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Opinião
27 de Março de 2008 às 13:59

Boicotar ou não – uma questão de eficácia

Consciente da minha insignificância e impotência, eis-me – diante das declarações do presidente do Parlamento Europeu, Hans Gert Pöttering (“se não houver sinais de diálogo com o Dalai Lama, creio que as medidas de boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim se

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A China que agora se nega ao diálogo, impede a entrada de observadores internacionais e reprime as manifestações pela independência do Tibete não é diferente da que foi escolhida para receber as Olimpíadas. Nada, quando a escolha foi feita, poderia fazer supor que as reacções chinesas às manifestações independentistas fossem diferentes. Com que autoridade, portanto, os que fizeram a escolha poderiam agora boicotá-la? Ponto para a participação.

O argumento com que os defensores da candidatura chinesa tentavam anular as ponderações de que não convinha levar os Jogos Olímpicos a um país notoriamente violador dos Direitos Humanos era o de que a defesa desses direitos na China só teria a ganhar com a realização dos Jogos lá. Ora, se isso não acontece... ponto para o boicote.

Na Grécia antiga as guerras eram suspensas para a realização dos Jogos Olímpicos. Essa é a expressão maior do espírito olímpico. Usar os Jogos Olímpicos para obter ganhos políticos, por mais justos que sejam, seria a negação do espírito olímpico. Ponto para a participação.

Ora, participar ou boicotar será sempre uma acção política – ou na defesa da luta pelos Direitos Humanos e do diálogo com o Tibete ou de isolamento dos que têm essas lutas na China. Ponto para o boicote.

O boicote seria ineficaz. Ponto para a participação.

Nem tudo é medido pela eficácia. Participar seria imoral, e não se tornaria menos imoral por ser o boicote menos eficaz.
Não?

É muito fácil e potencialmente leviano sermos muito correctos e preservarmos a nossa boa consciência, sem medir consequências, quando o que está em jogo não é a nossa pele. Imoral é deixar de considerar a eficácia da decisão que se venha a tomar. E eis por que não me consigo decidir: não sei se o boicote seria eficaz, simplesmente ineficaz ou mesmo contraproducente. É esse o dado que me falta para que se forme a minha (vã) convicção.

Convençam-me de que o boicote seria eficaz para levar respeito pelos Direitos Humanos à China e para fortalecer o diálogo para a solução da questão tibetana e (às favas a pureza do desporto, a trégua olímpica ou a autoridade de quem decide) serei todo pelo boicote; convençam-me de que o boicote seria contraproducente e (às favas os engulhos que o regime chinês causam) serei todo pela participação; se me convencerem de que seria inócuo, abstenho-me.

Do que não me conseguirão convencer é de que os interesses comerciais envolvidos nessa decisão, ou sequer o desporto em si mesmo, envolvam valores superiores ao valor que merece o respeito pelos Direitos Humanos e, sempre na perspectiva dos DH, a questão tibetana.

PS: Em Oeiras (Portugal) os humanos têm de andar no meio da rua porque os passeios estão tomados pelos carros.

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