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10 de Janeiro de 2006 às 13:59

O cheque tecnológico

Pirandello mostrou à sociedade a peça «Seis Personagens à Procura de um Autor». Foi um escândalo. Hoje esse tema é a dúvida do país. Na sua criação parte dos personagens diziam poucas coisas.

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Duas não diziam mesmo nada. Outros guardavam a hegemonia da palavra. As eleições presidenciais parecem-se com uma peça de Pirandello: poucos dizem coisas com sentido e os restantes têm medo de dizer o que as sondagens de opinião podem desmentir. O poder tem de criar ilusões. Sem isso ele é um produto branco de supermercado. Mas, num momento de confusão absoluta sobre o futuro do país, que se pode fazer? Veja-se um pequeno exemplo. A Microsoft chega a Portugal e leva os melhores alunos de «software» de uma universidade portuguesa. É um motivo de orgulho. Mas ficamos a pensar: se ficassem cá, após a licenciatura, o que lhes aconteceria? Indo, regressarão alguma vez com os novos conhecimentos? Face a isso o choque tecnológico do governo Sócrates serve para quê? Os presidentes não governam. Mas podem alertar para temas destes. Num país que precisa de massa crítica como de presunto decente para a boca a fuga, ainda que para estágio, dos seus melhores alunos é um sinal dos nossos pés de barro. Queremos a qualificação. Não temos ainda meios para a garantir.
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