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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 28 de Novembro de 2018 às 18:27

Obrigado por este bocadinho

O Pulo do Gato viveu no melhor dos tempos prometidos e no pior dos tempos oferecidos. Foi um prazer. Agora é tempo de adeus. Obrigado por este bocadinho.

Os gatos, dizem, têm sete vidas, ou mais. Ou menos. Ou têm, simplesmente, as vidas que querem ter. Este teve uma existência longa. Observou várias vidas deste país e ronronou, com alguma ironia, sobre os personagens que se olham ao espelho e que julgam estar a ver o poder eterno. Como eles, este gato também esgotou a sua existência. Nasceu em 2004, quando o então director do Negócios, Sérgio Figueiredo, me desafiou para escrever uma pequena crónica na última página do jornal. Aceitei, sem saber em que floresta negra estava a entrar. Foi, desde então, como diria Charles Dickens, o melhor dos tempos ou o pior dos tempos. Fiquei refém de escrever todos os dias. Socorri-me da ironia ou do humor para escrever sobre a política e os seus personagens de momento. Foram mais de 14 anos, uma vida de gato.

 

Quero, naturalmente, agradecer aos sucessivos directores do Negócios que permitiram este meu espaço de liberdade criativa e crítica. Ao Sérgio Figueiredo, ao Pedro Santos Guerreiro, à Helena Garrido, ao Raul Vaz e ao André Veríssimo, o meu sincero obrigado. Queria agradecer também aos que me leram, me deram sugestões e me criticaram, independentemente de concordarem ou não com o que escrevia. É do confronto de ideias que nasce a liberdade, a democracia política, económica, social ou cultural.

Neste tempo de guerras civis nas redes sociais, em que o Facebook e o Google lêem por nós, é bom ler e escrever. O Pulo do Gato tentou, modestamente, seguir o que dizia G. K. Chesterton: "o telescópio empequenece o universo, e o microscópio aumenta-o". Não é preciso procurar muito a crise política e económica deste país. Ela alimenta-se da sua crise cultural. É aí que começa a sua fragilidade. Só se resiste a esse cinzentismo com alegria ou ironia. O Pulo do Gato viveu no melhor dos tempos prometidos e no pior dos tempos oferecidos. Foi um prazer. Agora é tempo de adeus. Obrigado por este bocadinho.

 

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