Opinião
Sérgio Figueiredo: «As bruxas estão de volta»
O facto da semana é a audiência pedida pelo presidente do BBVA aos nossos Chefes de Estado e de Governo. A iniciativa é relevante e até a bolsa, brindou as cotações do BCP e do BPI com valorizações bastante simpáticas.
O facto da semana é a audiência pedida pelo presidente do BBVA aos nossos Chefes de Estado e de Governo. A iniciativa é relevante e até a bolsa, que há três anos está incapaz de reagir ao que quer que seja, brindou as cotações do BCP e do BPI com valorizações bastante simpáticas.
Numa perspectiva mais imediatista, portanto a menos importante, pode dizer-se que este rumor BBVA constitui um complemento vitamínico para as anémicas capitalizações bolsistas da nossa banca privada.
Mas a reaparição do fantasma espanhol no sistema financeiro nacional carrega outro tipo de interrogações e de perplexidades, bastante mais profundas que o normal sobe e desce do mercado de capitais.
São interrogações que se colocam ao nível dos instrumentos e dos métodos. São perplexidades que se levantam no plano dos princípios e dos interesses.
Restam poucas dúvidas que esta visita cordial do líder do BBVA a Lisboa é mais do que uma coincidência. A assembleia geral de accionistas daquele gigante espanhol deixou bem claro, há duas semanas, que o mercado português é prioritário para a sua estratégia de expansão e crescimento. E a intenção, igualmente assumida, do BBVA participar no aumento de capital que o BCP vai realizar na próxima semana.
A questão em aberto está na forma como pode o Estado português, em cumplicidade com dois importantes bancos privados nacionais, contrariar um possível «remake» da história Santander/Champalimaud.
Não são inocentes, a este respeito, as posições assumidas nos últimos dias por Fernando Ulrich, sustentando uma intervenção mais activa da Caixa Geral de Depósitos na estrutura accionista de bancos privados. Na prática, o que o vice-presidente do BPI sugere é a profusão do método que no passado foi usado para conservar o Sotto Mayor em mãos nacionais e que transformou a CGD no maior accionista do BCP.
Como se sabe, esta experiência está longe de se apresentar como um caso bem sucedido. O papel de «silent partner» a que o banco do Estado está remetido, o seu alheamento completo nas decisões estratégicas tomadas pelos órgãos sociais da instituição liderada por Jardim Gonçalves, cria situações desagradáveis como aquela troca de galhardetes que assistimos em Outubro.
É evidente que banco concorrentes não podem apostar em cruzamentos accionistas entre si, porque essa não é a solução. Os conflitos de interesses são óbvios, não existe transparência e a ambiguidade é má conselheira para toda a gente.
E é aqui que entramos no plano dos princípios e dos interesses. Se é válido o princípio de preservação da identidade nacional do sistema financeiro, não pode haver meias-tintas. A CGD é cem por cento pública, o que até pode ser questionável mas é perfeitamente legítimo. Os bancos privados podem voltar ao Estado, o que até seria legítimo, mas absolutamente ridículo.
A alternativa que resta é o caminho das fusões entre privados. O que toda a gente defende como princípio, mas que até agora tem prevalecido os interesses. De cada um.
Por Sérgio Figueiredo, Director do Jornal de Negócios
Artigo publicado no Jornal de Negócios