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26 de Fevereiro de 2012 às 23:30

Teatro do absurdo no palco do Parlamento

Por estes dias, o Parlamento andou num frenesim a debater um assunto de magna importância para o futuro da nação. Tudo começou com uma proposta genial do PS onde ssugeria que os deputados começassem a beber água da torneira, em vez de engarrafada, para reduzir os custos da Assembleia da República.

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Por estes dias, o Parlamento andou num frenesim a debater um assunto de magna importância para o futuro da nação. Tudo começou com uma proposta genial do PS onde ssugeria que os deputados começassem a beber água da torneira, em vez de engarrafada, para reduzir os custos da Assembleia da República.

A proposta partiu do deputado socialista Pedro Farmhouse. O autor da iniciativa, com um notável denodo aritmético, fez as contas e concluiu que entre Janeiro e Dezembro de 2010 o Parlamento consumiu 35 mil litros de água mineral, em 45 mil garrafas de plástico de 330 mililitros, duas mil garrafas de litro e meio e 78 mil pequenos copos de plástico. E queria que a medida, pelo menos, fosse aplicada na comissão do ambiente, da qual Farmhouse faz parte.

Aplicando todo a sua "expertise", com um empenho comparável ao do deputado do PS, o conselho de administração do Parlamento retorquiu também com números. A água engarrafada para as reuniões da dita comissão custam 259,20 euros por mês, enquanto para a água da torneira atingiriam os 2.730 euros, valor que inclui os custo de pessoal "para o enchimento, limpeza, colocação e arrume dos vasilhames".

Para não reduzir o debate os números, a secretária-geral do conselho de administração do Parlamento avançou ainda com um esmagador argumento de ordem sanitária. "A mais séria das questões é a higiene. Se ela é indiscutível na água engarrafada, não se pode assegurar no uso da água da água da torneira essa água bacteriologicamente pura que se espera", afirmou Adelina Sá Carvalho, citada pelo "JN". Posto tudo isto, o referido conselho deu um parecer negativo à proposta do PS.

Contudo, o Parlamento ter-se-á esquecido de debater uma terceira via, que pode tornar este debate ainda mais estimulante. O contributo é simples, quase básico no raciocínio. Compra-se por uma vez a água engarrafada e depois cada deputado fica com uma garrafa, identifica-a com o seu nome, e depois reabastece-a nos bebedouros que já existem no Parlamento, ou na torneira que estiver mais à mão, sendo responsável pela sua preservação, pelo menos durante um ano.

Se Luigi Pirandello, mestre do teatro do absurdo, ainda estivesse entre os vivos, com certeza não perderia a oportunidade para levar ao palco este grandioso e pungente enredo, de sucesso garantido. A magnitude deste debate e a sua transcendência para o futuro explica, em grande parte, porque o País chegou a onde está e porque tarda em sair daqui.



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