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Os votos do investidor

Esta “boa onda” que se vive na bolsa é, acima de tudo, protagonizada pelas próprias empresas. Mas o Estado, é justo reconhecer, também deu uma ajuda para elevar o moral da malta que voltou a comprar acções.

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Há uma minoria muito ruidosa neste país, mais exactamente dois políticos e pr’aí uns vinte jornalistas, que já conseguiram a proeza de colocar alguns portugueses a pensar nas eleições presidenciais, pelo menos dois anos antes do tempo.

Há outra minoria, mais discreta e também mais numerosa, que avança confiante para a bolsa e acredita que chegou a hora de voltar aos negócios.

Qual é o país que vale? O país das obsessões do doutor Lopes e dos ódios de estimação do professor Marcelo? Ou seja, o país que, na expressão perturbadora de Ernâni Lopes, definha na economia e se perde nestas questínculas dementes?

Ou o país que a bolsa quer retratar, de uma onda de confiança colectiva, onde se acredita que tudo isto só pode mesmo melhorar? E, sobretudo, quando essa manifestação de optimismo é feita da forma mais genuína possível - com dinheiro.

A verdade é que este atrevimento, de nacionais e estrangeiros, já dura há bastante tempo – o PSI-20 está a subir desde Março. E de uma forma tão sustentada que até nós, jornalistas, os eternos incrédulos, já olhamos para a nossa bolsa e acreditamos que ali está a nascer um “país novo”.

É um facto, que este país tarda em ser perceptível nas estatísticas macroeconómicas e não se revela nos habituais indicadores de confiança. Mas que, todos os dias, e já há muitos e muitos dias consecutivos, em quantidades crescentes, vislumbra negócios no horizonte e boas oportunidades de investimento.

Esta “boa onda” que se vive na bolsa é, acima de tudo, protagonizada pelas próprias empresas.  Mas o Estado, é justo reconhecer, também deu uma ajuda para elevar o moral da malta que voltou às compras no mercado de acções.

É o caso da EDP. A eléctrica é uma das grandes responsáveis pela desgraça que se abateu sobre a nossa bolsa de valores. Porque, na última OPV, andou a vender “gato por lebre” no “road-show” internacional.

Porque, numa deriva de gestão, enfiou-se em países inacreditáveis (como a Guatemala?!!!) e em negócios ruinosos (como a Oni). E porque, quando primeiro é enganado e depois é arruinado, o investidor torna-se um eleitor violento: reage a pontapé.

A EDP está onde está, as suas cotações voltaram à casa de partida, ou seja, ao nível da primeira fase da privatização, e isso só se deve ao actual ministro da Economia. Atenção, para os mais precipitados, constatar este facto não implica elogiar Carlos Tavares.

Porque, se há realmente um “efeito Talone” no mercado, isso é mérito de quem o escolheu. Porque, se há um “efeito reestruturação”, isso deve ser creditado a quem optou por este modelo de integração do gás com a electricidade.

E porque, se o doutor Tavares quer fazer a quadratura do círculo, só tem de cumprir o que prometeu, vender o que resta da participação do Estado e pôr a EDP finalmente a salvo de ministros que gostam de se intrometer.

Mas não chegou ainda o dia do juízo final. Há pontos importantes deste acordo com a Eni que continuam por revelar. Há dúvidas monstruosas que é urgente esclarecer.

A bolsa exige isso: transparência, profissionalismo, ética e regras básicas de comportamento. Portugal desprezou isto. Só agora está a sair das trevas.

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