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"No final do dia, vamos ver se esta COP foi um êxito ou não medindo os dólares e os euros". A opinião é de Jorge Moreira da Silva, nomeado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como diretor executivo da UNOPS - United Nations Office for Project Services. Na inauguração do pavilhão de Portugal na COP 29, em Baku, no Azerbeijão, o responsável diz que "o sucesso do evento se vai medir apenas por uma coisa: saber se a meta que até agora tem estado na mesa, durante os últimos 20 anos, de financiamento climático, que é 100 mil milhões de dólares por ano, de apoio do Norte ao Sul, vai ser revista por uma outra meta que nos coloque nos biliões de dólares".
Para Jorge Moreira da Silva, os números não mentem: para limitar o aquecimento global a 1,5°C, temos de ter naturalidade carbónica em 2050, e para isso precisamos de 42% de redução das emissões até 2030, o que exigirá 6 triliões biliões de dólares de investimento por ano, sendo que neste momento estamos com 1,2 biliões. "E são precisos ainda 2,4 biliões para os países em desenvolvimento, quando estes países neste momento têm beneficiado apenas de 100 mil milhões de ajuda pública", explica.
E alerta: "Podemos fazer discursos muito bonitos a favor da descarbonização, da promoção das renováveis, mas se na hora da verdade os países do Norte - que são ricos -, não apoiarem os países do Sul na descarbonização, não vai funcionar. Não vamos conseguir travar o aquecimento se não houver solidariedade internacional. É um investimento na ação climática global".
Na intervenção que fará na COP 29, na próxima semana, a ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, vai defender que o financiamento climático seja repartido por mais carteiras, e não pago apenas pelos mesmos de sempre.
"Queremos que qualquer aumento de financiamento global seja acompanhado de um alargar do número de países que contribuem. Não se compreende que países como a China ou a Arábia Saudita continuem a ser considerados países em desenvolvimento com direito a receber financiamento de ajuda para as alterações climáticas. É uma posição que a União Europeia traz para esta COP, e nós estamos perfeitamente alinhados", disse aos jornalistas.
Questionada sobre como é que a China está a reagir a essa exigência, respondeu: "É sempre muito difícil. Há sempre o argumento da dívida histórica, mas a dívida histórica já está, no caso da China, quase a ser saldada, só com a quantidade de emissões que o país emite. E países como a Arábia Saudita, com um grande poder económico, devem ajudar no desenvolvimento dos países mais pobres, nomeadamente os países africanos, que são os que mais sofrem os efeitos das alterações climáticas".
Na opinião da ministra, mais do que aumentar o valor do financiamento, é importante aumentar o número de quem contribui, porque cria um "sistema que abre uma grande perspetiva para o futuro, porque são países com grande capacidade financeira de ajudar os outros. Seria o resultado mais importante", rematou.
Quando aos EUA e à falta que o seu poder económico pode fazer, a ministra diz que é melhor esperar para "ver o que é que vai acontecer".
"Os Estados Unidos são grandes parceiros de Portugal. Vamos ver o que é que acontece, não estou assim tão pessimista. É preciso ter esperança", disse.
Bárbara Silva, na Cop 29, em Baku
(A jornalista viajou no âmbito da iniciativa Negócios Sustentabilidade 20|30)