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Carlo Ratti 28 de Dezembro de 2015 às 20:30

Silicon Valley em toda a parte

Durante as últimas décadas do século XX, Silicon Valley foi um epicentro sem paralelo da inovação de alta tecnologia. Outras regiões tentaram imitar o seu sucesso, mas nenhuma foi bem-sucedida.

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O Sophia Antipolis, uma tentativa do Governo francês de criar um centro de inovação próximo de Cannes, nunca evoluiu para além das suas origens mantendo-se como um parque tecnológico relativamente calmo – apesar do seu nome mitológico, do seu clima semelhante ao da Califórnia e à proximidade como uma área de gastronomia inigualável. 

 

Contudo, no século XXI a concorrência a Sillicon Valley tornou-se mais feroz – como mostra o crescente número de localizações que juntam o seu nome ao elemento químico: Silicon Alley (Nova Iorque), Silicon Wadi (Tel Aviv), Silicon Sentier (Paris), etc. Em Londres, por exemplo, o surgimento do Silicon Roundabout no final dos anos 2000 apanhou o Governo britânico quase de surpresa. Agora denominado de Tech City, o centro de inovação no antigo bairro de Shoreditch evoluiu para um dos motores económicos de Londres e um centro de talento.

 

Histórias semelhantes estão a desenrolar-se pelo mundo. Em Berlim, é dito que uma nova start-up está a ser fundada a cada 20 minutos. Paris tem estado a construir o que vai ser o maior incubador na Europa no Halle Freyssinet. E Tel Aviv a frase "Startup Nation" passou de slogan político para uma realidade económica.

 

Pela primeira vez, "unicórnios" (start-ups que atingiram uma avaliação de mais de mil milhões de dólares) não são exclusivamente preservadas nos Estados Unidos – uma realidade que era impensável apenas há alguns anos. Uma geração brilhante da juventude mundial – de Bombaim a Praga, até ao Quénia e Singapura – está a apostar na inovação e os fundos de capital de risco norte-americanos, apoiados pelo financiamento barato, estão a saciar o seu apetite por investimentos no estrangeiro.

 

Há vários factores por detrás deste fenómeno. Num mundo globalizado, o fluxo de capitais acelerou e ampliou o seu alcance. Os inovadores por todo o mundo são capazes de reunir apoio de fundos tradicionais de capital de risco ou de plataformas de crowdfunding como Kickstarter. As ideias movem-se ainda mais rapidamente – impulsionadas, apoiadas e fortalecidas pela internet. E a capacidade de as tornar realidade mantêm esse ritmo, na medida que as cadeias de valor e as novas tecnologias como a impressão 3D reduz os tempos de implementação.

 

Entretanto, a Grande Recessão que se seguiu à crise financeira mundial de 2008 perturbou as indústrias tradicionais, enquanto criou um elevado excedente de talento criativo e de espaços de trabalho acessíveis. À medida que uma força de trabalho cada vez mais móvel, como boa formação e que assume riscos converge para os centros urbanos, a emoção da vida citadina em conjunto com a disponibilidade de partilhar espaços de trabalho e uma variedade de mecanismos de apoio ajudam a apoiar o momento inovador.

 

O antigo presidente da Câmara de Nova Iorque, Michael Bloomberg, deu aquilo que talvez seja o melhor resumo sobre a atracão da vida urbana. Discursando na Universidade de Stanford em 2013, afirmou "acredito que cada vez mais licenciados de Stanford vai mudar-se para Silicon Alley, não apenas porque somos o mais recente e melhor sítio tecnológico no país, mas também porque há mais para fazer a uma sexta-feira à noite do que ir à Pizza Hut em Sunnyvale. E vocês podem ainda ser capazes de ter um encontro com uma rapariga que se chame "Siri" (o assistente pessoal digital instalado pela Apple nos dispositivos).

 

Bloomberg é geralmente considerado como uma das maiores forças por detrás de Silicon Alley. Durante o seu mandato, financiou empresas tecnológicas em fase inicial, contratou o primeiro director-geral digital da cidade e lançou uma nova universidade para desenvolver talento em alta tecnologia. Políticas semelhantes estão agora a ser implementadas em muitas áreas urbanas, de forma a atrair massa criativa critica e pessoas com experiência tecnológica.   

 

As cidades, como um relatório recente do Fórum Económico Mundial destaca, estão a tornar-se rapidamente não apenas condutores da inovação, mas também locais de teste para novas tecnologias, como espaço de reprogramação, mobilidade baseada em veículos autónomos, agricultura urbana e iluminação inteligente de ruas. Entretanto, aplicações de partilha de transportes como a Uber e plataformas de partilha de apartamentos como a Airbnb estão a demonstrar como as cidades se tornaram alguns dos ambientes mais férteis para o desenvolvimento tecnológico. Isso é outra razão porque muitas start-ups estão a criar raízes em centros urbanos.

 

Muito provavelmente a proliferação de inovação está só a começar. À medida que a internet continua a sua penetração todos os aspectos da nossa vida, estão a entrar naquilo que cientista de computação Mark Weiser chamou da era "computação ubíqua" – um tempo em que a tecnologia prevalece tanto que "fica no plano de fundo das nossas vidas". Em pouco tempo, o mundo digital e o mundo físico não vão distinguíveis. A era do "Silicon em todo o lado" está aqui e está a ganhar forma nas cidades mundiais. 

 

Carlo Ratti lidera o Conselho da Agenda Global do Fórum Económico Mundial sobre Cidades do Futuro e ensina no Massachusetts Institute of Technology, onde dirige o Senseable City Laboratory. É também conselheiro especial para questões urbanas da Comissão Europeia.

 

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro

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