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21 de Maio de 2007 às 13:59

Turismo em Portugal: o caso particular de Lisboa

Como tive a oportunidade de referir na última semana, em Portugal a aposta estratégica no sector do turismo apresenta-se, inquestionavelmente, prioritária não só para o crescimento económico, como também para a criação de emprego. Contudo, parece-me també

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Dentro do tema, proponho hoje, e porque entendo oportuno na fase excepcional de eleições intercalares em que se encontra a capital portuguesa, centrar-me no caso de Lisboa, cidade e região, enquanto destino turístico.

Tendo ainda como referência a VIIª Cimeira do World Travel & Tourism Council (WTTC) realizada há dias, convirá realçar que, de acordo com dados desta organização, nos próximos dez anos a indústria do turismo poderá vir a pesar 11,3% do Produto Interno Bruto da área promocional de Lisboa – que inclui a região Oeste, Ribatejo, Templários, Leiria e Fátima – contra os actuais 9% do PIB. Neste aspecto Lisboa beneficiará do facto de ser a segunda cidade no mundo, depois de Roma, a ter uma "conta satélite", que permite medir o peso económico do turismo no total da economia, tendo em conta factores como as receitas geradas ou o emprego criado.

Gerir com eficácia a capital do país representa, por si só, uma tarefa titânica. Lisboa – reflectindo, parte de um problema que também é nacional, pois não se pode ignorar que a competitividade da economia portuguesa depende também da competitividade local e regional – enfrenta reptos de grande complexidade que passam por repensar o ordenamento urbanístico e a reabilitação urbana, o trânsito e a rede de transportes, o saneamento básico, a segurança dos cidadãos, a preservação do ambiente e do património histórico-cultural.

Acredito que, acima de tudo, os lisboetas exigirão de um novo executivo autárquico, rigor, transparência e parcimónia na despesa. Mas também a requalificação da cidade. Aos candidatos não bastará discutir a situação de quase falência em que a Câmara se encontra e/ou a imputabilidade da culpa. É premente que, durante a campanha, estes apresentem inequivocamente a sua visão para o futuro de Lisboa. Diria que é fundamental que respondam, por exemplo, às questões: como estará Lisboa, para os lisboetas e não lisboetas que nela trabalham, daqui a dez anos? E, a este horizonte, como deve estar Lisboa para os turistas? Comparativamente, mais competitiva? Quais as propostas de intervenção até lá?

Para além do intento de ordenamento urbanístico – prioridade das prioridades – realço aqui um aspecto que considero fundamental para o bem-estar de todos os que vivem a cidade diariamente: o ambiente. De acordo com o projecto People – Population Exposure to Air Pollutants in Europe – promovido pelo Joint Research Center da Comissão Europeia, junto de seis cidades europeias (Lisboa, Bruxelas, Ljubliana, Madrid, Dublin e Bucareste) entre 2002 e 2004, e cujos dados foram divulgados em 2005, Lisboa era, a seguir a Madrid, a segunda cidade com maior concentração de benzeno. Ora, este estudo, como muitos outros que periodicamente são feitos à qualidade do ar em Lisboa, revelam dados preocupantes para a saúde pública e que não podem continuar a ser conhecidos de forma inconsequente.

Já no plano turístico – e porque Portugal tem um mercado interno muito pequeno – é imprescindível que Lisboa aumente a capacidade para atrair visitantes estrangeiros. E aqui convirá recordar o que Jean-Claude Baumgarten, o presidente do WTTC enfatizou recentemente em Lisboa: o turismo pode vir a ressentir-se pelo hiato temporal que poderá existir entre o momento em que o aeroporto da Portela atinja a sua capacidade máxima e a data prevista para a abertura do novo aeroporto internacional de Lisboa, em 2017. E se se pretende conferir novo impulso ao turismo em Lisboa, urge encarar esta infra-estrutura aeroportuária como uma prioridade para a cidade, para a região e o país.

Mas para além de diversas infra-estruturas, a região de turismo de Lisboa precisa – numa perspectiva de desenvolvimento sustentável – de promover a diversificação e de melhorar a qualidade da sua oferta. A região é extremamente rica. Desde praias e termas, passando por um conjunto de Serras, Parques Naturais e Grutas, pelas Igrejas, Mosteiros, Conventos e Castelos, pelas infra-estruturas vocacionadas para negócios e eventos, até à gastronomia, a oferta é múltipla. Assim, – e definindo um conjunto de acções determinantes para o desenvolvimento turístico – importa não ignorar a aposta turística nos city breaks, no turismo citadino e cultural, no turismo balnear, no turismo de natureza e no turismo de negócios e ligado aos congressos. Aliás, não esqueçamos que, segundo a International Congress & Convention Association, Lisboa é a 10ª cidade mais procurada para a realização de congressos associativos internacionais.

Por tudo isto, estes são também os desafios dos candidatos à Câmara Municipal de Lisboa e a expectativa em torno dos debates públicos acerca deste tema não pode deixar de ser elevada.

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