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Trump avança com tarifas recíprocas mínimas de 10% para todos os países. UE com 20%
Presidente norte-americano promete "biliões" de receita com as novas tarifas, iniciando o que considera ser o início da "era dourada" dos Estados Unidos.
- Todos os produtos da UE serão taxados a 20%
- Veja aqui as declarações do Presidente dos EUA
- Ursula von der Leyen fala logo de manhã. Este é o calendário que se segue
- Tarifas sobre setor automóvel abrangem quase 600 mil milhões
- Trump atira Wall Street para o vermelho. Ouro valoriza
- México e Canadá ficam de fora das novas tarifas (as antigas mantêm-se)
- Lista estende-se a quase duas centenas de países
- Tarifas são "injustificadas, ilegais e desproporcionadas", diz Comissão do Comércio do PE
- Trump mostrou um quadro com um ranking de países e as respetivas tarifas
- Senado vota esta noite resolução para chumbar tarifas sobre Canadá
- Bessent avisa países alvo de tarifas para não retaliarem
- Aço, alumínio, cobre e ouro isentos de tarifas recíprocas
- Tarifas totais dos EUA sobre a China sobem para 54%

Os EUA vão aplicar tarifas adicionais de pelo menos 10% a todos os produtos importados de todos os países, indica a Bloomberg, ainda sem avançar detalhes da medida que está a ser anunciada esta quarta-feira pelo Presidente Donald Trump. Para a União Europeia, todos os produtos serão taxados a 20%.
"O dia 2 de abril será recordado como o dia em que a indústria americana nasceu de novo", referindo que os EUA foram "enganados durante mais de 50 anos, mas isso não vai voltar a acontecer. Dentro de momentos, assinarei uma ordem executiva histórica".
Presidente dos EUA
O Presidente descreveu as suas tarifas globais como um instrumento de negociação para forçar outros países a eliminar as suas barreiras comerciais - "barreiras não monetárias" - aos produtos americanos, nomeadamente o IVA.
Na Casa Branca, e com um quadro de cartão, Trump indicou as diferentes taxas aduaneiras, consoante o país. Para a União Europeia, o Presidente norte-americano anunciou tarifas de 20%, para a China 34% e para o Japão 24% para citar apenas três casos.
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen vai fazer uma declaração esta quinta-feira às 5:00 horas (hora de Bruxelas) a partir de Samarcanda, no Uzbequistão, após o anúncio de novas tarifas globais por parte dos Estados Unidos.
O calendário, referido pelo jornal digital Politico, para os próximos dias será de reações a esta nova vaga de tarifas recíprocas de Donald Trump:
- 3 de abril: para esta quinta-feira de manhã é esperada uma reação da Comissão Europeia. O braço executivo da UE deverá anunciar os próximos passos de retaliação;
- 3-5 de abril: a Comissão deverá avançar com consultas com os chefes de Estado e de Governo dos 27 para ajustar a resposta, em concreto sobre o alumínio e o aço que avançaram em março;
- 4 de abril: o comissário para o Comércio, Maros Sefcovic, vai reunir-se com os embaixadores da UE, esperando-se a formalização da retaliação de 26 mil milhões de euros às tarifas sobre o aço e o alumínio;
- 5 de abril: entram em vigor as tarifas recíprocas de 10%;
- 7 de abril: os ministros do Comércio dos 27 vão reunir-se no Luxemburgo;
- 9 de abril: entram em vigor as restantes tarifas acima de 10%;
- 13 de abril: a resposta da UE às tarifas sobre o aço e o alumínio devem entrar em vigor.
Notícia atualizada às 13:05 para acrescentar as datas de entrada em vigor das tarifas impostas pelos EUA

Donald Trump adiantou também detalhes das tarifas sobre o setor automóvel, que são de 25% sobre todos os veículos fabricados no exterior dos EUA e entram em vigor à meia-noite de quinta-feira.
As taxas vão aplicar-se a quase 600 mil milhões de dólares em automóveis e peças, de acordo com a Reuters, incluindo automóveis, carrinhas, motores, bateriais de lítio e outros componentes como pneus e amortecedores.
Antes de assinar a ordem executiva instituindo as reciprocidade de tarifas, Trump apresentou a medida como uma defesa da produção industrial norte-americana, tendo na audiência vários operários equipados, alguns de capacete.
As tarifas também vão abranger todas as importações de computadores, incluindo laptops e desktops.

As tarifas recíprocas atiraram Wall Street para o vermelho nas negociações após o fecho do mercado, enquanto os juros da dívida dos Estados Unidos e o ouro valorizam.
Os contratos futuros do S&P 500 caem cerca de 2% no "after hours", enquanto os contratos sobre o índice tecnológico Nasdaq 100 perdem quase 3%, depois de Trump ter anunciado uma tarifa mínima de 10% às importações de todos os países para os Estados Unidos.
"Embora os anúncios tarifários de hoje possam oferecer aos investidores alguma clareza adicional para reavaliar as implicações económicas das tentativas de Trump de reestruturar o panorama do comércio global, é improvável que os desenvolvimentos ofereçam algo definitivo", disseram Vail Hartman e Ian Lyngen da BMO Capital Markets, em declarações à Bloomberg. "Como resultado, deverá surgir uma incerteza e uma volatilidade elevadas".
Durante a sessão, os principais índices de Wall Street fecharam em alta: o S&P 500 ganhou 0,67% para os 5.670,87 pontos, enquanto o Nasdaq Composite subiu 0,87% para 17.601,05 pontos. Já o Dow Jones avançou 0,56% para 42.225,32 pontos.
Contudo, e apesar do "after hours", o mercado de opções está agora a apostar que o S&P 500 poderá mover-se na próxima tanto em alta como em baixa, em aproximadamente 1,1% para cada lado, na próxima sessão, de acordo com dados avançados por Stuart Kaiser, chefe de estratégia de negociação de ações dos EUA do Citigroup, à agência financeira.
"Acreditamos que a incerteza persistirá durante pelo menos alguns meses e o foco mudará para as perspetivas económicas dos EUA, enquanto os mercados permanecerão hipersensíveis a qualquer fluxo de notícias", disse Chris Senyek, da Wolfe Research.
A "yield" das Treasuries dos EUA a 10 anos avançam quatro pontos-base para 4,21%, enquanto o dólar recua 0,2%. O ouro - que já atingiu 16 novos máximos históricos este ano com a procura dos investidores por refúgio - avança 1% para 3.143,39 dólares por onça.

O Canadá e o México não estarão para já sujeitos ao novo regime tarifário, mas continuam a ser afetados pelas medidas que Donald Trump já tinha anunciado relacionadas com a crise do fentanil.
A 4 de março, o Presidente dos EUA impôs tarifas de 25% sobre as importações do Canadá e do México, mas estabeleceu uma moratória de um mês sobre os produtos provenientes destes dois países abrangidos pelo acordo de comércio livre entre estes países.
Estas isenções expiram a 2 de abril e a Casa Branca não anunciou uma nova extensão. Os produtos energéticos do Canadá continuarão a ser taxados a 10%.
A crise do fentanil foi exatamente a justificação usada por Trump para avançar com tarifas sobre o Canadá e o México, ao abrigo da Lei dos Poderes Económicos de Emergência Internacional. É esta que é agora usada também pela Administração, que defende serem défices comerciais persistentes que constituem uma emergência nacional segundo a lei.
A tarifa de base de 10% sobre todos os produtos vai entrar às 00:01 horas deste sábado, enquanto as tarifas recíprocas entrarão em vigor às 00:01 horas de 9 de abril.

Trump optou por definir taxas diferentes para cada país, algumas com valores muito mais elevadas do que o previsto, chegando a atingir o máximo de 49% para o Camboja. A lista é bastante longa, alcançando 185 países ou territórios.
Os produtos importados do Japão terão uma taxa adicional de 24%, a Coreia do Sul 25%. Ao Reino Unido, um dos principais aliados dos EUA, caberá uma taxa aduaneira adicional de 10%, um valor que também será aplicado também à Nova Zelândia, Argentina, Austrália ou Emirados Árabes Unidos. Todas estas tarifas entrarão em vigor juntamente com os 25% sobre os automóveis já anunciados na semana passada.
Fontes da Casa Branca indicaram que as tarifas recíprocas de 10% vão entrar em vigor este sábado, dia 5 de abril, e as restantes no dia 9. Para o México e o Canadá, dois dos maiores parceiros comerciais dos EUA, as tarifas recíprocas não avançam para já.
O Presidente acusou todos os países de "saquearem, violarem e roubarem" os EUA. "Os nossos trabalhadores viram com angústia os saqueadores estrangeiros roubarem as nossas fábricas e enganarem os nossos contribuintes", afirmou numa ação no Rose Garden, na Casa Branca, em Washington.
"Este é um dos dias mais importantes da história do país", indicou no discurso, referindo que se trata de conseguir "a independência económica e conseguir biliões de dólares" de receita para baixar os impostos, considerando que se está a iniciar "uma nova era dourada da América".
Em teoria, esse será o primeiro efeito destas tarifas, no entanto, vários economistas já alertaram para o efeito de uma espiral inflacionista, com os produtos a ficarem mais caros, sem uma substituição imediata por outros produzidos internamente.
Para fazer avançar estas tarifas, Trump declarou emergência nacional, tendo por base o défice comercial dos EUA, que se situou em mais de 918 mil milhões de dólares em bens e serviços em 2024. A administração pretende reanimar a indústria americana uma política protecionista e arrecadar centenas de milhões de dólares de receitas provenientes das novas taxas.
Notícia atualizada às 13:00 do dia 3 de abril com a lista completa de países abrangidos pelas "tarifas recíprocas"

Antes da reação oficial da líder da Comissão Europeia, o presidente da Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu, Bernd Lange, manifestou-se sobre o anúncio das tarifas recíprocas pela Administração Trump.
"Embora o Presidente Trump possa chamar o dia de hoje de ‘Dia da Libertação’, de um ponto de vista do cidadão comum este é o ‘Dia da Inflação’. Estas medidas injustificadas, ilegais e desproporcionadas apenas podem levar a uma escalada das tarifas e a uma espiral económica descendente para os EUA e o mundo", diz o responsável.
"Por causa desta decisão, os consumidores dos EUA vão ser forçados a carregar o fardo mais pesado da guerra comercial. Estas tarifas apenas vão tornar os processos e a produção industrial mais ineficiente", referiu o eurodeputado, assinalando que "a reação dos mercados de ações dificilmente poderia ser mais clara".
O Senado deverá começar a votar às 23h45 (hora de Lisboa) uma resolução de bloqueio contra as tarifas de Trump sobre as importações do Canadá.
O senador Mitch McConnell, que foi líder do Senado pelos republicanos, indicou já que irá apoiar esta resolução apresentada pelo senador democrata pela Virginia, Tim Kaine, para que as tarifas sobre o Canadá não avancem.
Os democratas acreditam que a resolução irá ser aprovada no Senado, já que mais alguns republicanos sinalizaram que a irão apoiar.
O impacto de uma luz verde no Senado será, contudo, limitado – dado que qualquer resolução adotada na câmara alta do Congresso não segue para votação na Câmara dos Representantes (câmara baixa).

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, pediu aos parceiros comerciais dos EUA para não tomarem medidas de retaliação contra as tarifas recíprocas anunciadas pela administração Trump.
"Não tentaria retaliar", disse Bessent numa entrevista esta quarta-feira à Bloomberg TV após o evento em que o Presidente dos EUA anunciou a aplicação de taxas sobre dezenas de países. "Desde que não retaliem, este é o número máximo final".
Bessent falava pouco depois do anúncio de Trump que impôs tarifas sobre uma série de parceiros comerciais, desde uma taxa mínima de 10% a tarifas de 34% sobre a China e de 20% sobre a UE, mas não exclui conversações com os países visados.
"No que diz respeito a negociações, vamos ver", diz Bessent. Embora outros países tenham contactado Washington para entrar em conversações comerciais, o secretário do Tesouro indicou que a administração "vai deixar as coisas acalmarem um pouco" e ver "para onde vão a partir daqui".

A Casa Branca disse que as importações de alumínio e aço não serão sujeitas às tarifas recíprocas, numa decisão que deve aliviar algumas empresas importadoras dos EUA que já enfrentam taxas de 25% sobre estes materiais amplamente utilizados na indústria.
Num documento, a Casa Branca esclareceu que o aço e o alumínio já sujeitos a tarifas no âmbito da secção 232 não incorrem nas tarifas recíprocas anunciadas esta quarta-feira.
Também incluídos na isenção estão o outro e o cobre, especificaram os responsáveis da administração dos EUA.

As tarifas recíprocas de 34% que o Presidente dos EUA revelou sobre os bens chineses somam-se às taxas de 20% já aplicadas sobre produtos oriundos da China, elevando o total para 54%.
A soma das duas taxas foi confirmada pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, o que significa que as tarifas sobre os bens chineses terão um acréscimo substancial.
O impacto no crescimento da China deverá ser significativo e poderá levar a que o Presidente da China procure entrar em negociações com o homólogo norte-americano com alguma urgência, assinala a Bloomberg.