Opinião
O terrorismo internacional e a rabugice nacional
A notícia era, pela sua própria natureza, vaga. Reunião de emergência do Gabinete Coordenador de Segurança para avaliar os recentes indícios de intenções terroristas contra Portugal. A carga de informação que realmente importa nessa história está, por raz
No Público on-line, no momento em que lhes escrevo, há dez comentários de leitores a essa notícia. Deles, só dois admitem a hipótese de que Portugal possa ser alvo de ataques terroristas islâmicos. Para o resto, tudo não passa de manobra governamental para desviar as atenções dos “reais problemas do país”.
Com todas as deformações que possam ter, os comentários de leitores de um jornal de referência na internet não deixam de ser um indício do que será o senso comum. E, no que se refere ao tema a que estes se referem, não vejo sinais de que seja outro o senso comum: para os portugueses, a ameaça terrorista islâmica não faz parte dos “reais problemas do país”. Julgamo-nos – porque insignificantes – imunes.
E não me surpreenderia se viesse a saber que boa parte dos que acusam Sócrates de manipular a ameaça terrorista para desviar as atenções dos reais problemas do país seja feita por alguns dos que acusavam Durão Barroso de pôr Portugal no mapa dos terroristas ao receber Aznar, Blair e Bush nas Lages. Se Portugal está ou não no mapa dos terroristas, se a ameaça é ou não real, não importa. O que importa é que a culpa seja do Governo.
Quanto à ameaça terrorista sobre Portugal, temo que seja maior do que supõe o senso comum. Podemos não ser geopoliticamente muito importantes mas somos um país cheio de afirmações monumentais de cristianismo e, em muitos casos, de um cristianismo que se impôs contra o islamismo (e não vou dar exemplos para não dar ideias).
Quanto à atitude do Governo, o que vi foram declarações para desdramatizar as notícias de que há indícios de acções terroristas planeadas para Portugal e a convocação de uma reunião do Grupo Coordenador de Segurança. Não deviam desdramatizar? Não deviam convocar a reunião? Então o que deveriam fazer diante de informações de que pouco conhecemos mas em que se inclui a presença, não confirmada, de dois terroristas paquistanesesem território nacional?
Se é para falar mal do Governo, alinho. E garanto-vos que tenho fôlego para umas boas horas de rabugice. E contra todos os governos. Mas para ter graça a coisa tem que ter por onde se lhe pegar. A ameaça terrorista é real (em qualquer lugar do mundo – e eu diria que Portugal ocupa um lugar específico e simbolicamente importante nesse mundo), o alarme deve ser evitado mas o cuidado deve ser tido. As declarações públicas de governantes foram todas no sentido de evitar o alarme, e a convocação da reunião do Gabinete Coordenador de Segurança era o cuidado mínimo – repito: mínimo! – a ter.
PS: Quem andar à procura de novos pretextos para falar mal de um governo deve visitar Oeiras. É assunto para anos.