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14 de Abril de 2008 às 13:59

O País e a situação – um olhar

Os portugueses que não se vêem afectados pelo que de mal ocorre no País sentem, via de regra, alguma tranquilidade, quando na comunicação social lhes é transmitido que o PIB teve algum crescimento ainda que reduzido. Porém, a evolução económica de um País

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Variar em dado ano, positivamente, PIB, pressão fiscal, investimento público, poupança, endividamento pode não impedir problemas futuros graves, se, ao invés, justiça, bem-estar, saúde, segurança, etc. estiverem a manifestar-se em deterioração. Interessaria, sobretudo, diagnosticar e apreciar bem as questões de ordem estrutural, pois nelas é que residem, fundamentalmente, as causas dos problemas, as razões profundas da situação económica subsistente, procurando, por aí, os caminhos para as mudanças necessárias.

Um elemento de ordem estrutural a salientar são os recursos existentes. Inventariar estes e potenciá-los é o que mais importa. Infelizmente, as estatísticas e as contabilidades nacionais enfermam de insuficiências que não favorecem  inventariações e diagnósticos. E, pior do que isso, são os esquemas e hábitos de apreciação das questões económico-sociais que se mostram desprovidos de mínimos éticos. Um exemplo: no período das guerras coloniais portuguesas dos meados do século passado apontavam-se crescimentos relevantes do PIB, acentuando-se que esse período foi de boa economia. Esquecido estava que um período de guerra provoca mortos, feridos, destruições de cultura e de bens materiais, realidades negativas que não são englobáveis, via de regra, nos fluxos do PIB. Nestes contam o que se produz e não, em geral, o que se destrói. Aliás, aquele período de guerra foi de regime ditatorial, de desânimo da população, de não acompanhamento da evolução mundial.

Em relação ao período actual também não manifestamos optimismos. Em crescendo, visibilizam-se fenómenos desagregadores - insegurança, mal-estar, mau funcionamento de tribunais, de hospitais, escolas e outros serviços de interesse colectivo. Em suma: má gestão, crise na ambiência política, falhas de democraticidade, corrupção e outros crimes. 

Não se augura que a situação do País possa facilmente melhorar. Como atrás se aludiu, os indicadores económicos tradicionalmente utilizados são mera referência e não explicação. Aliás, mesmo que o PIB se apresente quantitativamente mais elevado, qualitativamente pode não o estar1. O PIB até pode encontrar-se em crescendo significativo, mas a riqueza estar a esvair-se, a deslocalizar-se. Os países encontram-se sob os efeitos da actual globalização. Os comportamentos dos cidadãos de cada País, de modo geral, estão longe das actuações tradicionais tipicamente nacionalistas que enfermavam de males mas se preocupavam com exortações ao bem-comum, amor à Pátria, solidariedade, valores de honra, etc.

Portugal está mergulhado na globalização, perde mínimos de coesão interna e amplia deficiências estruturais. Muitos cidadãos não cooperam na solução dos problemas nacionais. São entre si adversários políticos e acima de tudo buscam seus interesses pessoais, do seu grupo e do seu partido, esquecendo o todo, o País e até o Mundo. Um exemplo do referido está no pouco civismo ou no egoísmo com que é encarado o tema ambiente/poluição. Pode concluir-se que a regra é cada um amanhar-se o melhor que conseguir. Delapidam-se  recursos. Muitos  não contribuem em nada para a produção, mas têm frenesim de ganhos e aproveitamentos, se calhar pensando  que qualquer dia já “não haverá nada para ninguém”. Indícios do que se afirma está no “fartar vilanagem”, nos escândalos de que a comunicação social vai frequentemente dando conta.

Oxalá nos enganássemos e se extinguissem os muitos défices estruturais existentes, os egoísmos exacerbados e as faltas de civismo de quase todos nós.

1 Este ponto foi examinado por nós noutra ocasião (aparece tratado no nosso livro Reincidências, pág. 174 a 176).

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