Opinião
O jogo do empurra
Ontem, na minha crónica de viagem, fiz referência a um incidente que tive na parte final da etapa. Já de noite, cheguei a um local com vários carros plantados e quando decidi mudar de rumo e tentar a minha sorte por outro lado, onde já havia também mais p
Pois bem, no decorrer desta 11ª etapa, que nos levou de Kayes a Bamako, num total de 705 quilómetros dos quais apenas 231 quilómetros eram cronometrados, sucedeu-me uma coisa que me leva seriamente a ponderar se, de facto, não existe alguma maldição que me tenha sido lançada pelos pilotos da equipa de Jean-Louis Schlesser!
Recordo apenas que num Masters, aqui há uns anos, o próprio Jean-Louis Schlesser por pouco não me passava por cima, um comportamento anti-desportivo que foi filmado e difundido. Mais recentemente, em 2003, já no Dakar, foi o Servia que me acertou em cheio no topo de uma duna – apesar de involuntário –, a mim e ao meu quad? que muitos cuidados precisou para poder continuar em prova. Desta feita, foi com Thierry Magnaldi que tudo se passou e, uma vez mais, o desportivismo ficou em casa!
Devido aos problemas que teve na etapa anterior, o francês atrasou-se muito e partiu dos últimos lugares. Com a pressa de ganhar terreno e tempo, a determinado momento, surgiu no meu retrovisor de prego a fundo. Mantive a calma e o meu percurso até que ouvi no meu habitáculo o som do ‘sentinel’ (buzina que todos possuímos para avisar quem nos antecede), sinal que o piloto francês estava a preparar-se para me ultrapassar. Mas antes que pudesse desviar-me levei uma pancada por trás, uma espécie de chega para lá de Magnaldi! Depois do espanhol na noite anterior, um francês? Enfim, felizmente que o meu carro nada teve e ambos pudemos continuar em prova. Desportivamente, apanhei muito pó, mas como não parti tão atrás como me tinha acontecido nas últimas etapas, o percurso foi feito sem grandes dificuldades, poupando sempre o material, uma vez que estou cada vez mais perto de atingir o Lac Rose, em Dakar.
Para hoje, mais uma travessia de fronteira. Deixamos o Mali para trás e rumamos à Guiné, indo de Bamako a Labe. Uma especial com 368 quilómetros cronometrados e com mais de 500 quilómetros de ligações, ou seja, cansativa como as mais difíceis. Muita vegetação, densa, e passagens de água, num cenário bem diferente do da Mauritânia. E à chegada, o ‘castigo’ de não termos assistência, uma vez que se trata de uma etapa-maratona, ou seja, os pilotos chegam ao acampamento e fazem eles próprios a mecânica, pois assistência só na noite seguinte. Como se o Dakar não fosse suficientemente difícil, não acha?.