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29 de Outubro de 2004 às 13:59

Os ciclos políticos de 2 anos

Um ciclo político de dois anos não permite correcções. Logo a margem para errar é nula. É isso que os actuais governantes devem ter presente. A solução é concentrarem-se num modelo simples.

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No passado dia 14 de Outubro escrevi um artigo no Jornal de Negócios sobre a aceitação dos ciclos políticos e a maturidade democrática, e deixei uma questão em aberto: Como poderá Santana Lopes levar os portugueses a entusiasmarem-se com o seu projecto, tendo para o efeito um ciclo curto de dois anos e um conjunto de actos eleitorais e decisões políticas até às próximas eleições legislativas de 2006?

Hoje, a maioria dos governos ocidentais reconhece que os bons modelos de gestão empresarial devem ser aplicados aos ciclos políticos.

A generalidade dos ciclos de quatros anos permitem realizar reformas, avaliar o impacto das políticas e medidas de acção governativa e ainda introduzir as correcções. Pelo contrário, os ciclos de dois anos são de elevado risco. Não permitem correcções, nem deixam margem para equívocos. E por isso não aceitam falhas, pois o tempo de avaliação é escasso. Mas, essas falhas traduzem-se em perda de votos e em derrotas eleitorais. E é aqui que se encontra o actual XVI Governo Constitucional. No meio da tempestade.

Para dobrar o cabo das tormentas, é necessário bom senso e muita paciência.

Num governo a dois anos de qualquer quadrante político, o impacto da gestão colectiva do Executivo é mais importante do que a afirmação de um novo primeiro-ministro. A realidade temporal não deixa margem para um chefe de governo se afirmar, mas pelo contrário abre espaço de manobra para que o governo consolide as suas metas e o seu projecto.

O modelo de ciclos curtos deve ser sustentado numa filosofia social e económica muito simples: após a definição da investida estratégica que tem por base o Programa de Governo, todos os governantes – ministros e secretários de Estado – devem estar dispostos a Resolver os entraves ao progresso e a Desenvolver as políticas necessárias para atingir as metas estabelecidas, para desta forma promover a Motivação das pessoas e das empresas.

Portugal tem hoje uma estratificação organizacional ainda muito vertical - ultrapassa o próprio Japão - e apresenta a segunda mais alta necessidade de «controlo de incerteza» (Um estudo recente revela um verdadeiro pavor dos portugueses face a cenários de incerteza hierárquica, com regras pouco definidas). E o melhor exemplo é a actual percepção negativa que a Comunicação Social tem de Santana Lopes.

Torna-se por isso importante que as percepções sejam superadas, não através de um programa táctico - que apenas vai esquecer o problema por uns tempos - mas através de um modelo que analisa os factores estruturais que impedem a construção de uma imagem sustentada e que criem medidas eficazes para os combater. Não se deve matar o mensageiro, nem culpá-lo, mas deve-se trabalhar na origem, na mensagem.

Ora o papel do Governo num ciclo legislativo de dois anos, num Estado que se pretende actual, moderno e dinâmico, deve ser o de nutrir, alimentar as suas organizações e as suas pessoas. O Governo tem que ser visto como o «driver» para o crescimento nacional, para o aumento dos padrões de vida e para a criação de riqueza. E não para estar vocacionado para a gestão de conflitos.

E o principal papel do governo de ciclos reduzidos é o de premir o «gatilho» de um modelo, para accionar a força motriz, aplicando e coordenando um método de actuação comum a todo o País, acelerando assim o mecanismo da motivação.

Um governo num ciclo de dois, como é o de Santana Lopes, deve transmitir com clareza o que está a Resolver, o que está a Desenvolver e a que metas pretende chegar. Mesmo que os resultados não sejam visíveis já em 2006.

A gestão de um país apenas se torna eficaz se for eficientemente coordenada com os seus recursos e com as políticas centrais que visam aumentar o desempenho naquilo que poderemos designar como postura estratégica da Nação.

E é essa postura que deve ser comunicada, trabalhada.

As estratégias de comunicação precárias são as que não visam gerar riqueza e, nestes casos, os objectivos temporais limitam-se a maximizar o reconhecimento imediato, mas sem impacto. E não é isso que se pretende.

O objectivo principal deste modelo de comunicação deverá assentar num entendimento claro sobre o que se pretende fazer.

O que há então a fazer?

Em primeiro lugar é necessário integrar todas as políticas previstas no programa do governo num modelo de ciclo de dois a seis anos. Nos primeiros dois, o que se está resolver e a desenvolver e nos outros quatros um projecto de metas políticas, que deverá assentar acima de tudo ao nível partidário, no gabinete de estudos.

Em segundo lugar apresentar o programa de governo de forma coordenada, tendo em vista o modelo de desenvolvimento económico e social escolhido e traduzindo-o claramente num modelo de crescimento económico.

Em terceiro lugar adaptar o modelo Resolver - Desenvolver, que abarca todas essas medidas, de modo a criar uma imagem de conjunto da acção governativa.

E em quarto e último lugar criar a motivação necessária para que o modelo económico e social adoptado seja eficaz, e do agrado das portuguesas e dos portugueses.

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