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Investigadoras portuguesas reinventam aplicações para o abacate na saúde e indústria

Académicas da Universidade de Aveiro descobriram propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias nos resíduos do abacate Hass. Objetivo é promover economia circular.

10 de Abril de 2025 às 17:25
Eduardo Leal/Bloomberg
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Casca e caroço do abacate, geralmente descartados como resíduos, podem ser aproveitados como fontes de compostos bioativos com benefícios comprovados para a saúde e com potencial para diversas aplicações industriais. A conclusão é de uma equipa de investigadoras da Universidade de Aveiro (UA), que quer dar um novo destino a estes subprodutos, apostando na sua valorização através da produção de ingredientes de alto valor para as indústrias alimentar e cosmética.

Os resultados do estudo focaram-se no abacate Hass — a variedade mais consumida em todo o mundo — e revelaram que tanto a casca como o caroço apresentam biomoléculas com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Em destaque estão as gorduras benéficas, como os ácidos gordos essenciais ómega-3 e ómega-6, além de lípidos mais complexos que ajudam a transportá-los no organismo.

"Pela primeira vez, identificámos lípidos ricos em ómega-3 e ómega-6 no abacate Hass", afirma Bruna Neves, investigadora do Laboratório de Lipidómica do Departamento de Química da UA e autora principal do estudo. "A casca apresenta uma maior concentração de gorduras ómega-3, enquanto o caroço é particularmente rico em ómega-6", explica. Ambos os subprodutos contêm ainda ácido oleico, a mesma gordura presente no azeite, associada a vários benefícios para a saúde.

Segundo a investigadora, o consumo de compostos com estas características pode ter impacto na prevenção de doenças cardiovasculares e neurodegenerativas, ao promover o bom funcionamento do coração, a saúde cerebral e ao retardar o envelhecimento precoce. "Além disso, são também aliados importantes para a saúde da pele", sublinha.

A investigação aponta a casca e o caroço como ótimos candidatos à formulação de ingredientes bioativos em produtos alimentares e cosméticos. Os compostos extraídos podem ser usados como antioxidantes naturais, substituindo os sintéticos, aumentando a vida útil e a estabilidade de alimentos e cremes. Podem ainda funcionar como emulsionantes, contribuindo para o desenvolvimento de soluções mais ecológicas nestes setores.

Há ainda a possibilidade de aplicação em suplementos, como óleos, cápsulas ou ampolas, que forneçam ingredientes ativos que melhoram o valor nutricional e as propriedades dos produtos. "Ao reaproveitarmos estes subprodutos, não só evitamos o desperdício e ajudamos o ambiente, como também promovemos uma economia circular e sustentável", defende Bruna Neves.

O estudo agora divulgado integra uma das linhas de investigação do projeto de doutoramento de Bruna Neves, intitulado "Valorization of Portuguese AVOcado as a source of high added-value BIoactive lipids using OMICS-based approaches". A investigação prossegue agora com o objetivo de encontrar formas práticas de integrar estes compostos em produtos inovadores que cheguem ao mercado.

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