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13 de Julho de 2007 às 13:59

Um Congresso à beira do ataque de nervos

Entre o Presidente George W. Bush e o Congresso existe agora uma diferença de fundo que se liga com o futuro. O Presidente já entrou nos seus últimos 18 meses do seu último mandato, ao Congresso falta menos que isso para procurar a sua reeleição.

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Os segundos – e últimos – mandatos presidenciais são tradicionalmente a ocasião para a tomada de medidas que deixem uma marca na história. São também oportunidades para o Presidente cessante ler o eleitorado e preparar o seu sucessor. Mesmo que o Presidente possa passar momentos menos bons não pode deixar de ler os sinais do eleitorado. Bill Clinton teve o escândalo Lewinsky que Al Gore leu mais através dos "medias" que do eleitorado.

Afastou-se de Clinton na sua campanha, nem queria ter o Presidente por perto. Cometeu um erro de calculo quanto à popularidade real de Bill Clinton; o seu trabalho como Presidente foi mais importante que os seus devaneios sexuais. George W. Bush passou pelo mesmo afastamento no final do ano passado. Os congressistas que se recandidatavam ao Capitólio não o queriam por perto; mas a leitura mostrou-se correcta: a política de Bush relativamente ao Iraque e a sua fixação no terrorismo levaram o eleitorado a optar pelos democratas.

A maioria democrata que se instalou no Capitólio desde a posse dos novos eleitos no inicio deste ano, ao contrário do que se poderia esperar, não foi a "carga da brilhante brigada". Os democratas optaram por um confronto comedido e muitas vezes contra a expectativa do eleitorado não impediram George W. Bush de continuar a sua política inconsequente no Iraque. Até porque, por muito que se defenda a retirada das tropas americanas, é evidente que não existem condições para a sua saída imediata e, em certa medida, até se pode justificar, ou pelo menos compreender que tenha existido a necessidade de reforçar os efectivos. O que já não se compreende nem justifica é que não exista uma alternativa política, uma solução diplomacia global que permita a retirada das tropas americanas, nem a influência suficiente sobre o Governo iraquiano para que este assuma as responsabilidades que tem descartado para os americanos nem cumpra os compromisso assumidos com os seus aliados e os iraquianos.

Não admira pois que quase 65 por cento dos americanos reprovem o Presidente e a sua política, não só a iraquiana. George W. Bush não deixa qualquer herança política; tudo faz crer que a questão iraquiana não esteja resolvida no final do seu mandato, ou pelo menos não tenha encontrado uma solução dignificante para os EUA. A herança fica para os democratas, não será arrojado dizê-lo.

Bush não tem um sucessor, nem o prepara como habitualmente um Presidente faz ao seu vice ou em casos extremos a outro notável do partido, nem os notáveis querem ter o apoio do inquilino da Casa Branca.

Pior que isso é em final de mandato os congressistas – senadores e representantes – apoiarem propostas democratas ou elaborarem propostas de resoluções que contrariam a política presidencial e são susceptíveis de ter o apoio democrata.

Esta foi uma dessas semanas em que a Casa Branca teve de torcer braços no Capitólio para evitar a aprovação de resoluções pondo em causa a sua política iraquiana, mesmo que para isso tivesse de acusar os seus sub-rogados de Bagdad de incompetência. A Administração ganhou votações por margens tão magras que se houver um segundo voto não conseguirá segurar os senadores republicanos, nem os membros da Câmara dos Representantes.

No Capitólio, a política de George W. Bush é uma existência que em todos os sectores da vida política, social e económica só prejudica os seus apoiantes. O mínimo de decoro político faz porém com que a fidelidade partidária se imponha mas dentro de limites moralmente aceitáveis que o Presidente parece não reconhecer.

As deserções multiplicam-se e com elas as moções contrárias à permanência no Iraque. E os nomes são sonantes. A senador Olympia Snowe, do Maine, aceitou juntamente com o senador Gordon Smith, do Oregon, apoiar a exigência da retirada militar do Iraque em 120 dias. Outros nomes mais proeminentes como Richard Lugar, senador por Indiana, juntou-se a John Warner da Virgínia para estudar legislação que pusesse um ponto final da guerra. Até a senadora Elizabeth Dole, da Carolina do Norte, já defende abertamente uma reduzida presença militar americana no Iraque.

Em comum, estes cinco senadores têm o facto de serem republicanos, quatro deles considerados conservadores, e serem destacadas figuras tradicionais da vida política americana.

A 18 meses do final de mandato de Bush e pouco mais de um ano das eleições o Congresso parece de facto estar á beira de um ataque de nervos.

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