo os que estão fortemente expostos a este mercado, "com destaque para vários setores com elevado grau de especialização produtiva da economia portuguesa, como os bens alimentares, os têxteis e o calçado, mas, também, os produtos das indústrias químicas, metalomecânica e de equipamentos, entre outros", são os que terão mais dificuldade em lidar com esta taxas adicionais, sinaliza o líder da AEP.
Luís Miguel Ribeiro considera que "a política protecionista levada a cabo pela maior economia do mundo e, simultaneamente, um importante mercado de Portugal, tenderá a gerar impactos muito negativos para a economia mundial, em particular para a europeia, fruto da sua maior abertura ao exterior".
No que se refere ao impacto para a economia portuguesa, Ribeiro lembra que o Banco de Portugal já sublinhou que um choque de tarifas poderá gerar um impacto negativo de 0,9 pontos percentuais no crescimento do PIB português já este ano, "um sinal muito preocupante", sublinha, "tendo em conta que a magnitude deste impacto corresponde a cerca de 40% do crescimento projetado para a economia portuguesa para 2025".
“A competição vai ser muito mais dura”. Agricultura pede apoio às exportações
Portugal exporta cerca de 100 milhões de euros em vinho para os Estados Unidos, cerca de um décimo das exportações totais, e além das dificuldades óbvias nesse mercado vai encontrar agora uma "competição muito mais dura" um pouco por todo o lado, por parte dos produtores mundiais que tentam encontrar.
"É óbvio que estamos muito preocupados", resumiu Álvaro Mendonça e Moura, presidente da Confederação dos Agricultores (CAP), em declarações aos jornalistas, esta quinta-feira.
"Não é só o mercado dos Estados Unidos que nos preocupa, é a pressão de uma concorrência acrescida de todos os produtores de vinho noutros mercados". Portanto, "a competição vai ser muito mais dura e nós, portugueses, vamos ter que fazer um esforço enorme de promover os nossos produtos, de nos batermos pelos mercados".
"Aí contamos obviamente com o apoio do Estado, na promoção de exportações", diz o presidente da CAP, que vai ser ouvida, juntamente com outras associações, no ministério da Economia, na próxima semana. "Há uma série de entraves, até burocráticos, para essa promoção, e eu espero que isto também seja um bocadinho um alerta para se desburocratizar, para se facilitar todo este processo", diz.
Aos jornalistas, o presidente da CAP mostrou-se ainda preocupado com o setor da cortiça e do azeite, sublinhando que os impactos ainda têm de ser avaliados.
Tarifas "recíprocas" de Trump continuam a afundar o dólar
O dólar segue a registar fortes perdas, com o índice do dólar – que regista a "força" da moeda face às principais rivais – a atingir a maior queda intradiária de sempre. Preocupações em torno da aplicação de tarifas "recíprocas" por parte dos EUA e os efeitos que as mesmas terão na economia e inflação norte-americanas, estão a pesar na "nota verde".
O índice de dólar perde a esta hora 2,21% para os 101,514 pontos, o declínio intradiário mais acentuado desde o lançamento do índice em 2005.
Face à divisa nipónica, a "nota verde" desvaloriza 2,59% para os 145,420 ienes. O dólar cai, igualmente, 1,38% para os 1,404 dólares canadianos e derrapa 2,98% para os 0,856 francos suiços.
Por cá, o euro salta 2,40% para os 1,111 dólares, depois de se ter registado uma das maiores quedas da "nota verde" em relação à "moeda única" em cerca de uma década. Já a libra pula 1,24% para os 1,317 dólares.
Numa nota da Schroders a que o Negócios teve acesso, George Brown, economista da gestora de ativos, perspetiva que "para a Reserva Federal, o impacto estagflacionista das tarifas coloca [o decisor de política monetária dos EUA] entre a espada e a parede". A curto prazo, acrescenta o especialista, "pensamos que o caminho de menor resistência será a inércia, dada a incerteza acrescida quanto ao impacto económico das tarifas".
Para outros bancos centrais, explica George Brown, "a combinação de contramedidas e apoio fiscal por parte dos seus governos também irá complicar o seu trabalho. Mas, de um modo geral, esperamos que o Banco de Inglaterra e o Banco Central Europeu assegurem os riscos através de novos cortes nas taxas, ao passo que o Banco do Japão não poderá provavelmente aumentar mais as taxas de juro este ano".
Barril de petróleo afunda mais de 7%. Decisão da OPEP agrava efeito Trump
As cotações do crude nos principais mercados internacionais estão a afundar em reação ao "Dia da Libertação", no qual Trump impôs uma tarifa mínima de 10% a todos os países e outras adicionais aos principais parceiros comerciais - a China e a União Europeia, com uma taxa de 34% e 20%, respetivamente. No caso do petróleo, a queda deve-se à expectativa de que a guerra comercial penaliza a economia e, consequentemente, o consumo de combustíveis.
"Uma regra de ouro do crude é que cada aumento de 1 ponto percentual na taxa média ponderada tarifas dos EUA traduz-se num agravamento de 0,1 pontos percentuais no nível de preços e reduz o PIB em 0,05-0,1 pontos percentuais", explica Paul Diggle, economista-chefe da Aberdeen. "Isto sugere que o aumento total das taxas aduaneiras dos EUA, anunciado ontem e nas últimas semanas, poderia acrescentar 2% ao nível dos preços e fazer baixar o PIB em 1-2%".
O West Texas Intermediate (WTI), que serve de referência para os Estados Unidos, perde 7,74% para 66,16 dólares por barril. Já o Brent – de referência para o continente europeu, incluindo para as importações portuguesas – desvaloriza 7,08% para 69,64 dólares por barril.
Além dos receios em tornos das tarifas, as cotações estão também a reagir em forte baixa ao anúncio de que vai entrar ainda mais petróleo no mercado a partir de maio. O grupo que junta a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os aliados da OPEP+ concordou em aumentar a oferta mais do que o previsto, acrescentando o equivalente a três parcelas mensais do seu anterior plano de relançamento da produção.
O grupo liderado pela Arábia Saudita e pela Rússia acrescentará 411.000 barris por dia ao mercado no próximo mês, de acordo com um comunicado. Segundo a Bloomberg, que cita delegados que pedem para não serem identificados já que as conversações foram privadas, a decisão foi tomada na sequência de uma conferência telefónica entre os ministros, esta quinta-feira, que se centrou nos países membros que têm excedido sistematicamente as suas quotas.
DBRS avisa que incerteza na guerra comercial vai afetar decisões de investimento
A DBRS Morningstar alertou esta quinta-feira que as tarifas "recíprocas" anunciadas pela Administração Trump, combinadas com as que já estão em vigor, "conduzirão a um crescimento mais lento e a uma inflação mais elevada nos EUA".
A agência de rating canadiana, que reconhece que "as tarifas anunciadas ontem são maiores do que o previsto", salienta ainda numa nota de research que "a atual incerteza em matéria de política comercial atuará como um obstáculo ao investimento e prejudicará as perspetivas de crescimento a curto prazo".
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Tarifas afundam Wall Street. S&P 500 perde mais de 2 biliões de dólares
Os principais índices norte-americanos negoceiam com fortes perdas na "ressaca" do anúncio do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, em relação à aplicação de tarifas "recíprocas" aos parceiros comerciais dos EUA.
O S&P 500 afunda 3,19% para os 5.490,11 pontos, enquanto o Nasdaq Composite perde 4,34% para 16.837,62 pontos. Já o Dow Jones desvaloriza 2,63% para 41.115,38 pontos.
Cerca de 2 biliões de dólares estão a ser "apagados" do índice de referência S&P 500 a esta hora. Os danos das tarifas estão a ser mais expressivos nas empresas cujas cadeias de abastecimento são mais dependentes do fabrico no estrangeiro, incluindo gigantes como a Apple (-8,20%), a Nike (-10,88%) e a Walmart (-1,31%). Entre as "big tech", a Alphabet cede 3,23%, a Nvidia cai 5,30%, a Microsoft recua 2,87% e a Meta desvaloriza 7,05%.
A decisão de Trump de aplicar uma tarifa mínima de 10% aos parceiros comerciais dos EUA e ainda barreiras que ficam acima dessa fasquia, como é o caso das impostas à China, Japão e União Europeia (UE), marca uma escalada dramática da guerra comercial.
A China e a UE já prometerem retaliar, e os investidores parecem estar a agarrar-se a ativos seguros numa altura em que se perspetiva um abrandamento da economia dos EUA e uma possível aceleração da inflação com a entrada em vigor destas taxas alfandegárias - que se juntam às muitas outras anteriormente anunciadas pela Administração norte-americana.
"Não creio que o mercado acionista tenha calculado o preço do pior cenário possível para as tarifas", disse à Bloomberg Justin Onuekwusi, diretor de investimentos da gestora de fortunas St James's Place. "Há um grande risco aqui de que o mercado comece a incorporar agressivamente essas taxas tarifárias atuais e uma retaliação significativa", acrescentou o especialista.
Os anúncios de tarifas "recíprocas", que chegam dois meses após o início da presidência de Trump, parecem destinados a alimentar a fraqueza e volatilidade das ações negociadas em Wall Street.
Os investidores estão a preparar-se para o que poderá ser um período difícil de negociações comerciais, num contexto económico que mostra sinais de abrandamento. De acordo com o Deutsche Bank, citado pela Bloomberg, as tarifas poderão reduzir o crescimento económico dos EUA em 1,5% este ano.
Nagel: Tarifas são "atentado à prosperidade global". "Inflação vai subir"
O presidente do banco central alemão (Bundesbank) e membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE), Joachim Nagel, diz que as tarifas impostas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocam em "perigo" a estabilidade económica global", falando de um "atentado" à prosperidade que terá como consequência a subida dos preços.
"As decisões da administração norte-americana de impor tarifas colocam em perigo a estabilidade económica mundial. O resultado será um atentado contra a prosperidade de todos. O crescimento económico mundial diminuirá e os preços vão subir", afirmou, citado pelo El Economista.
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Stellantis menoriza impacto de tarifas e diz que é "problema norte-americano"
O grupo automóvel Stellantis, resultante da fusão das antigas Fiat-Chrysler e PSA, desvalorizou hoje o impacto nas suas fábricas das tarifas de 25% sobre os carros importados pelos EUA, que entraram hoje em vigor, considerando ser "um problema norte-americano".
"Em 2024 exportamos para a América do Norte menos de 20.000 automóveis de Itália. É evidente que não é um número muito elevado e que o problema é norte-americano, para México e Canadá", disse à Efe uma fonte do grupo em Itália.
A dimensão do grupo, considerado o quarto maior construtor automóvel do mundo, pode expô-lo às tarifas para o setor automóvel promovidas pelo Presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump.
Trump anunciou tarifas globais de 10% para todos os produtos da maioria dos países e, nalguns casos, ainda maiores, como China ou União Europeia (UE).
A América do Norte é um dos principais mercados da Stellantis, onde em 2024 alcançou um volume de negócios acumulado de 63,5 mil milhões de euros divididos entre EUA, México e Canadá e entregou 1,4 milhões de veículos.
Nesta região, o grupo emprega 75 mil pessoas.
A maior parte dos veículos comercializados para o mercado norte-americano são fabricados a nível local, tendo apenas cerca de 20.000 carros sido montados nas suas 11 fábricas em Itália -- a maioria Fiat 500 elétricos ou Alfa Romeo Stelvio, Giulia ou Tonale, bem como o utilitário Dodge Hornet.
A maior produção norte-americana resulta da herança que tem da Chrysler, tornando-se membro do grupo das 'três grandes', a par da General Motors e da Ford.
No total, são 16 fábricas nos Estados Unidos da América nos estados de Michigan, Indiana e Ohio, com 52 trabalhadores, a que se juntam fábricas estratégicas no Canadá e no México.
É nesse sentido que aumenta o problema para o grupo, com a aplicação de um imposto sobre cada carro ou componente que entre no mercado dos EUA a partir de fábricas mexicanas ou canadianas.
O mais importante para o grupo é, segundo as fontes citadas pela Efe, a clareza, a estabilidade e a existência de "um contexto regulamentar previsível".
A nível nacional em Itália, a maior preocupação passa mesmo pelos efeitos das exportações de componentes que são utilizados em carros que são, em última instância, negociados para os EUA.
O presidente da Stellantis, John Elkann, herdeiro da família Agnelli, tentou convencer Trump a adiar as tarifas por um mês e, na segunda-feira, voltou a encontrar-se com o chefe de Estado norte-americano para discutir a vontade de Washington em ser menos rígida com as normas de emissões.
A produção automóvel em Itália tem vindo a descer e, em 2024, recuou para 310.000 automóveis, 42,8% abaixo do produzido no ano anterior, segundo dados do setor sobre um setor que tem capacidade para produzir cerca de dois milhões de carros por ano.
A Ferrari, que tem no continente americano o seu segundo maior mercado (4.003 veículos de 13.752 vendidos em 2024) já reagiu às tarifas, aumentando o preço de vários dos seus modelos nos EUA.
*Lusa
BCE deve ser prudente na política de taxas de juro devido a incerteza, defende Guindos
O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, afirmou hoje que o banco deve ser prudente na altura de decidir o sentido das taxas de juro, face ao contexto de incerteza gerado, sobretudo, pelas tensões comerciais.
"Dadas as incertezas, como as guerras comerciais, as potenciais tarifas e até o potencial impacto da política orçamental, temos de ser extremamente prudentes", afirmou o responsável do BCE numa conferência organizada pelo Instituto de Finanças Internacionais, em Bruxelas.
Segundo avançou a EFE, Luis de Guindos disse continuar "cauteloso" e acreditar "que a abordagem de ajustamento com base em dados e reunião a reunião é a correta".
O BCE está confiante de que a inflação irá descer nos próximos trimestres para a sua meta de médio prazo de 2%, mas antevê que os conflitos comerciais possam ter um impacto ascendente na inflação, embora o maior impacto seja sentido no crescimento económico da zona euro, apontou o vice-presidente.
Neste sentido, Luis de Guindos indicou que, na sua reunião de abril, o Conselho de Administração do BCE vai analisar os dados sobre a evolução da situação e espera ter mais clareza sobre "o resultado final das tarifas dos EUA" e uma eventual retaliação da União Europeia.
"Depois decidiremos em conformidade, mas hoje é muito difícil dizer o que faremos em abril", disse, depois de lembrar que o BCE já implementou seis cortes nas taxas de juro desde junho.
*Lusa
Governador do BdP defende "tranquilidade" após EUA anunciar tarifas
O governador do Banco de Portugal (BdP) defendeu hoje, na cidade da Praia, Cabo Verde, "uma posição de tranquilidade" face ao futuro, depois das tarifas comerciais anunciadas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump.
"Há medidas de política económica, comercial, monetária e orçamental a serem tomadas todos os dias. Queria transmitir uma posição de tranquilidade face àquilo que é o futuro: foi uma longa caminhada global que fizemos, que trouxe prosperidade a todas as partes do globo e devemos pensá-lo como um todo", referiu.
Mário Centeno falava à margem de uma visita a Cabo Verde, no âmbito da cooperação entre bancos centrais.
"Vamos encontrar seguramente alternativas, perceber o grau de temporalidade destas medidas e estar disponíveis para reagir", referiu, sobre as tarifas anunciadas.
Do ponto de vista dos bancos centrais, Centeno defende que devem "continuar a fazer" aquilo que considera estar a ser feito "até hoje, com enorme sucesso: controlar a inflação".
Os riscos que as medidas venham a induzir na evolução dos preços "têm de ser avaliados, tem de se perceber se são temporários ou não. É essa a função dos bancos centrais e vamos continuar a desempenhá-la", precisou.
"Se estivermos, de facto, perante uma alteração estrutural no comércio internacional, aquilo que sempre advogo é que temos de dar tempo aos agentes económicos para se adaptarem a essas transformações, as políticas devem acomodar essas transformações, mas ainda é muito cedo para avaliar tal coisa", concluiu.
*Lusa
Espanha vai mobilizar 14.100 milhões de euros para fazer face a tarifas impostas pelos EUA
Espanha vai mobilizar 14.100 milhões de euros para fazer frente ao impacto das tarifas impostas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, esta quinta-feira, o líder do governo espanhol, Pedro Sánchez.
"Voltar ao protecionismo do século XIX não é inteligente para encarar os desafios do século XXI", afirmou, numa conferência de imprensa, que está a decorrer, marcada para anunciar a resposta espanhola às tarifas de Washington, que taxa a 20% todos os produtos da União Europeia, descrevendo-as como um ataque "unilateral" e "sem precedentes" e desafiando Trump a reconsiderar e a "sentar-se à mesa de negociações com a UE e com o resto do mundo".
"Implementaremos hoje mesmo o plano de resposta concebido para mitigar os impactos negativos desta guerra comercial e criar um escudo para proteger a nossa economia", declarou.
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China vê nas tarifas de Trump "ato típico de intimidação" e promete retaliar
Pequim descreve as tarifas anunciadas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como um "ato de intimidação unilateral", instando Washington a "revogá-las imediatamente", enquanto promete retaliar.
Donald Trump vai impor tarifas de 34% sobre as importações da China, que somadas às de 20% impostas no início do ano, eleva a taxa sobre os produtos chineses que entrarem nos Estados Unidos para 54%.
"A China opõe-se firmemente e vai tomar contra-medidas para salvaguardar os seus direitos e interesses", declarou o Ministério do Comércio chinês, num comunicado, citado pela imprensa internacional.
Produtores de queijo parmesão italiano consideram tarifas de Trump "absurdas"
O consórcio de produtores do queijo parmesão italiano (Parmigiano Reggiano) afirmou esta quinta-feira que as tarifas de 20% impostas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os produtos da UE são "absurdas".
"Não estamos a competir com os queijos locais (EUA) de forma alguma", disse o presidente do Consórcio Parmigiano Reggiano, Nicola Bertinelli.
"São produtos diferentes que têm um posicionamento diferente (no mercado), normas de produção, qualidade e custos diferentes [...] por isso, é absurdo visar um produto de nicho como o Parmigiano Reggiano para proteger a economia americana", acrescentou.
O presidente do consórcio disse ainda que os direitos aduaneiros passaram de 15% para 35%.
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Tarifas de Trump levam bolsas europeias ao tapete
As principais bolsas europeias estão a negociar no vermelho, um dia depois do anúncio de imposição de tarifas por parte do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As taxas aduaneiras foram mais agressivas que o esperado, o que agravou o movimento de fuga aos ativos de risco.
Para a União Europeia Donald Trump anunciou tarifas de 20%, levando o "benchmark" para a negociação europeia, o Stoxx 600, a cair, por esta hora, 1,39% para 529,43 pontos, já depois de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ter afirmado que o bloco dos 27 está "pronto para responder" à imposição de tarifas por parte dos Estados Unidos, garantindo estar a trabalhar em novas medidas de retaliação.
A banca é o setor mais castigado, com uma queda superior a 3%.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, alertou, na véspera do chamado "Dia da Libertação", assim descrito por Donald Trump, que as tarifas iriam "desestabilizar o mundo do comércio, tal como o conhecemos", apontando que "não será bom para a economia global". Com efeito, esta quinta-feira, já depois de conhecidas as tarifas, mais agressivas do que o previsto, a Fitch Ratings alertou que muitos países deverão cair em recessão económica como resultado das "tarifas recíprocas" sobre todas as importações.
As novas tarifas "mudaram o ambiente, no sentido de uma expectativa de recessão, que não era necessariamente o caso antes", diz à Reuters Emmanuel Makonga, analista do Barclays. "Abre a possibilidade para [o Banco Central Europeu] cortar taxas de juro ainda mais rápido de modo a dar um impulso em termos de sentimento", indica.
Entre os principais índices da Europa Ocidental, o francês CAC-40 recua 2,01%, enquanto o holandês AEX desliza 1,84% e o italiano FTSEMIB perde 1,59%. Já o alemão DAX desliza 1,41%, o britânico FTSE 100 desvaloriza 1,21% e o espanhol IBEX 35 perde 0,68%. Em contraciclo, o PSI valoriza 0,64%.
Juros aliviam na Zona Euro, no Reino Unido e nos EUA após tarifas
Os juros das dívidas soberanas na Zona Euro estão a aliviar em toda a linha, isto depois de os Estados Unidos terem anunciado uma tarifa mínima de 10% sobre todos os países, assim como sanções adicionais a outros tantos.
É o caso dos países da União Europeia (20%), Japão (24%), China (34% em cima dos 20% já em vigor) e Coreia do Sul (25%). Outros países serão castigados com tarifas ainda mais elevadas, como é o caso do Vietname (46%) e Tailândia (36%).
Cálculos dos economistas do Deutsche Bank apontam para que a tarifa média dos EUA suba para valores entre 25% e 30%, o que representa um máximo desde o início do século passado.
Os juros das "Bunds" alemãs a dez anos, que servem de referência para a região, recuam 5,7 pontos base para 2,661%. Por sua vez, as "yields" francesas com a mesma maturidade perdem 4,1 pontos para 3,384%, enquanto os juros italianos cedem 3,7 pontos para 3,777%.
Na Península Ibérica, as "yields" portuguesas e espanholas registam alívios de 3,8 e 3,9 pontos base para 3,186% e 3,303%, respetivamente.
Já fora da Zona Euro, os juros da dívida britânica a dez anos registam o maior recuo, de 7,5 pontos para 4,568%.
Do lado de lá do Atlântico, o cenário não é melhor. A "yield" das obrigações norte-americanas também a 10 anos cede 6 pontos base para 4,1%, em mínimo de cinco meses.
Um rendimento a 10 anos inferior a 4% seria um "sinal claro e global de redução do risco, uma vez que a incerteza de uma mudança na economia dos EUA permeia os mercados", disse George Boubouras, da K2 Asset Management, à Bloomberg.
Tarifas mais agressivas castigam dólar. Euro em máximos de meio ano
O dólar norte-americano está a negociar em mínimos de cinco meses, num momento em que os investidores se preparam para que a economia dos EUA seja duramente afetada pelas tarifas sobre os parceiros comerciais ontem anunciadas por Donald Trump.
Esta quarta-feira, o republicano impôs uma tarifa mínima de 10% a todos os países, e sanções adicionais a outros parceiros comerciais, como a União Europeia, visada em 20%, e a China com uma tarifa de 34%.
O Canadá afirmou que vai responder às tarifas, apesar de ser dos poucos países, a par do México, a não estar sujeito, para já ao novo regime tarifário, ainda que seja afetado pelas taxas anteriores. A China e a União Europeia também prometeram retaliar. Os direitos aduaneiros, mais severos do que o previsto, ameaçam aumentar os preços de biliões de dólares em bens importados pelos EUA todos os anos.
O euro sobe 1,3% para 1,0992 dólares para máximos de seis meses. Já a nota verde derrapa 1,43% para 147,14 ienes e 0,74% para 1,4136 dólares canadianos. Face à moeda chinesa, o dólar ganha 0,5% para 7,305 yuan.
O índice do dólar da Bloomberg, que mede a força da nota verde face aos principais concorrentes, toma 1,4% para 102,37 pontos - o valor mais baixo desde novembro.
"O agravamento das preocupações com o crescimento dos EUA devido às tarifas e as quedas das ações em Wall Street significam que o dólar não está a usufruir do tradicional apoio ao estatuto de moeda como ativo refúgio", disse Ray Attrill, do National Australia Bank, à Bloomberg.
Os riscos para a maior economia do mundo também se refletiram no aumento das apostas de cortes nas taxas de juro da Reserva Federal, o que pode pressionar ainda mais o dólar.
Ouro recua após tocar novo recorde
O ouro atingiu um novo máximo histórico esta manhã e tocou nos 3.167,57 dólares por onça, em reação dos investidores às tarifas recíprocas de Donald Trump anunciadas esta quarta-feira e que foram mais agressivas do que o previsto.
O sentimento negativo espalhou-se pelo mercado, o que levou os investidores a uma corrida para os ativos-refúgio, como os metais. Aliás, o ouro e outros minerais escaparam à lista de visados do Presidente dos EUA.
Entretanto, o metal amarelo corrige a esta hora e cai 0,26% para 3.127,02 dólares por onça, naquilo que os analistas acreditam ser uma tomada de mais valias por parte dos compradores.
Outro dos fatores que sustentaram o "rally" do ouro foi "a desaceleração que as tarifas provavelmente vão causar na economia dos EUA, aumentando as perspetivas de futuros cortes nas taxas de juros", explicou o analista da Capital.com, Kyle Rodda, à Bloomberg.
Petróleo toma mais de 3% após tarifas e em dia de reunião da OPEP+
As cotações do crude nos principais mercados internacionais estão a afundar esta manhã, após Donald Trump ter ditado o tom do "Dia da Libertação", impondo uma tarifa mínima de 10% a todos os países e outras adicionais aos principais parceiros comerciais - a China e a União Europeia, com uma taxa de 34% e 20%, respetivamente.
"A tarifa combinada de 54% sobre as exportações chinesas é brutal", lamentou Robert Rennie, do Westpac Banking, à Bloomberg, indicado que esta taxa acumulada vai causar uma disrupção na procura, já que a China é o maior importador de "ouro negro" do mundo.
O anúncio do Presidente dos EUA espalhou um sentimento negativo por todo o mercado. O petróleo, apesar de não ter sido visado pelas tarifas, sofre um impacto indireto. As políticas comerciais protecionistas de Trump - e mais agressivas do que o que se antecipava -, abrem ainda mais a porta para um cenário de recessão nos EUA, que pode contagiar outros países do mundo.
Ora, se de facto houver um travão ao crescimento económico global, a procura por petróleo poderá vir a ser afetada, o que está a pressionar os índices esta quinta-feira.
O West Texas Intermediate (WTI) - de referência para os Estados Unidos (EUA) – derrapa 3,42% para os 69,26 dólares por barril. Já o Brent – de referência para o continente europeu – perde 3,22% para os 72,54 dólares por barril.
As taxas mínimas sobre as importações entrarão em vigor após a meia-noite de sábado e as sanções mais elevadas a 9 de abril.
O petróleo tem sido afetado pelo dilúvio de mudanças políticas, tarifas e sanções de Trump à Rússia e ao Irão.
Além disso, os principais produtores de crude mundiais, liderados pela Arábia Saudita e a Rússia, reúnem-se esta quinta-feira e devem manter a decisão de continuar a aumentar a produção de petróleo em maio, depois de a organização ter decidido colocar mais 138.000 barris no mercado este mês, após três meses de adiamentos. A decisão surgiu depois Donald Trump ter pressionado a OPEP a baixar os preços do crude.
Tarifas mais agressivas pintam bolsas mundiais de vermelho. Europa aponta para queda de mais de 2%
As tarifas recíprocas de Donald Trump foram mais agressivas do que antecipava o mercado e fizeram soar os alarmes nas principais bolsas mundias.
O anúncio de uma taxa mínima de 10% sobre todos os produtos importados pelos EUA e de tarifas adicionais para os maiores parceiros comerciais dos EUA, incluindo a China, o Japão e a União Europeia, assustou os investidores, receosos de uma reação "olho por olho".
O Morgan Stanley diz que estas medidas trouxeram mais clareza ao mercado, que sabe agora que posição tomar. Ao mesmo tempo, a magnitude das taxas anunciadas sugere que os riscos de crescimento da economia global aumentaram significativamente. O Citigroup acredita que a incerteza vai contribuir para a narrativa de recessão nos EUA.
O chefe de análise económica da Fitch nos EUA disse em comunicado na quarta-feira que as tarifas do país sobre todas as importações rondam agora os 22%, face aos 2,5% de 2024.
Assim, dois meses após o início da presidência de Trump, o otimismo dos mercados financeiros esmoreceu, levando a que os estrategas reduzam as previsões para as ações norte-americanas e os bancos centrais de todo o mundo a tentarem perceber os potenciais impactos no crescimento económico e na inflação.
Na Ásia, os índices tombaram, mas não tanto como os dos EUA. Na China, que terá uma tarifa de 34%, o Hang Seng e o Shanghai Composite encerraram no vermelho, com perdas de 1,8% e 0,3%, respetivamente.
Pequim afirmou que se opõe firmemente às imposições e prometeu tomar contramedidas para salvaguardar os seus próprios interesses.
Já pelo Japão, com uma tarifa de 24%, as perdas foram maiores, o Nikkei 225 escorregou 2,77%, enquanto o Topix caiu 3,7%.
Pela Europa, o cenário é igualmente negativo. Os futuros apontam para quedas, com o Euro Stox 50 a derrapar 2,3%. A União Europeia - o maior parceiro comercial dos EUA -, já prometeu retaliar. A Comissão Europeia está já a preparar uma resposta.