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08 de Novembro de 2012 às 23:30

Willy Brandt e Merkel

Tal como Brandt, Merkel exerce uma autoridade incontestável na política Europeia. O País e o agora PSD precisam de a impressionar, pressionar e convencer pois o futuro de ambos depende em larga medida exactamente disso

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Quando Willy Brandt chegou a Portugal em 1974, para visitar o País e sobretudo o Partido Socialista, foi recebido no eterno aeroporto da Portela por uma manifestação-surpresa de umas centenas de jovens sociais-democratas!

O PPD de então reclamava-se social-democrata, recusara o convite para integrar a União das Democracias-Cristãs e tentava, por todos os meios, ser aceite na Internacional Socialista por razões de sobrevivência financeira e de reconhecimento internacional.

Willy Brandt já não era, então, Chanceler pois Guillaume, o seu secretário pessoal e amigo, tinha sido preso em 24 de Abril de 1974 porque conjugava apenas atributos com o de espião da Stassi.

Willy Brandt era, contudo, Presidente do Partido Social Democrata Alemão, Prémio Nobel da Paz e o político mais influente da esquerda moderada europeia que então reinava nos países do centro e norte da Europa.

Willy Brandt veio a Portugal manifestar o apoio das democracias europeias à jovem "revolução" e integrou um grupo de líderes Europeus (Palme, Schmidt, Genscher, Mitterrand, Giscard d’Estaing,Wilson, Calaghan) que, com a ajuda de Frank Carlucci e do Generalíssimo Franco, obrigaram Kissinger, Nixon e Ford a aceitar que Portugal não deveria ser usado como vacina para impedir o alastramento do comunismo no Sul da Europa.

Mas a visita de Brandt a Portugal teve outra consequência, que não estava na agenda de quem a organizou: é que chamou a atenção de Brandt e da Alemanha para a existência de um partido desconhecido que acolhia entusiasticamente o ex-Chanceler em Lisboa.

Na tarde em que Brandt aterrou em Lisboa, Ernani Lopes telefonou, entusiasmado da embaixada de Portugal em Bona para os dirigentes do PPD, dizendo que as televisões alemãs tinham dado um enorme destaque à recepção que tinha sido proporcionada ao ex-Chanceler no Aeroporto de Lisboa.

E porquê? Porque ao dia de sol e céu azul, juntou-se o laranja das enormes bandeiras PPD e a percepção de que havia uma multidão desconhecida saudando Brandt. Os jovens pêpêdês de então já tinham aprendido como, com poucas centenas de pessoas, se pode criar a ilusão de alguns milhares e movimentaram os seus manifestantes de trás para a frente da manifestação, à medida que a comitiva passava vagarosamente. De tal maneira que parecia que um cordão de jovens enchia a avenida até à rotunda que tinha um relógio de enormes ponteiros amarelos implantado no seu relvado.

Mais para o fim da tarde, num cocktail na Embaixada Alemã, Willy Brandt fez questão de conversar pessoalmente com Francisco Balsemão, sob o olhar severo e penetrante de Francisco Salgado Zenha.

O PPD nunca entrou na Internacional Socialista. Mas a partir dessa visita passou a ser reconhecido e apoiado. E a visita de Willy Brandt a Portugal foi muito importante para o País, mas também para o então PPD.

38 Anos depois, e passados pouco mais de 10 anos sobre a morte de Willy Brandt, chega a Lisboa a Chanceler Merkel para uma curta e intensa visita.

Tal como Brandt, Merkel exerce uma autoridade incontestável na política Europeia. O País e o agora PSD precisam de a impressionar, pressionar e convencer pois o futuro de ambos depende em larga medida exactamente disso.

Desde 2008 que a Europa periférica aplica a receita económica e financeira que a Chanceler e o seu ministro das Financeiras entendem apropriada.

Os resultados na Grécia são desastrosos e a Irlanda só aparentemente é um "case study": porque o seu problema era essencialmente de solvabilidade dos bancos, porque bateram o pé em matérias essenciais para sua sobrevivência como o IRC, porque são um enorme offshore e, "the last but not the least", porque o Reino Unido, que não faz parte do Euro e os descendentes dos passageiros do Mayflower jamais deixarão afundar a Irlanda.

Resta Portugal, por e enquanto a Espanha conseguir resistir ao "bail-out".

Portugal tem sido o aluno esforçado e elogiado cujas notas passaram do muito bom ao sofrível num ápice e que está na eminência de chumbar!

Vai às aulas? Nem uma falta! É bem-comportado? Os professores gostam tanto dele que às vezes os colegas até se irritam! Estuda a matéria ensinada? Estuda alto, sublinha e por isso sabe tudo de cor! Faz os trabalhos de casa? Os dele e os dos outros, com rascunho e tudo!

Então?

Seria óptimo, para o País e para o PSD, se aproveitássemos a visita da Chanceler para apurar o plano do curso!

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