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O coronel é bem-vindo

O que têm em comum gerir auto-estradas em Portugal, o coronel Luís Silva e o novo governo italiano de Romano Prodi? A ligação é disparatada, porém existe.

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Em primeiro, a entrada do ex-patrão da Lusomundo na Brisa. Não é de ontem. Mas foi ontem que ganhou uma dimensão de relevo. Ao duplicar a participação que já detinha na concessionária de auto-estradas, Luís Silva rompe o tecto dos 5% e passa a figurar no quadro dos accionistas com poder de influência nos destinos da empresa.

Evidentemente que ninguém, nem a família Mello, nem Luís Silva, jamais assumirá isto nem sequer em privado. Mas não restam dúvidas que o coronel é bem-vindo à Brisa.

O assunto seguramente que foi falado entre eles. O investimento é apresentado como financeiro, mas não seria incoerente com a atitude que, por exemplo, Luís Silva tem tido durante todos estes anos na PT.

O coronel ganhou, é verdade, bom dinheiro quando passou para o grupo de telecomunicações o império que havia erguido no sector dos media e entretenimento. E ganhou um papel na administração da PT. E, como a OPA em curso prova, não está lá para vender à primeira.

Seria estranho vê-lo agora vestir uma roupa diferente, tipo salteador da arca perdida, à espreita da tal OPA à Brisa de que tanto se fala simplesmente para arrecadar mais-valias. Não é pecado. Mas, tratando-se de quem é, seria estranho.

E aqui entra a segunda peça do encadeamento absurdo: Prodi, novamente primeiro-ministro de Itália. É que o seu governo está a lutar como pode (e, neste sector, um Governo pode muito) na implosão da fusão, amigável e «entre iguais», da «sua» Autoestrade e a espanhola Abertis.

Esta operação integra um movimento de concentração que agita o sector em quase toda a Europa. Portugal incluído. É, pois, difícil dissociar o avultado investimento de Luís Silva na Brisa dos persistentes rumores sobre uma oferta hostil lançada à concessionária nacional.

Não é possível provar alguma forma de concertação entre o novo «accionista de referência» e o «núcleo português» já formado, pelo menos, entre o Grupo Mello e o BCP – e que, unidos, controlam 40% do capital.

Mas é bom que a CMVM investigue. Para que não se volte a cair na situação «à BPI», em que agora ficou evidente a força do pacto entre sócios que controlam mais de metade do capital do banco. Sem que ninguém os tenha algures obrigado a lançar a OPA que a lei obriga.

Se a onda de fusões e aquisições bater à porta do nosso sector de auto-estradas, ficará claro o novo alinhamento na Brisa. Uma OPA não-concertada pode e deve ser travada pela «frente patriótica». Desde que através de OPA concorrente.

Ou, então, o Estado que assuma esse ónus. O regulador sectorial italiano, que lá manda a sério, avisou que, se a fusão avançar, rompe unilateralmente os contratos de concessão à Autoestrade – ou seja, «só» 70% de todo o mercado nacional.

O Governo português tem a mesma «bomba atómica» à disposição, se ocorrer uma mudança indesejada no controlo da Brisa. Seria igualmente mau. Mas, pelo menos, mais transparente.

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