Opinião
Só eu sei? porque vim sozinho!
Leitores do Jornal de Negócios, apetece dizer que só eu sei porque decidi fazer o Euromilhões Lisboa-Dakar 2006 sozinho! Naquela que é a minha quarta participação na mais dura e mítica prova de Todo-o-Terreno do Mundo, foi preciso chegar à sexta etapa par
Ao longo de 444 quilómetros cronometrados, o facto de ir a solo trouxe-me alguma desvantagem, já que fui forçado, por diversas vezes, a sair do Mitsubishi e esvaziar e encher os pneus pois passei por zonas entrelaçadas por pista e areia. Uma operação bastante simples e rápida? a dois, mas que sozinho se revela algo cansativa e obriga a constantes quebras de ritmo.
Por outro lado, não foi só aí que perdi tempo, uma vez que alguns quilómetros antes parei para ver se era possível fazer alguma coisa pelo Francisco Inocêncio e pelo Paulo Fiúza, em cuja equipa da Red Line Off Road Team estou integrado. Infelizmente para a equipa portuguesa, que vinha a fazer um excelente rali na sua estreia, o Francisco não evitou um aparatoso despiste e quatro cambalhotas danificaram o Mitsubishi Pajero sem possibilidade de reparação. É menos uma equipa portuguesa em prova, depois dos abandonos de Pedro Grancha e António Ventura. A chegada à Mauritânia revelou-se implacável para muitas equipas?
Numa altura em que ocupo a 61ª posição à geral, o facto de ser o quinto melhor português em prova só me pode deixar orgulhoso? e preocupado, pois a parte mental é muito importante no Dakar. Não podemos entrar em euforias e deitar todo o trabalho realizado até então a perder, pelo que é necessário manter a cabeça fria e não querer andar demasiado depressa para ganhar mais lugares à geral. Ainda faltam mais de quatro mil quilómetros de prova. Tudo a seu tempo?
Justamente, hoje, dos 521 quilómetros que terei de enfrentar, 499 são a valer. Fora de pista até final, as indicações não são muitas no meu road book e quem falhar os WPO (pontos de orientação obrigatórios) serão fortes candidatos a perder horas atrás da pista correcta. A seguir à dificuldade das dunas, os concorrentes enfrentam os planaltos empedrados e a famosa «herbe à chameaux», traiçoeira porque pode prender o carro e resultar? num abandono».
Voltando ao dia de hoje, senti algo de especial. Levantei-me cedo para fazer mais de 300 quilómetros em ligação para o início da classificativa, deixando Marrocos para trás e entrando no Saara Ocidental. Depois, foram 444 quilómetros contra o cronómetro, atravessando a fronteira com a Mauritânia, palco de grandes decisões relativamente aos lugares cimeiros. Ou seja, tão importante como uma pá no deserto é o passaporte!