Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Negócios negocios@negocios.pt 13 de Março de 2003 às 11:03

Sérgio Figueiredo: «As bruxas estão de volta»

O facto da semana é a audiência pedida pelo presidente do BBVA aos nossos Chefes de Estado e de Governo. A iniciativa é relevante e até a bolsa, brindou as cotações do BCP e do BPI com valorizações bastante simpáticas.

  • ...

O facto da semana é a audiência pedida pelo presidente do BBVA aos nossos Chefes de Estado e de Governo. A iniciativa é relevante e até a bolsa, que há três anos está incapaz de reagir ao que quer que seja, brindou as cotações do BCP e do BPI com valorizações bastante simpáticas.

Numa perspectiva mais imediatista, portanto a menos importante, pode dizer-se que este rumor BBVA constitui um complemento vitamínico para as anémicas capitalizações bolsistas da nossa banca privada.

Mas a reaparição do fantasma espanhol no sistema financeiro nacional carrega outro tipo de interrogações e de perplexidades, bastante mais profundas que o normal sobe e desce do mercado de capitais.

São interrogações que se colocam ao nível dos instrumentos e dos métodos. São perplexidades que se levantam no plano dos princípios e dos interesses.

Restam poucas dúvidas que esta visita cordial do líder do BBVA a Lisboa é mais do que uma coincidência. A assembleia geral de accionistas daquele gigante espanhol deixou bem claro, há duas semanas, que o mercado português é prioritário para a sua estratégia de expansão e crescimento. E a intenção, igualmente assumida, do BBVA participar no aumento de capital que o BCP vai realizar na próxima semana.

A questão em aberto está na forma como pode o Estado português, em cumplicidade com dois importantes bancos privados nacionais, contrariar um possível «remake» da história Santander/Champalimaud.

Não são inocentes, a este respeito, as posições assumidas nos últimos dias por Fernando Ulrich, sustentando uma intervenção mais activa da Caixa Geral de Depósitos na estrutura accionista de bancos privados. Na prática, o que o vice-presidente do BPI sugere é a profusão do método que no passado foi usado para conservar o Sotto Mayor em mãos nacionais e que transformou a CGD no maior accionista do BCP.

Como se sabe, esta experiência está longe de se apresentar como um caso bem sucedido. O papel de «silent partner» a que o banco do Estado está remetido, o seu alheamento completo nas decisões estratégicas tomadas pelos órgãos sociais da instituição liderada por Jardim Gonçalves, cria situações desagradáveis como aquela troca de galhardetes que assistimos em Outubro.

É evidente que banco concorrentes não podem apostar em cruzamentos accionistas entre si, porque essa não é a solução. Os conflitos de interesses são óbvios, não existe transparência e a ambiguidade é má conselheira para toda a gente.

E é aqui que entramos no plano dos princípios e dos interesses. Se é válido o princípio de preservação da identidade nacional do sistema financeiro, não pode haver meias-tintas. A CGD é cem por cento pública, o que até pode ser questionável mas é perfeitamente legítimo. Os bancos privados podem voltar ao Estado, o que até seria legítimo, mas absolutamente ridículo.

A alternativa que resta é o caminho das fusões entre privados. O que toda a gente defende como princípio, mas que até agora tem prevalecido os interesses. De cada um.

Por Sérgio Figueiredo, Director do Jornal de Negócios

Artigo publicado no Jornal de Negócios

Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio