Opinião
O caso do director-geral
Margareth Thatcher teve um problema parecido, quando o seu Governo contratou um gestor, pago a peso de ouro, para a presidência da British Steel - um verdadeiro cancro financeiro. Perante a Câmara dos Comuns, a Dama de Ferro, a original, foi submetida a u
Margareth Thatcher teve um problema parecido, quando o seu Governo contratou um gestor, pago a peso de ouro, para a presidência da British Steel - um verdadeiro cancro financeiro.
Perante a Câmara dos Comuns, a Dama de Ferro, a original, foi submetida a um fogo cruzado dos deputados da oposição trabalhista. Argumentos?
O nível do salário era um insulto a todos os servidores do Estado, porque a função pública britânica também atravessava um processo de aperto salarial violento.
Além disso era aviltante para o contribuinte, porque aquela empresa era um autêntico cadáver financeiro e só sobrevivia com avultadas transferências orçamentais do Estado. Finalmente, havia suspeições de nepotismo.
A senhora Thatcher respondeu o seguinte: o gestor foi recrutado num processo de «executive search» entre cinco candidatos; a sua remuneração era efectivamente elevada, mas condicionada à obtenção de resultados pré-fixados; e, cumprindo objectivos, um ano da folha salarial do dito CEO era igual a uma semana de prejuízos da empresa.
Como é óbvio, o assunto ficou ali morto e enterrado. Que diferenças esta história tão parecida com a do nosso director-geral de Impostos afinal apresenta? Todas. As essenciais.
O doutor Paulo Macedo foi recrutado pelo nosso Estado não se sabe como.
O doutor Paulo Macedo recebe o que provavelmente merece, mas não se sabe em função de quê - quais são os objectivos ou sequer se existem.
O doutor Paulo Macedo recebe aquilo que se sabe, mas não se sabe porque é que recebe aquilo - o Ministério das Finanças explicou o «salto» de 33% que o seu vencimento sofreu nas vésperas da requisição, como um «prémio» pela boa gestão nas empresas que ele administrava no Grupo BCP.
Ao contrário da sua «sósia», a doutora Ferreira Leite não avaliou bem a situação e acabou por apagar a fogueira com gasolina.
Enquanto trocava insultos com o deputado Cabrita no Parlamento, o seu novo director-geral andava a trabalhar sem ter tomado posse.
Depois de ter permitido que esta situação, já de si bizarra, se arrastasse por dois meses, a tomada de posse finalmente aconteceu.
No pior momento, porque no dia em que Barroso oficializou a queda do Governo. Nas piores circunstâncias, porque às escondidas num gabinete do Ministério, numa cerimónia sem convidados, nem testemunhas.
A enorme diferença entre a história do gestor público britânico e a história do director-geral português é, afinal, fácil de explicar: enquanto que Thatcher protegia o seu subordinado, Ferreira Leite transformava o seu num suspeito.
Bagão Félix tem motivos para substituir o doutor Macedo quando e como entender. São os mesmos motivos que deveriam ter aconselhado a anterior ministra a não realizar uma posse à socapa - e, ainda por cima, no exacto dia emque teve a certeza de que iria sair do Governo.
Assim, deixa-nos pensar que Macedo não era competente para o lugar. E, pelos vistos, até era.