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Apesar de um aumento global na recolha seletiva de embalagens, Portugal mantém-se em risco de não cumprir as metas de reciclagem definidas para 2025, avisa a Sociedade Ponto Verde (SPV). Nos primeiros três meses do ano, foram recolhidas mais de 116 mil toneladas de resíduos de embalagens — um crescimento de 4% face ao mesmo período de 2024 —, mas o desempenho continua aquém do necessário, especialmente no que diz respeito ao vidro.
De acordo com dados do SIGRE - Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens, a recolha de vidro estagnou, com apenas 48.568 toneladas encaminhadas para reciclagem. Este número está muito abaixo da meta nacional de 70% para 2025, sendo que em 2024 apenas cerca de 50% das embalagens de vidro foram efetivamente recicladas.
"Se os produtos chegam ao mercado e o vidro não é devidamente contabilizado na recolha seletiva, este está a ser desperdiçado – e com ele, a oportunidade de alimentar a economia circular", alerta Pedro Simões, diretor-geral da Novo Verde, entidade gestora de resíduos de embalagens. A urgência em inverter esta tendência é partilhada pela SPV, cuja CEO, Ana Trigo Morais, sublinha a necessidade de uma "maior articulação e colaboração entre todos os agentes da cadeia de valor para tornar o sistema mais eficiente".
A SPV anunciou um investimento de 600 mil euros em projetos de comunicação no âmbito do programa "Juntos a Reciclar ++", com foco especial no canal HORECA, um dos sectores que mais contribui para o consumo de embalagens de vidro fora de casa.
O cenário é ainda mais desafiante tendo em conta o crescimento do turismo, com a aproximação do verão. O aumento de visitantes traduz-se num acréscimo significativo da produção de resíduos, tornando essencial a implementação de soluções tecnológicas inovadoras que melhorem a recolha seletiva, sobretudo nas zonas de maior pressão turística.
Entre os restantes materiais, os dados do SIGRE mostram um desempenho mais positivo: foram recicladas 38.157 toneladas de papel/cartão (+5%), 20.425 toneladas de plástico (+7%) e 467 toneladas de alumínio (+5%). No entanto, registou-se uma quebra de 5% na recolha de embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL), com apenas 2.247 toneladas recicladas.
Para apoiar a mudança, Novo Verde e Lipor lançaram o Projeto Vidro +, desenvolvido com a metodologia do Instituto Kaizen. A iniciativa, que está a ser testada na região Norte, visa melhorar a quantidade e qualidade do vidro recolhido, tanto em ecopontos como nos sistemas porta a porta.
Os custos associados à recolha seletiva também aumentaram significativamente de 26,4 milhões de euros, no primeiro trimestre de 2024, para 47,7 milhões, em 2025, refletindo a aplicação de novos valores de contrapartida definidos pelo Ministério do Ambiente e Ministério da Economia. Com mais recursos disponíveis, espera-se que os sistemas municipais e multimunicipais consigam reforçar os seus serviços e impulsionar a reciclagem no território nacional.
Mas o tempo aperta. Para cumprir as metas de 2025, Portugal precisa de recolher seletivamente 65% de todas as embalagens colocadas no mercado. Sem uma mobilização coordenada de consumidores, indústria, municípios e entidades gestoras, o país continuará a ver escapar-se uma parte fundamental da sua estratégia de sustentabilidade.