Opinião
Os anos da desilusão
Em 2003, o PIB caía pela primeira vez em 10 anos, com a contracção mais significativa desde os anos 80. Expressões que se ouviam nesse ano? "Consolidação" e "viver acima das possibilidades", entre outras.
A austeridade entrou mais tarde no nosso léxico, mas o fenómeno estava todo lá. Durão liderava o Governo, Ferreira Leite estava à frente das Finanças, Constâncio, no Banco de Portugal. A tanga de Durão Barroso, expressão acerca das finanças do país, que ficou célebre, vinha já de 2002.
Foi um momento de aviso, de podermos mudar de vida. E não o fizemos. Nem então, nem mais tarde.
Celebrando o 14.º aniversário do Jornal de Negócios, somos felizmente obrigados a olhar para este percurso do nosso país. O crescimento a definhar, a queda de bancos, as reformas por fazer, os escândalos judiciais, a necessidade de uma ajuda externa com as contrapartidas draconianas – muitas delas necessárias – que conhecemos e que tanto magoaram o nosso povo. E o resto, não o esqueçamos. A capacidade de adaptação dos portugueses, a modernização das empresas, a integração europeia, a emigração voluntária, as exportações e a afirmação na concorrência mundial. O turismo, o nosso petróleo.
Foram os anos da ilusão, e necessariamente da desilusão. Da queda de figuras maiores do nosso tecido empresarial, do definhamento do nosso mercado de capitais, do caminho para a irrelevância de grandes empresas nacionais, da venda ao capital estrangeiro – ao desbarato – de posições de importância histórica. Foram os anos em que boa parte das nossas elites, empresariais e políticas, mostrou não merecer o povo que tem. Desiludiram-no, sem peso na consciência e sem a noção de que os privilégios têm de ter sempre associados critérios de responsabilidade com a correspondente exigência.
Caímos no precipício, sim, e saímos dele. Fizemos o que tínhamos de fazer. Estamos ainda na beirinha, mas já não agarrados pelos mindinhos, com apenas a queda por baixo. Estabilizámos as condições para não culparmos nem o passado nem a Europa. O caminho está aí, e será aquilo que dele fizermos. Sem álibis, sem cortinas de fumo, sem bodes expiatórios.
Temos um Presidente que é, ao mesmo tempo, elite e povo; e um Governo "sui generis" que, apesar de todas as suas imperfeições e fragilidades, mostra que não há impossíveis ou caminhos únicos.
Ainda assim há muito por fazer. Temos uma economia ainda estrangulada pela presença desmedida do Estado, que deve ser forte para regular os excessos e para valer a quem mais precisa, e deve sair do caminho dos restantes. Temos um país ainda demasiado controlado pelas forças partidárias, que sugam o espaço de uma sociedade civil que também tem culpas, porque não reclama o seu papel.
Mas somos uma nação vibrante, aberta e inclusiva. E isso, no mundo que temos à nossa volta, é motivo de grande orgulho. Mais, não tem preço.
Ao longo dos últimos anos, nós, jornalistas, vivemos a maior crise da História, e tentámos sempre fazer o nosso trabalho. Por vezes, tivemos a presciência de poucos; noutras, tivemos a cegueira de muitos. Temos também as nossas culpas, que assumimos, com a vontade de continuar a trabalhar para si, o nosso leitor.
Que o Jornal de Negócios esteja consigo e com a sociedade portuguesa daqui a 14 anos, mais forte ainda, e com o mesmo sentido crítico e o mesmo rigor que o construíram.
Portugal já perdeu demasiado tempo. Temos de estar todos disponíveis para o projectar para onde merece.
Com o seu apoio, pode contar connosco.
Foi um momento de aviso, de podermos mudar de vida. E não o fizemos. Nem então, nem mais tarde.
Foram os anos da ilusão, e necessariamente da desilusão. Da queda de figuras maiores do nosso tecido empresarial, do definhamento do nosso mercado de capitais, do caminho para a irrelevância de grandes empresas nacionais, da venda ao capital estrangeiro – ao desbarato – de posições de importância histórica. Foram os anos em que boa parte das nossas elites, empresariais e políticas, mostrou não merecer o povo que tem. Desiludiram-no, sem peso na consciência e sem a noção de que os privilégios têm de ter sempre associados critérios de responsabilidade com a correspondente exigência.
Caímos no precipício, sim, e saímos dele. Fizemos o que tínhamos de fazer. Estamos ainda na beirinha, mas já não agarrados pelos mindinhos, com apenas a queda por baixo. Estabilizámos as condições para não culparmos nem o passado nem a Europa. O caminho está aí, e será aquilo que dele fizermos. Sem álibis, sem cortinas de fumo, sem bodes expiatórios.
Temos um Presidente que é, ao mesmo tempo, elite e povo; e um Governo "sui generis" que, apesar de todas as suas imperfeições e fragilidades, mostra que não há impossíveis ou caminhos únicos.
Ainda assim há muito por fazer. Temos uma economia ainda estrangulada pela presença desmedida do Estado, que deve ser forte para regular os excessos e para valer a quem mais precisa, e deve sair do caminho dos restantes. Temos um país ainda demasiado controlado pelas forças partidárias, que sugam o espaço de uma sociedade civil que também tem culpas, porque não reclama o seu papel.
Mas somos uma nação vibrante, aberta e inclusiva. E isso, no mundo que temos à nossa volta, é motivo de grande orgulho. Mais, não tem preço.
Ao longo dos últimos anos, nós, jornalistas, vivemos a maior crise da História, e tentámos sempre fazer o nosso trabalho. Por vezes, tivemos a presciência de poucos; noutras, tivemos a cegueira de muitos. Temos também as nossas culpas, que assumimos, com a vontade de continuar a trabalhar para si, o nosso leitor.
Que o Jornal de Negócios esteja consigo e com a sociedade portuguesa daqui a 14 anos, mais forte ainda, e com o mesmo sentido crítico e o mesmo rigor que o construíram.
Portugal já perdeu demasiado tempo. Temos de estar todos disponíveis para o projectar para onde merece.
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