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12 de Maio de 2005 às 13:59

O envelhecimento precoce das políticas para a Juventude

Talvez seja oportuno repensar a lógica das políticas estabelecidas para a Juventude, agora que os seus intérpretes, em muitas situações, começaram a substituir a irreverência e o inconformismo, pelo fato e gravata ou o blazer cuidado.

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Vem de longe a preocupação das sociedades e dos Estados em enquadrarem os seus jovens, aqueles que vão despontando para a vida activa, sobretudo através das políticas educacionais e sociais mas também formativas e normativas.

Doutrinariamente, consoante os países, tradições, épocas e cotação dos valores, essa é uma das prioridades para a propagação e consolidação de ideologias e religiões, a capacidade de atrair os mais novos para uma certa visão das grandes causas da humanidade.

O Estado Novo para atingir esse objectivo, confiou na Mocidade Portuguesa e noutras organizações acessórias, apostando uma relação distendida com a Igreja Católica também para colher frutos da sua capacidade de atracção e integração desta faixa etária, o que, como se sabe, foi definhando à medida que o regime se esboroava.

«É proibido proibir», foi um dos slogans de Maio de 68, que perpassou fronteiras e uma época – anos mais tarde, já adultos e pais, muitos foram os que se entregaram de corpo e alma aos sonhos que comandam a vida quando da implantação da democracia em Portugal, mal se dando conta que naqueles anos vertiginosos despontava uma nova fornada de jovens, «os filhos da revolução».

Com a estabilização da democracia, normalizou-se a participação da juventude na vida política através da constituição das respectivas organizações partidárias, emergiu a sua natureza rebelde ou inconformista, das manifestações estudantis às grandes causas como a protecção do Ambiente e outras, mas também se recuperaram os antigos postulados libertários, de indiferença ou à margem das regras estabelecidas.

É neste contexto que se dá a integração europeia e com ela uma renovada atenção às questões da Juventude e sua tradução política, ganhando autonomia e peso próprio, que se exprime sucessivamente, ao nível de secretarias de Estado e de ministérios, mas também no poder local, nos municípios, com a individualização do pelouro, respectiva gestão política e a criação própria nas orgânicas municipais de estruturas para a Juventude.

Como acontece em situações idênticas, os novos desafios e a energia dos protagonistas associada, trouxe algo de novo, mas no essencial, as políticas para os jovens tiveram por base a junção de competências afectas a outros sectores, como o Ambiente, a Cultura, o Desporto, a Saúde e até as modernas tecnologias da informação, as podemos compartimentar na Ciência e/ou na reforma da Administração Pública.

Em rigor tudo isto era um pouco previsível, a necessidade da gestão política acompanhar a evolução das coisas, de criar em determinados momentos, modificações e rupturas, faz parte da sua essência.

Já é mais difícil, em jeito de primeira avaliação, concluir se é mais acertado dar às políticas um sentido transversal, por grandes áreas de intervenção ou segmentá-las em função dos grupos sociais e dos interesses.

Exemplificando de outra forma – se um município dispõe de um pelouro e serviços culturais, deverão todas as actividades relacionadas com esta temática estar concentradas neste sector, ou, porque coexistem com um pelouro e serviço de Juventude, as actividades culturais para esta faixa etária deverão ser programadas e desenvolvidas por esta estrutura, sobrepondo-se a vocação à aparente racionalidade?

Noutro registo – é aceitável um qualquer município prosseguir políticas de prevenção do consumo do álcool e de drogas, com especial incidência junto dos mais jovens, ao mesmo tempo que promove espectáculos para a juventude onde as bebidas alcoólicas jorram e o cheiro intenso no ar, não é do tabaco convencional?

Talvez seja oportuno repensar a lógica das políticas estabelecidas para a Juventude, agora que os seus intérpretes, em muitas situações, começaram a substituir a irreverência e o inconformismo, pelo fato e gravata ou o blazer cuidado, que o cinzentismo de uma carreira a construir aconselha e a que a opinião publicada começa a dar atenção crítica, na perspectiva da crescente profissionalização da política por elementos provenientes das juventudes partidárias que começam a ascender na vida pública em cargos de relevância, sem outra experiência ou atributos que não sejam os de uma vertiginosa carreira político-partidária.

Valerá a pena continuar a fazer mais do mesmo, perdidas as ilusões (se chegaram a existir) de que se cerceia ou doma os jovens conferindo-lhes importância política, ou será de apostar numa orientação menos fácil e efémera  mais exigente, sobretudo formativa, de projecção dos valores civilizacionais e da prática efectiva de cidadania, de preparação para os desafios do mercado de trabalho, conferindo maior responsabilidade e exigência às políticas educacionais e ao papel social das famílias?

Preparar o futuro, uma expressão recorrente dos políticos, não deve significar a nível local, a municipalização estrita de iniciativas e actividades; seguramente o contraponto, não é a distribuição fácil do dinheiro pelas «várias capelinhas», mas, tal como noutros sectores, apoiar iniciativas dos e para os jovens, com critério, mérito e progressão da qualidade.

Quando, por esse mundo fora, de diversas latitudes e regimes políticos, nos chegam exemplos objectivos de patriotismo dos mais jovens, quando é noticiado que os filhos de pais imigrantes oriundos do leste da Europa, obtêm as melhores notas nas escolas portuguesas porque esse é um imperativo da sua cultura e enquadramento familiar, e perante isso pouco mais se consegue rebuscar do que a distribuição em escolas, um pouco envergonhada, há anos atrás e sem sequência visível, de um Kit patriótico, então resta reagir a esta desoladora impotência que nos assola.

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