Opinião
Galp e três paradoxos
Ainda não chegou o dia de todas as decisões, mas Carlos Tavares já deliberou: não vai a banhos enquanto não fechar o dossier da Galp. Não deverá ser preciso adiar férias, porque até Julho tudo estará concluído. O país dos negócios andou meses suspenso des
Ainda não chegou o dia de todas as decisões, mas Carlos Tavares já deliberou: não vai a banhos enquanto não fechar o dossier da Galp. Não deverá ser preciso adiar férias, porque até Julho tudo estará concluído.
O país dos negócios andou meses suspenso deste desfecho. Agora quer é ver futebol. Nos intervalos, lá vão aparecendo algumas informações soltas, uns lampejos sobre o processo negocial.
O assunto perdeu a graça, mas não a importância. E seria interessante que, entre o golo do Nuno Gomes e o corte impecável de Ricardo Carvalho, o mesmo país que tanta vigilância exercia sobre este grande negócio, não o ignore em absoluto, logo na hora do juízo final.
Há jornais a contribuir para que as negociações, entre a Parpública e os candidatos apurados, não percam transparência. Arrancam informação nova. Mantêm o tema vivo. Mas que criam novas perplexidades.
A primeira é um suposto desagrado que a Petrocer terá transmitido ao ministro da Economia, face ao interesse da Galp na aquisição da rede da Shell em Espanha. Ao que tudo indica, é o esforço financeiro necessário que gera desconforto. Pois compromete a distribuição de dividendos ao Estado. Vamos por partes.
Parte um: crescer no retalho em Espanha é ou não absolutamente decisivo para a afirmação da Galp como «empresa ibérica»? É. Não sou eu que digo, mas as propostas de todos os candidatos, incluindo da Petrocer, como ainda ontem reafirmava o presidente do BPI em entrevista a este jornal.
Parte dois: se falhar a compra da rede à Shell, quantas mais oportunidades destas vão surgir à companhia nacional nos próximos anos? A esta pergunta deve responder o engenheiro Ferreira de Oliveira, pois o líder da Petrocer e ex-presidente da Petrogal sabe perfeitamente das dificuldades em abrir os primeiros postos Galp naquele país.
Se a Espanha é estratégica e se a Shell é uma oportunidade difícil de repetir, então porquê tanto desagrado? Qual a razão do desconforto? Será que o esquema de financiamento da Petrocer não «seca» os dividendos da Galp? Será que isso não compromete o crescimento da empresa?
Esta dúvida será obviamente esclarecida. Porque, em alternativa, nasce um paradoxo inexplicável. Foi o esquema LBO («leverage buy out»), e as consequentes restrições que essa alavancagem colocava à capacidade de investimento da Galp, o principal motivo que originou o chumbo liminar dos Sábios à Luso-Oil.
Há ainda um segundo paradoxo, uma espécie de «efeito colateral» desta operação. A Eni está na corrida à mesma rede da Shell. A Eni sempre travou a Galp de crescer no retalho espanhol. Pois a Eni pode continuar a fazê-lo, com os 650 milhões de euros que vai receber na venda da sua posição na Galp. À Petrocer. Ou aos Mello.
O terceiro paradoxo está montado em torno do Grupo Mello. Que foi apurado para a final com a proposta de um «cluster» petroquímico nacional, a constituir das sinergias entre a Galp e a CUF. Os Sábios gostaram da ideia. A Parpública sancionou-a. E agora não está interessada. Não faz muito sentido, pois não? Mas terá uma explicação. A alternativa é ver o ministro obrigado a adiar férias.