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11 de Setembro de 2009 às 12:14

Um país "paracensório"

Aqui há muitos anos, li ou ouvi, provavelmente num filme americano série B com Chuck Norris, que defender a liberdade pode passar por dar a vida para proteger a de terceiros. No outro lado do espectro, ainda há mais anos, li, também, a famosa figura poética...

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(Onde, usando-se um neologismo, se salienta que, em Portugal, possivelmente existe mais amor aos gostos e conveniências que à liberdade).

Aqui há muitos anos, li ou ouvi, provavelmente num filme americano série B com Chuck Norris, que defender a liberdade pode passar por dar a vida para proteger a de terceiros. No outro lado do espectro, ainda há mais anos, li, também, a famosa figura poética de Bertolt Brecht, lembrando que a indiferença quanto à repressão aos outros acaba abrindo caminho à que, no final, nos vai atingir ("quando me vieram prender já não havia ninguém ao meu lado").

Este intróito heróico-solene, com um q.b. de paradoxal cinismo, vem a propósito do golpe vil de socialistas contra Manuela Moura Guedes (a nossa Mariana, imagine-se) e o seu Jornal Nacional. Na semana passada, já havia referido o evidente assalto ao poder que se vai desenrolando (1), o qual , como qualquer campanha negra com esse objectivo, passa sempre por eliminar quem se lhe oponha, objectiva ou subjectivamente, usando métodos directos ou lançando"fatwas" contra tais atrevidos.

Não vem ao caso o facto de uma multidão (eu incluído) ter começado a ver o dito Jornal Nacional e ter lido os "Versículos Satânicos", só depois das maldições respectivas do pequeno ayatollah Sócrates ou do Grande Ayatollah Khomeini. Com efeito, os danos colaterais não escondem o propósito primário e óbvio, sendo evidente também que não é empresarial a decisão que faz cair as acções próprias 15% e subir 10% a do concorrente. (Nos Estados Unidos, num caso como este, julgo que a SEC poderia retirar uma a Media Capital da cotação por frustrar as expectativas e direitos dos investidores, que estão lá para partilhar lucros e não fazer política. E cá , como lá, é clara a possibilidade de processar a administração por gestão danosa).

Mas o que conta é que, para o futuro, foi cortado o pio a um órgão de informação que fez mais pela investigação do caso Freeport que o nosso "izelente" Ministério Público em 5 anos, e ao qual, tanto quanto se sabe, ninguém conseguiu apontar um único erro fáctico.

Vamos então partir daqui para o tema estruturante desta crónica, o qual consiste em avaliar como reagiu a pátria a tal patifaria. Eu tive a esperança de que, tal como em 1640, defenestrassem o Cebrian e os seus lacaios, todos rumando, em final feliz, para o sol poente e um amanhã mais risonho.

Nyet! As minhas profundas devassas conduziram-me a uma conclusão bem diversa, deixando-me desolado e deprimido.

Como metodologia infalível, sugerida pela Gallup, pus-me a assistir à "Opinião Pública" da SIC Notícias. E o que ouvi, apesar da reprovação insistente argumentada pela comentadora, uma conhecida jornalista, antigo membro da Comissão de Ética da profissão?

Dos nove voluntários ao comentário nenhum se demonstrou indignado ou ,ao menos, contrário à situação censória! Um apareceu com o fado da necessária vigilância ao "grande capital" (não percebi a que propósito, devia ser obsessão); dois recorreram ao insulto contra MMG (incluindo uma alegada frustração sentimental ), os restantes exibiram antes repulsa quanto ao estilo televisivo. A girândola veio de uma empolgada participante que se afirmou incondicionalmente defensora da liberdade de expressão… "desde que com respeito" (omitindo, preocupantemente pela naturalidade, como se define e quem define "respeito", não sendo um tribunal ).
No inquérito telefónico, 46% declararam-se favoráveis à extinção do Jornal Nacional de 6ª - destinado a ser "homogeneizado", isto é, normalizado.
Atentos, veneradores e obrigados somos (1).

(1) Actualmente, a discussão sobre o "défice democrático" vem a propósito de mais uma gaffe de Ferreira Leite (que não desaparece por Jaime Gama já ter cometida outra igualzinha) e não o facto de, em Portugal continental como no Portugal - Madeira , se ter de aguentar caciques , sozinhos ou em bando, com excessivas tendências para a usurpação. Realmente, com tais discussões "substantivas" mostramos bem não querer resolver os problemas de fundo.
(2) Outra hipótese (malévola): há muitos socialistas em frente à televisão, às 5 da tarde, e só alguns reaccionários.


Advogado, autor de " Ganhar em Bolsa" (ed. D. Quixote) e "Bolsa para Iniciados" (ed. Presença)
fbmatos1943@gmail.com
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