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24 de Abril de 2008 às 13:59

O Escorpião de Morin

Chegou para Portugal a hora da Verdade, como mais do que uma das nossas figuras políticas de proa, de bombordo e de estibordo têm dito, agora que o défice orçamental deixou de ser a nossa prioridade absoluta e ficaram a nu os problemas sérios da nossa eco

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Mas, meus queridos leitores, se chegou a hora da Verdade para Portugal, esta semana descobrimos que chegou a hora da Mentira para o PSD, pois é preciso fingir que o Partido está unido em torno de uma figura para evitar que o nosso engenheiro tenha outra maioria absoluta. O problema é consegui-lo, pois, para variar, várias figuras começaram por pôr o pescoço de fora e a apalpar terreno, o que é o ideal para dar uma ideia de união.

Olhando para isto de fora, como faz um homem de Ciência, não pude deixar de me apaixonar pela questão. É que, como dizia Edgar Morin, a política é a mais difícil e exigente das Ciências, pois nela não basta ter conhecimentos gerais, por serem gerais, nem tão pouco basta ter conhecimentos especializados, por serem especializados. Sendo a política um fenómeno social, depende em muito de factores individuais como a liderança ou carisma, pelo que as pessoas contam, sobretudo as pessoas que contam. E as suas características são muito importantes, pois se a capacidade para triunfar na política implica uma acção racional, a sobrevivência a curto prazo pode implicar acções avulsas e intuitivas e gerar irracionalidade, como o escorpião que pica a rã às costas de quem atravessa o rio, afogando os dois, pois essa é a sua natureza e não o pode evitar.

Comecei a olhar para o nosso panorama nacional e para os seus actores, como se diz nos dias de hoje em que a política é um teatro, e a pensar como tudo isto encaixaria: que figura tem as características indicadas para liderar a Oposição? E foi assim que me rendi aos trabalhos do egípcio Said Caza, que me levaram a ver tudo sob um novo prisma. Este nosso investigador, no seu livro “Upstairs, Downstairs or Elevator Politics – How to Get to the Top Job”, discorre sobre estratégias e modelos políticos de uma forma que assenta como uma luva na realidade nacional.

O primeiro modelo é o de “Island politics”, que consiste em isolar o país ou região, fazendo crer que os problemas nacionais ou regionais são específicos e que só uma estratégia própria de afirmação contra um vizinho prepotente ou que nos ameaça a identidade e autonomia é possível. Foi o modelo político da Albânia de Enver Hoxa, que viveu em autarcia, com custos em termos de nível de vida e eleições ganhas com quase 100% dos votos. Em Portugal foi desenvolvida uma variante, a “Banana politics”, cuja especificidade resulta de tudo funcionar ao contrário e de se fazer de conta que não é assim. Com efeito, é o “colonizado” que “explora o colonizador”, pois o dinheiro flui da “ameaça” para o “ameaçado” a título de compensações de não se sabe bem o quê e este último ameaça permanentemente com a autonomia, ameaça que toda a gente sabe que nunca será executada pois a perda económica seria terrível. Este é o modelo preferido de um putativo candidato à presidência do PSD, que – diz-se – iria balcanizar o País, o que é injusto pois a personagem em causa é homem de plateia, nunca de balcão.

Outro modelo seria o de “French politics”, também chamado de “Louis XIV politics” ou “Sun politics”. Neste modelo o protagonista considera-se no centro do Universo, tudo lhe sendo permitido e podendo fazer o que quiser. É o caso de um outro candidato, especialista na variante “Football politics” e grande artista nas fintas; infelizmente, de acordo com Said Caza, a experiência histórica mostra que acabam por se marcam golos na própria baliza e perder.

O terceiro modelo seria o de “Modern politics”, que consiste em fazer tudo ao contrário para dar uma ideia de independência de interesses partidários e de se tomarem decisões que não são orientadas apenas para eleições. O exemplo recente é o de Gordon Brown, primeiro-ministro inglês, que aboliu a taxa mínima de imposto de 10% para poder baixar a taxa geral de 22 para 20%, penalizando 5,3 milhões de famílias pobres, tradicionais eleitores do seu partido, o Trabalhista. Encaixa aqui um terceiro candidato – candidata – que aplicou este modelo no nosso País há poucos anos.

Qual dos três seria o melhor para nós, portugueses, hoje? Indubitavelmente o primeiro, o nosso homem da Madeira. Mesmo que por acaso não fosse o melhor político, seria seguramente o mais divertido. E para tristezas já basta.

Frederico Bastião é Professor de Teoria Económica das Crises na Escola de Altos Estudos das Penhas Douradas. Quando lhe perguntámos quem pensa que deveria ser o próximo líder do PSD, Frederico respondeu: “Perguntem no Patriarcado, e que seja quem Deus quiser.”

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