Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
18 de Fevereiro de 2008 às 13:59

Gestão e conhecimento

Saiu recentemente SITUAÇÃO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO EM PORTUGAL, de Maria Amélia P.N. de Almeida, edições Colibri. Trata-se de um relevante estudo (dissertação de doutoramento) sobre o momentoso problema da Gestão do Conhecimento. É um livro bem organiza

  • ...

É um livro bem organizado, com preocupações didácticas e finalidades de ordem pedagógica, útil para os académicos e também para os profissionais de gestão. Mostra aplicações para instituições estatais, universidades e empresas.

Quando estudo um trabalho procuro ampliar conhecimentos não só sobre o que nele é descrito mas também no que nele está implícito. Bom livro é aquele que permite repensar ou que inquieta. O trabalho da Professora Maria Amélia acentua bem que no mundo actual, desenvolvido e globalizado, os gestores têm de ampliar seus horizontes, metas e objectivos. Não só apreciar produções, vendas, valor acrescentado. A  responsabilidade social dos gestores impõe-lhes também contemplações interdisciplinares. Nas empresas, universidades, Estado debatem-se questões diversas, de ordem social, poluição, belicismo, ética, etc.

Buscam-se desempenhos mais sábios, norteados para o bem-estar colectivo, de felicidade humana, de bom ambiente, de preservação de recursos e de valores.Com o seu livro, a distinta Autora dá ensejos para reflexões novas. Faz ponderar que o conhecimento é agora mais facilmente apropriável, mas também nos põe a interrogar se as forças dominantes estarão a privilegiar valores éticos. E há casos de busca de conhecimento a aplicar em actividades ilegais, imorais, criminosas.

Procura-se felicidade, ganhos em dinheiro, em poder, em jogos. Compram-se árbitros e polícias e remuneram-se espiões e delatores.

Há buscas de eficácia e eficiência com desrespeito das pessoas. Um caso que me marcou quando ensinava gestão foi um discurso de MacNamara, ex-secretário de Defesa dos EUAN que dispunha de altos conhecimentos em matéria de gestão e que proclamava baixar os custos da então guerra do Vietname. Anunciava a eficácia das acções militares, mostrando custo unitário por vietnamita morto. Matava mais e mais barato.

No Iraque, os norte-americanos agora já não gastam a matar os iraquianos, que se matam entre si.

Um caso que está suscitando comentários em Portugal é o de gestores do BCP altamente remunerados e de competência reconhecida terem criado dezenas de offshores para onde eram enviados fundos, cujos custos de financiamento em Portugal reduziam o IRC e serviam para compras indirectas de acções próprias. Tais gestores acabaram por ser dispensados, mas foram-no com reformas milionárias e vitalícias, acrescidas de compensações de milhões por cessação dos mandatos.

Entende-se, pois, que é de reflectir que pode ser má a utilização e gestão do conhecimento.

Interessa igualmente alertar sobre a confusão frequente entre conhecimento e informação. Dando exemplos portugueses, temos o dos residentes nas áreas de Souzelas e de Outão que foram informados que a incineração dos resíduos hospitalares nos fornos das cimenteiras vizinhas era mau para a sua saúde. Comissões constituídas por cientistas dos mais credenciados repetidamente demonstraram que assim não era, mas os políticos fizeram crer o contrário. Os tribunais acabaram a decidir a favor do Estado Português, mas durante longos anos Portugal gastou milhões no transporte para a Holanda dos ditos resíduos, pagando depois outros milhões pela incineração em país muito mais povoado que Portugal e de menor dimensão.

Ainda outro exemplo é o do polémico fecho recente de serviços hospitalares à noite, que mantinham funcionários mas onde raramente apareciam doentes. Claro que poderiam aparecer e assim esses doentes teriam que ser assistidos em outro local menos ao pé da sua porta. Invocava-se que a centralização de recursos melhorava a qualidade e racionalização de serviços e gerava menos gastos. Houve reacções e invocações de economiscismo.

Havia informações e reacções organizadas. Houve também prejuízos de interesses instalados. Os funcionários da saúde dos postos que fecham perdem as funções de que estavam encarregados nas noites em que nada faziam, salvo dormir, mas gerando despesas de monta. Como ponderar? Atender aos custos suportados e aos serviços prestados? Depois, manter tudo na mesma ou alterar? Como informar? Como decidir? A resposta é “com conhecimento”.

Conhecimento é saber e saber não é fácil. Gerir bem conhecimentos impõe apreciações conjugadas de diversas ordens e prioridades. Dispõe-se actualmente de úteis tecnologias e metodologias. Obtêm-se e compilam-se dados com mais facilidade como também se elaboram cálculos de modos mais rápidos e seguros.

Não obstante continua a praticar-se o erro (errare humanum est). Carece-se de super-homens? Dantes falava-se no homem providencial.

Vive-se em democracia. É possível melhorar, alcançar “melhor gestão”, “melhor conhecimento”, não enveredando só pela “utilidade económica”. Deve atentar-se mais no ideal viável.

Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio