Opinião
O chumbo do "Bail Out" das Detroit 3
A minoria republicana no Senado ainda no poder em Washington bloqueou a proposta do Presidente George W. Bush para o "Bail Out" das chamadas Detroit 3, ou três grandes construtoras automóveis do Michigan: a General Motors, a Ford e a Chrysller.
A minoria republicana no Senado ainda no poder em Washington bloqueou a proposta do Presidente George W. Bush para o "Bail Out" das chamadas Detroit 3, ou três grandes construtoras automóveis do Michigan: a General Motors, a Ford e a Chrysller.
Os mercados asiáticos reagiram em queda e as principais praças europeias registaram perdas avultadas em consequência do chumbo do plano. O medo do aprofundamento da recessão é real.
Há aqui, por um lado, matéria política, e, por outro, matéria económica. Sob o primeiro prisma, parece claro que a votação evidencia o vácuo existente actualmente na Casa Branca. O próprio partido republicano constituiu uma minoria de bloqueio ("filibuster") a uma proposta do seu Presidente cessante. Isto diz muito da real influência de Bush na actualidade. Tendo sentido a mão forçada ao votar favoravelmente o plano de Henry Paulson em Outubro, o Partido Republicano não acatou uma segunda dose de idênticas instruções. Fundamentalmente, porque, percebe-se agora claramente, apenas o fez em Outubro para não comprometer as esperanças que ainda acalentasse na eleição de John McCain para a Presidência. No seu âmago, o republicano típico é um herdeiro de Reagan e este tipo de intervenção estatal repugna-o. Nesse sentido, o conservadorismo fiscal do GOP foi agora mais forte que a vontade de um Presidente desacreditado, em fim de funções e que muitos responsabilizam pelo colapso de 4 de Novembro.
O problema económico e social é multifacetado. Tendo sido conhecidos os números do desemprego na primeira semana de Dezembro, o Presidente Eleito veio reforçar a sua aposta num novo New Deal, que compreende um plano de obras públicas como não se via nos EUA desde os anos 1950. Travestido de Franklin Roosevelt e Dwight Eisenhower, Barack Obama busca, mediante um plano avultado de investimento público, criar 2.5 milhões de empregos até 2011. Verá agora as suas contas agravarem-se com o disparar do desemprego no Michigan, em caso de falência das Detroit 3. E, recorde-se, o Michigan já representa um dos estados com a mais alta taxa de desemprego nos EUA, superior a 9%, contra uma média nacional de 6,7%.
Dir-se-á que não foram os republicanos no Senado que condenaram as Detroit 3. Antes, que foi o seu modelo de negócios. O que é factual. O problema das construtoras automóveis do Michigan é anterior à actual crise económica e financeira, e apenas se relaciona com ela pela dificuldade acrescida das empresas em obterem financiamento bancário no contexto corrente em Wall Street. Mas o problema fundamental destas empresas passa por um modelo de gestão pouco flexível, herdado de outros tempos, com sindicatos de enormes dimensões e poder que conseguiram, por exemplo, colocar na estrutura de custos salariais das empresas pacotes de seguros de saúde de dimensão incomparável aos existentes na generalidade dos outros sectores da economia americana. Se a má gestão deve ser responsabilizada, no caso de empresas como a GM também há que ser frontal no apontar do dedo aos malefícios causados pela estrutura sindical.
Ademais, os únicos modelos lucrativos da GM são carros de grandes dimensões e SUV's, cuja procura caiu a pique com a recente escalada dos preços do petróleo. Os produtos oferecidos são desadequados face ao que é hoje a procura.
Resta esperar que o mercado de controlo empresarial funcione. Que alguma construtora (presumivelmente asiática?) se disponha a comprar e reestruturar estas empresas. O que significaria recompor e actualizar a sua gama de produtos oferecidos. Há pelo menos aqui uma oportunidade real para se promover, a partir do Michigan, o nascimento em grande escala da produção dos tais veículos pautados pela eficiência energética. Suspeito que seja nisso que Obama e a sua equipa de transição estejam a apostar.
Os mercados asiáticos reagiram em queda e as principais praças europeias registaram perdas avultadas em consequência do chumbo do plano. O medo do aprofundamento da recessão é real.
O problema económico e social é multifacetado. Tendo sido conhecidos os números do desemprego na primeira semana de Dezembro, o Presidente Eleito veio reforçar a sua aposta num novo New Deal, que compreende um plano de obras públicas como não se via nos EUA desde os anos 1950. Travestido de Franklin Roosevelt e Dwight Eisenhower, Barack Obama busca, mediante um plano avultado de investimento público, criar 2.5 milhões de empregos até 2011. Verá agora as suas contas agravarem-se com o disparar do desemprego no Michigan, em caso de falência das Detroit 3. E, recorde-se, o Michigan já representa um dos estados com a mais alta taxa de desemprego nos EUA, superior a 9%, contra uma média nacional de 6,7%.
Dir-se-á que não foram os republicanos no Senado que condenaram as Detroit 3. Antes, que foi o seu modelo de negócios. O que é factual. O problema das construtoras automóveis do Michigan é anterior à actual crise económica e financeira, e apenas se relaciona com ela pela dificuldade acrescida das empresas em obterem financiamento bancário no contexto corrente em Wall Street. Mas o problema fundamental destas empresas passa por um modelo de gestão pouco flexível, herdado de outros tempos, com sindicatos de enormes dimensões e poder que conseguiram, por exemplo, colocar na estrutura de custos salariais das empresas pacotes de seguros de saúde de dimensão incomparável aos existentes na generalidade dos outros sectores da economia americana. Se a má gestão deve ser responsabilizada, no caso de empresas como a GM também há que ser frontal no apontar do dedo aos malefícios causados pela estrutura sindical.
Ademais, os únicos modelos lucrativos da GM são carros de grandes dimensões e SUV's, cuja procura caiu a pique com a recente escalada dos preços do petróleo. Os produtos oferecidos são desadequados face ao que é hoje a procura.
Resta esperar que o mercado de controlo empresarial funcione. Que alguma construtora (presumivelmente asiática?) se disponha a comprar e reestruturar estas empresas. O que significaria recompor e actualizar a sua gama de produtos oferecidos. Há pelo menos aqui uma oportunidade real para se promover, a partir do Michigan, o nascimento em grande escala da produção dos tais veículos pautados pela eficiência energética. Suspeito que seja nisso que Obama e a sua equipa de transição estejam a apostar.
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